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sábado, 13 de agosto de 2011

Poder nas mãos de quem não reconhece limites...

Quem tiver oportunidade e tempo, veja a história contada por D. Adelaide, lá no site do Amores no Velho Chico. Aqui está o link: http://www.amoresnovelhochico.com.br/2011/08/11/e-tres-marias-inundou-o-sertao/
Esta comovente história me fez pensar novamente no abuso de poder nas mãos dos que pensam apenas em si e não percebem os seus limites e os de outros. Aqui vão flores simbolizando meus respeitos à D. Adelaide...e meu desabafo.
Na maior parte das vezes, governantes deveriam poder experimentar do próprio remédio para compreender o peso de suas ações.
Sou obrigada a reconhecer que nós, seres humanos somos imperfeitos e
portanto, tudo isto é algo a se esperar, 
mas que é importante darmos voz aos que tem histórias para contar, para que, com alguma esperança possamos crer que isto nos fará desejar evoluir.

Por que quem tem poder sobre as decisões que afetam outros, não consegue perceber seus limites? Para alguns, conseguir o que querem mesmo ao custo de outros é o que importa!

Sempre foi assim, no mundo, entre os governantes, nas comunidades, dentro das casas...Por isto é preciso podermos ouvir histórias como as de D. Adelaide, para lembrar de não nos acostumar com as justificativas e inversão de valores.
Há muitas maneiras de se viver histórias assim. Os detalhes e o número de pessoas atingidas pode ser diferente, mas tem algo em comum. Tudo começa quando alguém, ou uns poucos,não tem consciência do próprio limite e de sua imperfeição e então, não podem também reconhecer os limites do outro e seus direitos.
Então, com o poder nas mãos,seja ele de que forma for, impõe o que decidiram que para si é o melhor. Por levar em conta só o que querem,embora não lhes satisfaça nunca, minam a resistência do(s) outro(s) com diferentes táticas, acabam com sua auto estima, destroem o outro que, quanto mais tiver consciência de si e de princípios humanitários, mais sofrerá e acabará por ser considerado como alguém inapropriado ou incapaz. Que valores são estes que estão tão invertidos? As vítimas que tanto tem que suportar são consideradas como "fracos e loucos"!
E por que estas vítimas se calam? Por que tanta gente deslumbrada hoje pelas palavras fáceis, pensam que as vítimas é que são sempre culpadas pelos abusos que sofrem? Por que tanta gente ainda sonha com a ilusória crença de que a felicidade é algo que a gente sempre pode construir pra si ? A gente pode tentar mas felicidade é também a tranquilidade de sentir-se respeitado. Em parte sim, claro que a gente diante de abusos, ainda tenta transcender!! mas há que se levar em conta que, quando alguém vem e não leva em conta sua opinião e suas necessidades, esta historinha bonita de que tudo depende de nós mesmos, fica meio relativa, não é? Quanta facilidade ao julgar-se que vítimas são sempre vítimas de si mesmas! Nem sempre é assim, nestes termos. Pelo menos não pra mim. E nem sempre ter fé resolve tudo, embora concorde que, ter fé nos ajuda a seguir, a transcender, a tentar nos convencer de que não dependemos apenas de quem abusa do poder, e de que há de ter um destino melhor para nós em algum lugar...então podemos sonhar.
Claro que todos tentamos reagir, dentro de nossos limites, com nossas próprias forças, mas numa competição nunca ganharemos de quem não vê limites porque se julga perfeito e senhor de todas as decisões. Estes serão sempre incapazes de transcender os limites porque não os reconhece,nem as necessidades de outro ser humano comum,nem de si mesmos. Estão perdidos dentro de uma urgência por conseguir possuir mais que tudo, a qualquer preço!
Difícil lutar quando não tivermos as mesmas armas e, por vezes nem queremos tê-las. Então, parabéns a D. Adelaide, que soube esperar e lutar a seu modo, falar, contar, testemunhar, da maneira como pode. Ela sim está transcendendo os limites impostos a ela, tentando reagir na medida de suas forças, mostrando-se vítima sim, chorando suas perdas e nos lembrando que o mundo real e as pessoas reais merecem nosso respeito! e de que vítimas, nem sempre o são porque querem ser.
Parabéns ao blog Amores no velho Chico por dar voz a ela também.
Meu sincero carinho a todos.




segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

" As duas faces da solidariedade..."

- Acudam! Me ajudem por favor!
- Venham ajudar Dona Maria!
Verônica,no telefone com a irmã, contava como estava feliz de ter escolhido aquele tranquilo bairro para morar, onde muitos se conheciam,eram amigos,quando ouviu gritos pedindo ajuda.
- Mana,parece que aconteceu uma tragédia. Não gosto de me meter, mas a coisa é séria.Tão me chamando no portão.Vou desligar.
- Ô Dona Verônica, a senhora viu? Levaram Dona Maria.Tá muito mal, acabou de saber que os 3 filhos, mais a irmã,cunhado e sobrinhos, todos morreram naquele ônibus que caiu no rio!
- Meu Deus! Dá licença, vizinha, que meu telefone tá tocando... Quando atendeu, Verônica ouviu a voz entrecortada da Dona Maria, que deixara um recado na secretária, pedindo que rezasse por ela e pelos seus,que se foram. A linha caiu e quase que ela cai junto.Um arrepio corria pelo corpo todo; tremia por dentro. Como é que a Maria ia aguentar isto?!
Saiu apressada.Encontrou um grupo de pessoas conversando na calçada,em frente.
- Não adianta irmos lá, ela está acompanhada pelo marido.
- Na certa vão tomar providências cabíveis no momento senhores.Vamos aguardar.Não há o que fazer agora.E a gente nem sabe se não se trata de boato!
- Ô seu Oswaldo,parece que num tem coração! A mulher perde a família toda e o senhor aí, parece que num acredita! Tá querendo o que? A gente sempre foi unido, temos de dar apoio agora!Vou lá oferecer meus préstimos. Sei lá se precisam de alguém com carro...não é mesmo,Dona Verônica? O que a senhora acha?
- Pessoal, ela acabou de me deixar um recado! É muito sofrimento pra uma pessoa aguentar sozinha! Assim que passarem alguns dias, vamos visitá-la, levar flores,telefonar... sei lá, vocês que são mais antigos no bairro, amigos dela, é hora de oferecer seu carinho...respondeu Verônica, antes de se recolher,como todos os demais fizeram,em demonstração de respeito. Era o que a situação exigia.
Dona Maria não apareceu naqueles dias.Ninguém sabia se estava no hospital ou acamada em choque, mas amigos e vizinhos se faziam presentes. Eram novenas que Dona Helena tinha encomendado para o vigário, eram flores que os vizinhos levavam ao portão, bilhetes carinhosos, gestos de solidariedade, comida pronta... O bairro todo ficou de luto. Até seu Agenor, aquele que nem religião tinha, comparecera na novena,na igrejinha da esquina. Todos choravam imaginando a dor de Dona Maria,e ao mesmo tempo agradeciam a Deus por não estarem na pele dela.Muitas luzes ficaram acesas naquela noite, no bairro. Verônica,romântica, achou até bonito!
Na tarde do segundo dia, outro alvoroço. Gente brigando,discutindo,gritando,chingando...E lá foi Verônica, assim que viu em frente a casa,duas amigas que queria bem.Por um momento, ninguém mais se doía pelas vítimas do acidente, pois eram eles, as vítimas agora.
- Tudo mentira! Desavergonhada!
- E eu que fui até rezar! reclamava seu Agenor.
- Eu bem que avisei que era muito estranho...Viu, Dona Helena? A senhora acredita em tudo!
Dona Helena magoadíssima, se afastou de seu Oswaldo, aquele a quem ela tinha dado seu coração, sem que ele soubesse ainda...
- Pessoal calma! A gente não sabe direito o que houve - disse Verônica. Será que vocês não estão se precipitando? Afinal, a família dela estava naquele ônibus,não estava? Estas notícias se atropelam.
Dona Helena aproveitou o dito e completou:
- A coitada,só depois ficou sabendo que a família sobreviveu.Credo! Parece que vocês preferiam que tivesse sido verdade, só pra não gastar vela à toa. Vão crucificar a pobre,porque ela demorou pra avisar que a família estava em segurança?!
- Ah,ela brincou com nossa boa fé.Você não entende tudo que está em jogo? Sai daqui, beata!
- Tem gente sonsa mesmo! Pior do que aqueles que mentem, só mesmo os que ficam defendendo, acobertando. Estes deviam ser linchados!
Ui, será que era com ela, ou com a Beata? Pelo sim, pelo não, Verônica resolveu entrar, porque neste momento, quem não está com a maioria, pode levar tiro daqueles que escapam quando os ânimos estão exaltados e vai tiro pra todo lado.Entrou,mas não se sentia protegida do próprio pensar - era seu jeito de ser, não acusar as pessoas - mas,ficou lá dentro, dando tratos à bola. Se sentiu enjoada. Que coisa! ou morriam os familiares da outra, ou morria a confiança e a solidariedade que as pessoas precisavam ter, para viverem em paz? Será que não tinha meio termo, nesta história toda?
Verônica, só agora ficou mesmo de luto...não sabia mais no que acreditar.A família da dona Maria não morrera, mas alguma coisa morrera ali! Foi para o quintal, no meio de suas flores e ficou lá a meditar... e meditou...e meditou muito para tirar aquele nó do estômago, que teimava em ficar entalado ali.
O tempo, sabido como ninguém,passou indiferente a tudo e a todos, e as coisas começavam a voltar ao normal. Os que se envolveram nesta história,estavam mais certos agora de que, para se morrer, bastava estar vivo! Afinal, muitos morreram mesmo, naquele outro ônibus! E havia ainda a certeza de que, era repugnante,até odioso,tudo o que pudesse abalar a boa fé das pessoas de bem.
Afinal, como poderiam viver suas vidas, se não pudessem confiar?
Verônica agradeceu a Deus por não ser advogada, promotora ou juíza. Olhou pela janela,viu Dona Maria passando tranquila do outro lado da rua, como se nada a tivesse afetado, e pensou:
- Bem, quem tem a consciência tranquila age assim. Depois lembrou que, as pessoas que costumam mentir,ou exagerar para chamar a atenção sôbre si,também se saem bem destas situações. Comentou com a irmã ao telefone:
- Eu preciso da minha fé nas pessoas, mas confesso que neste caso,não posso mais confiar. Também não gostei do exagero nas acusações...nunca vou saber se estou sendo injusta,mas não me interessa mais...tá além do que eu posso.
Ao que sua irmã respondeu:
- Todo mundo sabe que há pessoas que vão nos mentir. E daí? Sigam a vida! Acho que quem ainda está triste, é porque não se conforma é de ter cometido este erro de "se deixar enganar", ou porque está aí com uma ponta de dúvida,como você irmã...e ninguém quer cometer um erro deste... Ninguém é perfeito, mana! Esquece. Nem sempre a gente pode ter certeza de tudo. Vai pro computador e escreve uma crônica, uai!
- E aí, não vão dizer que estou me aproveitando deste episódio deprimente,para aparecer?
- E está? Você não diz que só escreve quando algo te emociona, ou precisa organizar as idéias? Vai lá maninha...

Texto: Vera Alvarenga

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