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domingo, 8 de janeiro de 2012

A história dos rabinos e eu...

Andam me contando histórias..e elas me fazem pensar.
A daquele anjo, por exemplo,que levou 4 rabinos ao céu, onde eles contemplaram algo tão maravilhoso que ao descer do Paraíso para a terra novamente...
... o primeiro, após ter visto tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final de seus dias. ( e bem assim estava eu, há pouco tempo, espumando de raiva e me sentindo culpada por isto). Que destino cruel o dele. Não quero isto pra mim.
... o segundo rabino encarou tudo com cinismo:  - -  
- "Ah, eu só sonhei com tudo, só isto, nada aconteceu de verdade. Foi só sonho!" ( que pena! eu bem pensei assim também. Nunca pensei que seria cínica na minha vida, mas algumas vezes é uma saudável opção agir como a raposa que diz - as uvas estavam verdes! outra, que pelo cinismo se salva da loucura e se cura da raiva.)
... o terceiro passou a falar incessantemente sobre o que havia visto, demonstrando sua total obsessão e assim, perdeu-se e traiu sua fé. ( Assim diz a história. Eu penso que tudo o que ele sentiu pode ter sido tão grandiosamente simples e maravilhoso que ele não podia conter dentro de si. Contudo, a obsessão talvez tenha sido a de continuar a desejar, e desejar colocar tudo na realidade palpável. O que não seria erro, se fosse possível. Afinal depois que nos inspiramos, e foi assim comigo, a gente quer trazer à realidade, e dar a ela um maior sentido.)
... Bem, o quarto rabino, este era poeta e usou toda a sensibilidade despertada nele, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra, elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas no céu. E daí em diante passou a viver melhor.
  Pensei sobre este rabino em particular.Como ele me lembra o que eu fui e fiz desde o começo de meus tempos, desde menina quando a sensibilidade e um amor puro transbordavam de mim. E me lembrei que, chega um dia em que, na maturidade, a gente quer ver transformada a realidade que nos toca de perto, e quer sentir o amor chegar de fora pra dentro, e nos tocar como milagre surpreendente. E os olhos vêem o mundo de outra forma. Então, após decepcionar-se e depois quase tocar os céus por instantes, a gente fica como os 3 rabinos anteriores, esquecendo-se do que é ou não sabendo mais como sê-lo! Isto aconteceu comigo, sem dúvida!
   Ainda mais me convenço de que..." diante do que é o sentimento do amor, todo gesto que não vem inspirado por ele, e tudo o que não é mais o amor, nos parece sem vida ou grotesco!"
  Sabe de uma coisa? Esta história me lembrou que preciso voltar a ser poeta! ainda que esta história não tenha me ensinado como me conformar com o andar sobre pedras, quando podia estar deitada na relva macia de um jardim florido que vislumbrei lá no paraíso....
 
texto: Vera Alvarenga
foto retirada do Google, onde não estava nomeado o autor.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dia das crianças...

Amanhã é dia das Crianças. Estava lembrando de quando era uma delas. Tinha 2 irmãos mais velhos que podiam brincar na rua, eu não, pois era menina e morávamos em São Paulo! Meu pai trabalhava no Hospital das Clínicas, um dos responsáveis pelo Setor de Custos daquela imensidão. Pessoa simples, carinhosa, humanitária, ensinou-me que um sorriso sincero era algo bom a oferecer ao cumprimentar as pessoas, naquele ambiente onde elas estavam preocupadas ou com dor. Sua ambição parecia se resumir ao viver em paz e tranqüilidade, poder escrever suas poesias e pescar, de vez em quando. Além disto, às vezes pegava o carro e no domingo dizia: - Vamos até o alto da serra, comer pão de semolina com mortadela...e lá íamos nós. Adorava o miolo daquela enorme fatia de pão - era uma delícia.
Minha mãe, também trabalhava fora e embora não muito afeita a carinhos físicos, era humanitária, ajudava pessoas que chegavam para atendimento no INPS,vindas de outras cidades, sem dinheiro para um lanche, às vezes. Animada, ambiciosa embora não em exagero, social, agitada, não esquecia de presentear aniversariantes, dizendo que uma data especial não podia passar em branco. Ensinou-me, com seu exemplo, sobre a disciplina, a força de vontade e persistência. Dizia que a ambição é necessária para um futuro mais seguro e que a vaidade era fundamental...neste último quesito eu fui uma péssima aluna, mas aprendi por observá-la, a importância nos apresentarmos bem socialmente ou no trabalho. Ambos tinham “caráter”,princípios dignos e eram honestos. Tive sorte em ter pais como eles.
  Fui feliz na infância. Nenhum grande trauma, nenhum drama. O que me faltou? Hummm... bicicleta, piano, oportunidade de estudar ballet. Dizem que eu dançava bem, desde pequenina. Tais faltas materiais fizeram parte do aprender a lidar com frustrações, mas, na verdade, não me lembro de frustrar-me por muito tempo, inventava outra coisa pra fazer, como tocar violão, e com ele, compunha minhas músicas. Sentia-me um pouco só, mas com isto me habituei a ficar bem comigo mesma. Quando tinha quase 8 anos nasceu minha irmã, para mim uma boneca viva, e eu adorava ajudar a empregada a tomar conta dela na ausência de minha mãe durante o tempo que ficava no trabalho. O fato de viver numa casa com quintal onde  permanecia horas sozinha, fez com que eu desenvolvesse  a capacidade de imaginar e criar, e também a de concentrar-me e entrar fundo no que estava fazendo.
Amadureci cedo, aos 10 anos sabia fazer bolo, cuidar de afazeres na casa e fiquei “mocinha”. A criança (contando com o periodo da adolescência inclusive) que ainda vive em mim, é crédula, ingênua, tranquila, feliz, criativa, “excessivamente” comportada, confiante em si em termos..rs.. e romântica. Foi no colégio das freiras quando criança, que recebi minhas primeiras asas de anjo... Hoje não sou mais anjo, mas guardo as asas e vôo com elas, sempre que posso por alguns minutos, para lugares onde recarrego baterias...rs..
  Tudo foram flores?? Não. Honestamente, gostaria que meu pai não tivesse se separado de minha mãe, que tivessem sido felizes juntos até o fim, sentimos muito a falta dele e ele a nossa. E, sobre minha mãe, gostaria que tivesse sido mais incentivadora, que fosse menos crítica e mais carinhosa. Contudo, apesar do amor que sinto por meus filhos, sei que não terei preenchido todas as suas expectativas. Somos todos humanos, temos falhas e necessidades. Penso que as pessoas de minha geração desejam que suas crianças brinquem mais e vivam por maior tempo a sua infância. Acho bom. Contudo,o que penso fazer falta realmente, é um olhar atento e carinhoso para o que a criança é e sente...hoje  me assusta um pouco o excesso de estímulos, brincadeiras e brinquedos, pois noto que isto não lhes permite desenvolver a capacidade de criar a partir do pouco, ou a se concentrar pelo menos até o final de uma brincadeira. Então, o desafio hoje, acho que é o concentrar-se apesar do excesso e filtrar o que é bom, do muito que chega. A criança de hoje talvez tenha mais trabalho que nós...
A criança que existe em mim saúda a criança que existe em cada um de vocês. 

quarta-feira, 2 de junho de 2010

- " Uma segunda chance..."

Eram um casal comum, com uma história de desafios e batalhas vencidas juntos,como tantos outros.
   Uma vez...entraram em crise. Ela principalmente! Porque, para ele,tudo estava bem,com exceção do fato da companheira estar assim um tanto indelicada,impaciente,reclamando de tudo e contestando suas idéias,o que o desagradava bastante. Ultimamente ele se via obrigado a falar com ela secamente ou deixá-la falando sòzinha. Virar as costas,sair de perto,foi a melhor alternativa para evitar discussões e parece que ela não queria compreender,que ele só estava querendo evitar ouvir a mulher menosprezar a si mesma, na frente dele, como se não tivesse valor. Claro que ela tinha valor para ele! ele a amava! Contudo, ela não queria entender que poderia evitar tudo isto facilmente, voltando a agir como antes. Por que sua mulher teimava em cometer o mesmo erro? Ele fora franco,avisara que não gostava daquele jeito dela perguntar sôbre tudo e colocar em dúvida suas convicções,o que o aborrecia muito...mas,fora isto,tudo estava como sempre, o que significava que estava tudo bem.
   Para ela, não. Os sentimentos estavam à flor da pele. A impaciência surgia disfarçando um outro sentimento,muito mais forte,que ela tinha medo de enfrentar. Até o dia que, para surpresa sua, este sentimento apareceu assim, desnudado - uma visão nua e crua do que se passava dentro de si mesma - o motivo que fazia ferver um caldeirão interno,que ela temia, pudesse transbordar, a qualquer momento. Este sentimento a assustava. Será que esta decepção vinha porque ela é que havia esperado demais, do outro?
   A raiva era algo muito feio para seus padrões de beleza. Não queria encará-la, grudada em seu prórpio rosto e, conviver com ela no dia a dia, nem pensar! Entretando o sentimento já se dera a conhecer, e sem nenhum pudor! Ela já o havia reconhecido ali, escondido por debaixo da indelicadeza nas palavras que brotavam de sua própria boca,cheias de doloridas acusações,sem mesmo que ela pudesse engolí-las, antes de serem proferidas. E logo, estas acusações se transformaram em auto-flagelo, porque ela não se permitia direcionar toda esta raiva para ele, o homem que amara acima de tudo e de todos,acima dos próprios filhos, de certo modo. Todos que os vissem juntos,sempre pensavam que estavam bem, que conversavam, mas ela sabia que isto ocorria quando ela guardava sua espontaneidade para si, e falava principalmente dos assuntos que ele queria ouvir. Então, finalmente, todo aquele impulso que começara a se direcionar a uma atitude decisiva de auto-afirmação, a uma reação enfurecida de auto-preservação,voltava-se contra ela própria.
   Não era certo sentir raiva de um homem trabalhador,responsável,que não gritava com ela,que já sofrera na infância e vencera na vida,exatamente por ser assim corajoso, briguento,dominador,crítico,forte. Mas ele precisava ser isto tudo com ela, que sempre fizera tudo para agradá-lo? Ela devia estar errada...talvez por não ter sofrido o bastante,por não saber como a vida poderia ser dura...era ela que deveria ceder e mostrar-lhe mais uma vez, outra forma de demonstrar amor? Onde estaria sua espiritualidade,tudo que acreditava,se não pudesse compreender e aceitar as diferenças no outro? Assim, sem perceber,começou a acostumar-se ao processo de culpar-se, uma vez que, teve a pretensão de realizar a tarefa que cabia aos dois. Passou a ver-se como a mais vil criatura,cansada,sem forças,covarde,um anjo que perdera as delicadas asas e se transformara num animalzinho rastejante - uma barata. Sua voz e gritos morriam na garganta, mas nem sempre:
  - "Por que você não me respeita? Por que sua atitude provoca em mim este desespero, se você diz que me ama? Por que você só me vê, quando amorteço parte de mim? Por que eu te admirei tanto e te ofereci asas, e você só olha para mim, quando não posso voar? ou quando me transformo naquela gueixa que quero ser, mas não por todo o tempo? Por que, depois de todos estes anos, eu vejo que você é melhor do que era e eu, me vejo feia e aquém do que gostaria de ser como pessoa? Por que não sou capaz de me desvencilhar de você, não sou capaz de me sustentar sòzinha?
   Esta última frase ela não tinha coragem de dizer e, ao pensar nela, sentia-se derrotada.

Parte Final- no próximo post
texto: Vera Alvarenga
imagem da internet - pode ter direitos autorais.

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