Eu já amei o amor possível, da única forma que me parecia
ser possível amar – doce e inteiramente, com compaixão, gratidão e entrega
total.
Claro que esbarrei em meus limites e nos do próprio ser
amado, mas eles não me importavam. O importante e natural era o amor ser como
era.
Depois, muito tempo depois, um dia me apaixonei outra vez porque
de novo, o amor me tocou com seu encantamento, para meu espanto, de uma maneira
diferente - amei um amor que crescia apesar da distância, que existia apesar do
impossível.
Nos dois momentos, o ponto comum foi ser tocada por um amor
que me encantava, o que fez nascer o desejo da entrega, como se entregar-se a
tal sentimento com inteira lealdade possibilitasse transformá-lo em verdade que
pudesse sustentar-se e sustentar a nós.
Não amei porque estivesse farta ou desprezasse o amor possível.
Não tentaria explicar o que não se explica. Amei o impossível porque assim me encontrei, de
repente e inesperadamente, apaixonada. Então, tudo passou a ter novo significado
ao mesmo tempo que nada mais importava, porque o que era possível se dissolvia
como um barco naufragado em meio às ondas reais do tempo presente, numa
tempestade em alto mar. E
eu ainda lutava no meio de algo grandioso, assustada, quase afogando-me, apenas
agarrada a pequena estaca de madeira, pedaço talvez do mastro de uma antiga
bandeira. Mesmo com os olhos a arder do sal da lágrima e do mar, meu olhar
seguia o pássaro que voava livre em direção à terra firme e me inspirava a
sobreviver, não me deixando afundar.
Assim, posso dizer que já amei de várias maneiras, já salvei
o amor e fui salva por ele. Agora, ando na praia ao entardecer, tentando secar
minhas roupas com os últimos raios de sol e a passos lentos, marco na areia
meu rastro e sigo com esperança de que não sinta mais o frio das águas geladas
do mar revolto e profundo, que existe na solidão de cada um de nós...
Texto : Vera Alvarenga
Foto retirada do Google images.
Como é bom reconhecer que o amor existe nessas mais variadas formas que citas com fidalguia.
ResponderExcluirLevante a mão para o céu por sentir-se tão consciente nesse mundo de puro romance.
Maria Marçal - Porto Alegre - RS
Olá, Maria! Depois que a gente sai do turbilhão entre as ondas de uma tempestade, caminha na praia, com os sentimentos mais claros, apaziguados,embora não se dissolva o que mostrou-se ser verdadeiro, mas com a certeza de que estamos à salvo de nos afogar.
ResponderExcluirVera!!! Que saudades de seus textos lindos, lindos, lindos!!!
ResponderExcluirAmo a forma como vc consegue descrever o nascer e o morrer dos amores. Ando em processo de morte lenta de um amor e tem sido dilacerante. Vc sabe não é? Bjos
Olá querida Marcela! Obrigada por me dar sempre incentivo ao meu escrever e sinto muito, sinto muito por você estar neste processo. O que posso dizer do que sei?? Eu sei que dói e pensamos não aguentar o que virá depois, eu pelo menos não tenho a sorte de sentir-me tão inteira e plena quando totalmente sozinha por descobrir que "sou mais eu", como muitas outras mulheres corajosas o conseguem.Ainda sinto que, o morrer realmente nos tira algo, não só aquele/a que se foi e não voltará( ou pelo menos nunca como era antes),mas tira de nós um pouco do que éramos, de nossos sentimentos, de como víamos o mundo quando com esta pessoa. Então concordo, o processo pode ser dilacerante sim, como você disse, já que parte de nós deixa de existir( mesmo que seja só um jeito de ser, ou parte de um sentimento).Com sorte, aprendemos a amar de outra maneira, mesmo que fique a nostalgia dos sonhos,será bom mantermos a capacidade de amar.
ResponderExcluirQuando o pior do processo passa, percebemos que paralelamente aconteceu uma transformação e que a vida ainda está lá, em nós...dos cacos, com intuição e criatividade fazemos algum mosaico.Estou numa fase mais tranquila, de mais intimidade comigo mesma, pós enfrentamento de tempestades.
Se me sentir mais inteira é porque passo a me conhecer e me aceitar mais,embora não esquecendo que alguns pedaços se foram, dando lugar a outro modo de ser que ainda sou eu. Torço por você! O pior há de passar logo e tomara que possamos ainda sorrir condescendentes para nós mesmas e para os outros, e colher muitos momentos de alegria.
Abraço carinhoso,
Vera.
Oi Vera!
ExcluirA dor não tem explicação. É uma reticência sem fim que não quer dar lugar para o ponto final. Uma dor crônica que dilacera. Ainda não tenho raciocínio lógico sobre o que virá. Agradeço cada minuto, cada hora e cada amanhecer, impossível pensar em semanas ou meses. Mas sei do poder do tempo. E de todos vcs que com essa escrita linda e lúcida trazem equilíbrio para mim.
Bjos
Vera,
ResponderExcluirEste texto está perfeito para mim, pelo que ando passando.
Entao, vou andar na praia, secarei minhas roupas, levarei meus pensamentos - que sempre são honestos - até a linha do horizonte.
Respirarei profundamente e ao voltar, quem sabe, estarei melhor.
Beijos