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domingo, 2 de agosto de 2015

Me senti em casa ali, no Museu du Quai Branly...

 Ah, o Museu du Quai Branly, em Paris, pertinho da Torre Eiffel, é fantástico!
 Sou escultora e por alguns anos trabalhei com Máscaras, sou apaixonada por elas! Há mais de 25 anos montei algumas exposições inclusive uma em Paraty, Rio de Janeiro, onde pedi ao pessoal da Casa de Cultura de lá, que me ajudasse a fazer um ambiente escuro onde as máscaras pudessem estar. Eu visualiza em minha mente, bem o que vi neste museu! Mas quem era eu? Apenas alguém fazendo uma exposição sem patrocínio, com a ajuda de gente de boa vontade que não tinha recursos/verbas para minhas idéias.

Claro, eles não podiam pintar as paredes, então fizeram lá um "arranjo" com plástico preto.. Já foi muito bom, melhor do que nada e, naquele tempo.... já foi uma novidade que encantava as pessoas e as crianças, pois criou um "ambiente um bocadinho misterioso". Aliás, uma de minhas máscaras foi comprada por um francês, acabo de me lembrar! Não, não eram cópias das máscaras africanas ou de qualquer outra...era um trabalho amoroso de pesquisa que eu fiz, porque era uma paixão minha! (qualquer dia coloco algumas fotos aqui).
 E então, quando estivemos no Museu Du Quai Branly em Paris e tive o privilégio de entrar naquele ambiente projetado de modo a que possamos nos sentir fora de nossa realidade atual, mas "dentro" de um outro mundo, com seus mistérios.... como se tivéssemos feito uma viagem de volta através do tempo....







- Ah! eu me senti em casa! Adorei estar lá!
Parecia uma criança passando rapidamente por dentro de uma doceria, desejando "comer com os olhos", tudo o que via"!

Para mim, foi uma sensação incrível e só não foi melhor porque, como sempre, tinha de andar mais rápido porque o tempo (e a paciência de meu companheiro de viagem) era escasso....rs.... Mas valeu! E ele também gostou demais!

O tempo não pára...mas também não retorna...
aproveitei o que pude! Que bom!
















A curadoria, organização, os opostos mais uma vez convivendo ali, porque por tras dos panos, para mostrar todos aqueles tesouros antigos, havia um trabalho caprichado onde a tecnologia ajudava a criar um clima de magia e mistério, inclusive com som....

Vi crianças sentadas no chão a olhar encantadas para seus professores/as que falavam sobre todo aquele mistério, sobre a História daquele tempo, ao som misterioso de batuques... as menores diziam: - Ohhhh! com certo espanto e encantamento!

Que maravilha isto!







 fotos/texto: Vera Alvarenga

domingo, 17 de outubro de 2010

"Não somos o que aparentamos? então de quem é este meu corpo?"

Conheci Gaiarsa, médico psiquiatra, através de seus livros e depois pessoalmente.Hoje, no jornal, li a notícia de que morreu ontem, com noventa anos - José Angelo Gaiarsa.
  Na época em que fui procurá-lo para conversar,já era casada, tinha 3 meninos adolescentes e acabara de descobrir "verdades incontestáveis" sôbre a importância do corpo, do "toque terapêutico" e da consciência corporal. Ele me ajudou a compreender melhor Reich, com sua teoria das couraças musculares e a importância social (e até política) do prazer e do sexo(pessoas que podem se entregar inteiramente ao prazer/orgasmo sentem-se mais renovadas, corajosas, fortes, engajadas).
  Conversamos 1 ou 2 vezes e ele me avisou que precisaria coragem para o preconceito que enfrentaria,mas incentivou a continuar a desenvolver meu trabalho de massagem terapêutica e consciência corporal, num tempo em que, ao se falar de uma mulher a fazer massagens, logo se pensava:- ou é fisioterapeuta ou prostituta! E eu era apenas uma mulher que após muitos cursos,fazia um trabalho de consciência corporal, para minimizar a dor e chamar as pessoas para ficarem menos alheias a si mesmas! e criara uma técnica profissional e séria, para ajudar a outras pessoas a tomar consciência da verdade de seu corpo, de seus limites e de seu poder de escolherem se tornar mais disponíveis para sua vida, colocando de lado suas armaduras musculares e máscaras. No pouco tempo que estive exercendo minha profissão em consultório, numa clínica com outros profissionais da saúde, não podia me dedicar apenas a atender mulheres, pois eu era mãe de 3 "homens" e tinha um marido...como ignorar a importância deste companheiro de vida, masculino? Graças a seu incentivo, tive mais coragem de enfrentar o inicial preconceito de alguns familiares (eu e meu marido, não falávamos de minha profissão com o orgulho que eu gostaria de ter falado aos amigos- eu me calava ), e aos poucos, médicos indicavam meu trabalho. Sòzinha, eu me orgulhava, mesmo assim!
   Eram tempos mais difíceis para as mulheres que, como eu, saíam do que era "habitual",esperado e permitido às mulheres direitas. E eu era direita, pessoal! sem falsidades, e por convicção! Naquela época ainda era preciso cautela, se uma mulher quisesse seguir por caminhos em que acreditasse, sem perder a família!
   Então hoje, fiquei triste de saber de sua morte, porque ele era um homem que incentivava as pessoas a viverem a verdade, dentro do possível e reconhecia como é terrível esta história de usarmos palavras para dizer o que "dizemos estar sentindo", enquanto o corpo demonstra outra coisa. Ele sempre dizia que as criancinhas não sabem ler, mas sabem perfeitamente quando sua mãe está com raiva, sofre, ou está feliz, pelo tom de sua voz, pela maneira que nos tira do berço ou pelo jeito de seu corpo e olhar. Ele sabia que nós somos sim, muito do que aparentamos por fora, pois nosso corpo é nosso, com nossa história, nossos sinais, medos e marcas, ou será de outra pessoa??
  Sua "voz" era ouvida nos meios de comunicação e nos livros que escreveu. Na época que o conheci eu tinha quase 40 anos e ele, quase 70!
  O tempo passa Gaiarsa....passou... quem sabe um dia eu possa estar com você para agradecer pela "força"!
   Um beijo, com respeito e carinho e minhas homenagens a você, Gaiarsa! Vá com Deus!
Texto : Vera Alvarenga
Foto de capa de um dos livros de Gaiarsa.

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