No inverno, e quando se mora em apartamento, é preciso sair um pouco para caminhar e melhor, quando se pode aquecer ao sol. É o que fazemos aos domingos. Claro que preferiria ir ao Parque Ibirapuera, caminhar entre as árvores, ao lado do lago... mas, é tão difícil estacionar por lá, então, uma grande volta no quarteirão já tá de bom tamanho.
No caminho da volta, a rua é toda arborizada. Agradável de se andar nela, não na calçada, que a cada laje de concreto de um metro há duas canaletas de uns 15 cm., uma próxima da outra, que atrapalham bastante o caminhar. É necessário andar olhando para o chão para não se torcer o pé. Sabendo disto, costumo ser atenta.
Geralmente venho pela rua e só entro na calçada quando a rua se estreita por conta dos carros estacionados. Hoje, me distraí. Vinha vindo tranquila, com minha câmera pendurada no ombro enquanto um lindo cão preto vinha do outro lado da rua e eu, por um segundo olhei para ele. Já tinha dado uma daquelas espiadas rápidas para reconhecer o terreno à frente, já tinha visto que havia uma placa de cimento um pouco levantada, mas não imaginava que logo após havia uma canaleta sem terra, buraco no qual a ponta do meu tênis enfiou-se, prendeu-se e me levou ao desequilíbrio, em seguida, ao chão.
Tive consciência de que num milésimo de segundo estaria estatelada na calçada, mesmo assim, deu tempo de puxar a câmera fotográfica tentando protegê-la, depois, mãos para frente e plunft ! Já era. Lá estava eu com dor nos joelhos e mãos, esparramada na calçada.
Recebi pronta ajuda de quem estava comigo- a mão estendida para me ajudar a levantar. Que bom!
- Detesto andar nesta calçada com todos estes buracos! Desabafar me fez bem, naquela situação.
- Mas aqui não tem nada, foi falta de atenção! Ouvir isto me fez mal.
- Claro que tem, olha ali onde enfiei meu pé! Meu tênis com a ponta esfolada também comprovava. Pronto, lá estava eu sentada na calçada, tentando explicar. Queria que ele tivesse conseguido ficar calado, embora não tivesse sido o culpado do meu tombo. Por que há pessoas que nos chamam a atenção quando a gente ainda está estatelada no chão?
- Ela está bem? A mulher na calçada em frente lhe perguntou. E, simpática, olhando pra mim : - Você se machucou? Ah! que frase maravilhosa de se ouvir numa situação daquelas.
- Não, obrigada. Só o susto. E é desagradável cair na rua, não é? Sorrimos, uma para a outra.
Claro, é desagradável cair em qualquer lugar, mas em público e numa calçada áspera, mais ainda.
O homem com o cachorro, andando mais depressa, já ia longe a cuidar da própria vida.
Interrompi os resmungos do meu companheiro de caminhada. Sim, eu sabia que tinha sido culpa de minha falta de atenção, embora nem estivesse tão distraída assim buscando o que fotografar, como ele dissera. Apenas não queria ficar olhando sempre para o chão!
- Por que você não me perguntou se eu me machuquei?
- Porque eu me assustei!
Eu também tinha me assustado! Então, éramos dois. Contudo, fora joelhos e mão ralados, roupa, câmera e tudo o mais estavam bem. Maravilha, não torci o pé. Apesar do tombo, tive sorte.
Lembrei de quando uma criança cai ao nosso lado e a gente logo vai atender, e para sermos solidárias, brigamos com a porcaria da calçada que a fez cair! Cumplicidade faz bem. Logo depois a gente ensina que é preciso mais cuidado. Bom ser criança... Mas, talvez, quando o susto é grande, por vezes a gente acabe por querer ensinar o outro a se proteger, naquele exato momento em que bastava o apoio... sei lá. Isto não é necessariamente falta de carinho. Acho que depende do momento, e depende de cada um.
Interessante perceber o que fazemos quando nos assustamos e não temos tempo para pensar.
E interessante lembrar que, mesmo sendo adultos, quando menos esperamos, podemos cair no chão, na calçada, da pose. Melhor na calçada do que por uma rasteira na vida. E sempre se aprende... se você quer fotografar, se distrair ou levantar a cabeça em sua caminhada, vá em seu ritmo, com cuidado, devagar... e se cair, o jeito é levantar, sacudir a poeira e seguir em frente.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google.
No caminho da volta, a rua é toda arborizada. Agradável de se andar nela, não na calçada, que a cada laje de concreto de um metro há duas canaletas de uns 15 cm., uma próxima da outra, que atrapalham bastante o caminhar. É necessário andar olhando para o chão para não se torcer o pé. Sabendo disto, costumo ser atenta.
Geralmente venho pela rua e só entro na calçada quando a rua se estreita por conta dos carros estacionados. Hoje, me distraí. Vinha vindo tranquila, com minha câmera pendurada no ombro enquanto um lindo cão preto vinha do outro lado da rua e eu, por um segundo olhei para ele. Já tinha dado uma daquelas espiadas rápidas para reconhecer o terreno à frente, já tinha visto que havia uma placa de cimento um pouco levantada, mas não imaginava que logo após havia uma canaleta sem terra, buraco no qual a ponta do meu tênis enfiou-se, prendeu-se e me levou ao desequilíbrio, em seguida, ao chão.
Tive consciência de que num milésimo de segundo estaria estatelada na calçada, mesmo assim, deu tempo de puxar a câmera fotográfica tentando protegê-la, depois, mãos para frente e plunft ! Já era. Lá estava eu com dor nos joelhos e mãos, esparramada na calçada.
Recebi pronta ajuda de quem estava comigo- a mão estendida para me ajudar a levantar. Que bom!
- Detesto andar nesta calçada com todos estes buracos! Desabafar me fez bem, naquela situação.
- Mas aqui não tem nada, foi falta de atenção! Ouvir isto me fez mal.
- Claro que tem, olha ali onde enfiei meu pé! Meu tênis com a ponta esfolada também comprovava. Pronto, lá estava eu sentada na calçada, tentando explicar. Queria que ele tivesse conseguido ficar calado, embora não tivesse sido o culpado do meu tombo. Por que há pessoas que nos chamam a atenção quando a gente ainda está estatelada no chão?
- Ela está bem? A mulher na calçada em frente lhe perguntou. E, simpática, olhando pra mim : - Você se machucou? Ah! que frase maravilhosa de se ouvir numa situação daquelas.
- Não, obrigada. Só o susto. E é desagradável cair na rua, não é? Sorrimos, uma para a outra.
Claro, é desagradável cair em qualquer lugar, mas em público e numa calçada áspera, mais ainda.
O homem com o cachorro, andando mais depressa, já ia longe a cuidar da própria vida.
Interrompi os resmungos do meu companheiro de caminhada. Sim, eu sabia que tinha sido culpa de minha falta de atenção, embora nem estivesse tão distraída assim buscando o que fotografar, como ele dissera. Apenas não queria ficar olhando sempre para o chão!
- Por que você não me perguntou se eu me machuquei?
- Porque eu me assustei!
Eu também tinha me assustado! Então, éramos dois. Contudo, fora joelhos e mão ralados, roupa, câmera e tudo o mais estavam bem. Maravilha, não torci o pé. Apesar do tombo, tive sorte.
Lembrei de quando uma criança cai ao nosso lado e a gente logo vai atender, e para sermos solidárias, brigamos com a porcaria da calçada que a fez cair! Cumplicidade faz bem. Logo depois a gente ensina que é preciso mais cuidado. Bom ser criança... Mas, talvez, quando o susto é grande, por vezes a gente acabe por querer ensinar o outro a se proteger, naquele exato momento em que bastava o apoio... sei lá. Isto não é necessariamente falta de carinho. Acho que depende do momento, e depende de cada um.
Interessante perceber o que fazemos quando nos assustamos e não temos tempo para pensar.
E interessante lembrar que, mesmo sendo adultos, quando menos esperamos, podemos cair no chão, na calçada, da pose. Melhor na calçada do que por uma rasteira na vida. E sempre se aprende... se você quer fotografar, se distrair ou levantar a cabeça em sua caminhada, vá em seu ritmo, com cuidado, devagar... e se cair, o jeito é levantar, sacudir a poeira e seguir em frente.
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google.