Meu quintal está começando a florir...
- Você deve ter sangue cigano nas veias!
Era o que diria minha mãe, com certeza se estivesse viva e eu lhe contasse que vou me mudar novamente.
Não está viva, mas posso ouví-la. Ouço, mas não compreendo. A menos que ela estivesse a confessar que esteve com um cigano, ao invés de meu pai, o que não seria possível, porque sou a cara dele. Do meu pai, claro!
Então, agora me lembro...era ela! Ela, a minha mãe, é que tinha alma cigana!
- Devo ter sido cigana na outra encarnação" me lembrei de ouví-la comentar. E tudo porque gostava de brincos e colares. eu também. Me sinto nua, sem brincos! Esqueço documentos, celular, mas não os brincos!
E eles tem de ser grandes, mesmo apesar de minha pequena estatura. Com a idade, diminuí alguns centímetros tanto dos brincos, quanto de mim mesma. A estatura não foi uma escolha, e os brincos, foi um caso de bom senso. Então tá, herdei uma alma cigana. Não é só isto, pois sei que vida é movimento, e às vezes mudo de residência porque é ela que me move!
Se uma idéia de mudança se apresentava como necessária ou solução para uma vida melhor, apesar do cansaço que eu sabia que iria enfrentar, não costumava me opor a ela. Sou cheia de esperanças como semente e, a cada mudança levava junto o potencial. Ao contrário de me opor, me perguntava o que eu tinha ali que justificasse não arredar o pé de onde me encontrava. Nada para mim é mais importante do que certa liberdade para sair de uma situação que cristaliza num ponto que mata a criatividade ou o prazer e alegria, e juntamente com isto,nada é mais importante do que algumas poucas pessoas com as quais eu vislumbre que possamos viver uma verdadeira relação de intimidade, amizade e carinho - é isto que me traz bem-estar- e assim, sigo por este caminho, como prioridade absoluta. Se para isto é preciso mudar, então, mudemos! Ah, mas é preciso coragem, porque dá muito trabalho embalar todas as cerâmicas, tintas e coisas que eu mesma embalo, por ter tido a experiência de não poder confiar nos plásticos bolha das empresas de mudanças..rs.... Deste modo, logo vou me desapegando do que tenho de deixar para trás.
Contudo, quando a gente vai amadurecendo, acho que a alma cigana vai desejando se aquietar. E há recantos que ficarão em meu coração como lugares encantados. Um deles é a praia dos Ingleses, onde está minha casa e meu filho mais novo com a mulher. Um paraíso do qual saí por necessidade extremíssima! Outro lugar é esta casa onde moro agora e a cidade de Sorocaba. Que cidade maravilhosa esta para se morar!
Estou escrevendo esta crônica, neste momento, no quintal florido onde, em vasos, tenho inúmeras árvores frutíferas, flores, trepadeiras. Novamente vou precisar podá-las para serem transportadas. As flores vão sofrer. As trepadeiras se transformarão em pequenos tocos aparentemente secos, mas guardarão em si, como eu guardo em mim, o milagre da fé na possibilidade.
Penso que há pessoas e locais que a gente jamais vai esquecer e leva-os no coração, para sempre. Desconfio que, minha alma nômade, deseja encontrar um lugar e nele, companhia para colher com tranquilidade os frutos do quintal, para poder vermos juntos finalmente, a parreira produzir belos cachos de uva. E, para isto , é preciso permanecer...
Texto e fotos: Vera Alvarenga
- Você deve ter sangue cigano nas veias!
Era o que diria minha mãe, com certeza se estivesse viva e eu lhe contasse que vou me mudar novamente.
Não está viva, mas posso ouví-la. Ouço, mas não compreendo. A menos que ela estivesse a confessar que esteve com um cigano, ao invés de meu pai, o que não seria possível, porque sou a cara dele. Do meu pai, claro!
Então, agora me lembro...era ela! Ela, a minha mãe, é que tinha alma cigana!
- Devo ter sido cigana na outra encarnação" me lembrei de ouví-la comentar. E tudo porque gostava de brincos e colares. eu também. Me sinto nua, sem brincos! Esqueço documentos, celular, mas não os brincos!
E eles tem de ser grandes, mesmo apesar de minha pequena estatura. Com a idade, diminuí alguns centímetros tanto dos brincos, quanto de mim mesma. A estatura não foi uma escolha, e os brincos, foi um caso de bom senso. Então tá, herdei uma alma cigana. Não é só isto, pois sei que vida é movimento, e às vezes mudo de residência porque é ela que me move!
Se uma idéia de mudança se apresentava como necessária ou solução para uma vida melhor, apesar do cansaço que eu sabia que iria enfrentar, não costumava me opor a ela. Sou cheia de esperanças como semente e, a cada mudança levava junto o potencial. Ao contrário de me opor, me perguntava o que eu tinha ali que justificasse não arredar o pé de onde me encontrava. Nada para mim é mais importante do que certa liberdade para sair de uma situação que cristaliza num ponto que mata a criatividade ou o prazer e alegria, e juntamente com isto,nada é mais importante do que algumas poucas pessoas com as quais eu vislumbre que possamos viver uma verdadeira relação de intimidade, amizade e carinho - é isto que me traz bem-estar- e assim, sigo por este caminho, como prioridade absoluta. Se para isto é preciso mudar, então, mudemos! Ah, mas é preciso coragem, porque dá muito trabalho embalar todas as cerâmicas, tintas e coisas que eu mesma embalo, por ter tido a experiência de não poder confiar nos plásticos bolha das empresas de mudanças..rs.... Deste modo, logo vou me desapegando do que tenho de deixar para trás.
Contudo, quando a gente vai amadurecendo, acho que a alma cigana vai desejando se aquietar. E há recantos que ficarão em meu coração como lugares encantados. Um deles é a praia dos Ingleses, onde está minha casa e meu filho mais novo com a mulher. Um paraíso do qual saí por necessidade extremíssima! Outro lugar é esta casa onde moro agora e a cidade de Sorocaba. Que cidade maravilhosa esta para se morar!
Estou escrevendo esta crônica, neste momento, no quintal florido onde, em vasos, tenho inúmeras árvores frutíferas, flores, trepadeiras. Novamente vou precisar podá-las para serem transportadas. As flores vão sofrer. As trepadeiras se transformarão em pequenos tocos aparentemente secos, mas guardarão em si, como eu guardo em mim, o milagre da fé na possibilidade.
Penso que há pessoas e locais que a gente jamais vai esquecer e leva-os no coração, para sempre. Desconfio que, minha alma nômade, deseja encontrar um lugar e nele, companhia para colher com tranquilidade os frutos do quintal, para poder vermos juntos finalmente, a parreira produzir belos cachos de uva. E, para isto , é preciso permanecer...
Texto e fotos: Vera Alvarenga