segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Amor possível, amor impossível...

 Eu já amei o amor possível, da única forma que me parecia ser possível amar – doce e inteiramente, com compaixão, gratidão e entrega total.
Claro que esbarrei em meus limites e nos do próprio ser amado, mas eles não me importavam. O importante e natural era o amor ser como era.
Depois, muito tempo depois, um dia me apaixonei outra vez porque de novo, o amor me tocou com seu encantamento, para meu espanto, de uma maneira diferente - amei um amor que crescia apesar da distância, que existia apesar do impossível.
Nos dois momentos, o ponto comum foi ser tocada por um amor que me encantava, o que fez nascer o desejo da entrega, como se entregar-se a tal sentimento com inteira lealdade possibilitasse transformá-lo em verdade que pudesse sustentar-se e sustentar a nós.
Não amei porque estivesse farta ou desprezasse o amor possível. 
Não tentaria explicar o que não se explica. Amei o impossível porque assim me encontrei, de repente e inesperadamente, apaixonada. Então, tudo passou a ter novo significado ao mesmo tempo que nada mais importava, porque o que era possível se dissolvia como um barco naufragado em meio às ondas reais do tempo presente, numa tempestade em alto mar. E eu ainda lutava no meio de algo grandioso, assustada, quase afogando-me, apenas agarrada a pequena estaca de madeira, pedaço talvez do mastro de uma antiga bandeira. Mesmo com os olhos a arder do sal da lágrima e do mar, meu olhar seguia o pássaro que voava livre em direção à terra firme e me inspirava a sobreviver, não me deixando afundar.
Assim, posso dizer que já amei de várias maneiras, já salvei o amor e fui salva por ele. Agora, ando na praia ao entardecer, tentando secar minhas roupas com os últimos raios de sol e a passos lentos, marco na areia meu rastro e sigo com esperança de que não sinta mais o frio das águas geladas do mar revolto e profundo, que existe na solidão de cada um de nós...  
Texto : Vera Alvarenga
Foto retirada do Google images.

6 comentários:

  1. Como é bom reconhecer que o amor existe nessas mais variadas formas que citas com fidalguia.

    Levante a mão para o céu por sentir-se tão consciente nesse mundo de puro romance.

    Maria Marçal - Porto Alegre - RS

    ResponderExcluir
  2. Olá, Maria! Depois que a gente sai do turbilhão entre as ondas de uma tempestade, caminha na praia, com os sentimentos mais claros, apaziguados,embora não se dissolva o que mostrou-se ser verdadeiro, mas com a certeza de que estamos à salvo de nos afogar.

    ResponderExcluir
  3. Vera!!! Que saudades de seus textos lindos, lindos, lindos!!!
    Amo a forma como vc consegue descrever o nascer e o morrer dos amores. Ando em processo de morte lenta de um amor e tem sido dilacerante. Vc sabe não é? Bjos

    ResponderExcluir
  4. Olá querida Marcela! Obrigada por me dar sempre incentivo ao meu escrever e sinto muito, sinto muito por você estar neste processo. O que posso dizer do que sei?? Eu sei que dói e pensamos não aguentar o que virá depois, eu pelo menos não tenho a sorte de sentir-me tão inteira e plena quando totalmente sozinha por descobrir que "sou mais eu", como muitas outras mulheres corajosas o conseguem.Ainda sinto que, o morrer realmente nos tira algo, não só aquele/a que se foi e não voltará( ou pelo menos nunca como era antes),mas tira de nós um pouco do que éramos, de nossos sentimentos, de como víamos o mundo quando com esta pessoa. Então concordo, o processo pode ser dilacerante sim, como você disse, já que parte de nós deixa de existir( mesmo que seja só um jeito de ser, ou parte de um sentimento).Com sorte, aprendemos a amar de outra maneira, mesmo que fique a nostalgia dos sonhos,será bom mantermos a capacidade de amar.
    Quando o pior do processo passa, percebemos que paralelamente aconteceu uma transformação e que a vida ainda está lá, em nós...dos cacos, com intuição e criatividade fazemos algum mosaico.Estou numa fase mais tranquila, de mais intimidade comigo mesma, pós enfrentamento de tempestades.
    Se me sentir mais inteira é porque passo a me conhecer e me aceitar mais,embora não esquecendo que alguns pedaços se foram, dando lugar a outro modo de ser que ainda sou eu. Torço por você! O pior há de passar logo e tomara que possamos ainda sorrir condescendentes para nós mesmas e para os outros, e colher muitos momentos de alegria.
    Abraço carinhoso,
    Vera.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Vera!
      A dor não tem explicação. É uma reticência sem fim que não quer dar lugar para o ponto final. Uma dor crônica que dilacera. Ainda não tenho raciocínio lógico sobre o que virá. Agradeço cada minuto, cada hora e cada amanhecer, impossível pensar em semanas ou meses. Mas sei do poder do tempo. E de todos vcs que com essa escrita linda e lúcida trazem equilíbrio para mim.
      Bjos

      Excluir
  5. Vera,

    Este texto está perfeito para mim, pelo que ando passando.
    Entao, vou andar na praia, secarei minhas roupas, levarei meus pensamentos - que sempre são honestos - até a linha do horizonte.
    Respirarei profundamente e ao voltar, quem sabe, estarei melhor.

    Beijos

    ResponderExcluir

Seu comentário será bem vindo! Obrigada.

Clic para compartilhar com...

Compartilhe, mas mantenha minha autoria, não modifique,não uso comercial

 
BlogBlogs.Com.Br
diHITT - Notícias