- Como era
bom fazer amor não se importando com os sons, com a hora, com o lugar da casa
onde a vontade e o inesperado combinassem de se encontrar! pensou, lembrando do
tempo em que seu amor vivia com ela.
Mariana
lembrou-se daquela época, logo depois que os filhos casaram. A previsão era de
que viria o tempo do ninho vazio, de dificuldades para se adaptar com o marido
trabalhando em casa. Entretanto, tudo era como sempre fora com ela, uma questão
de ponto de vista. Era uma questão de escolher o ângulo melhor para se olhar,
como ela fazia com suas esculturas. Deste modo, foram descobrindo o gostinho da
liberdade, mesmo apesar de tudo o mais, da maresia, ventanias ou temporais. E o redescobrir o mundo e fazer planos somente para eles, era algo tão
novo que causava-lhe uma intrigante sensação de desafio e aventura a encarar. E
havia o amor, muito amor. Somente isto ajudava a preencher o vazio do qual
todos falavam e a encher de vida, uma vida que tinha muito ainda a desbravar.
- Ah o
amor!...
Como era
bom amar assim...e quando se ama, se tem a certeza de ter o céu tão próximo que
quase é possível tocar! E tudo era uma questão de sentir e acreditar que aquele
era o único ângulo possível. Quando se é jovem e o sangue esquenta a pele ao
leve toque da barba por fazer e do beijo inesperado no pescoço, tudo acontece
tão depressa, naquele instante os problemas desaparecem tão rapidamente, e o
mundo passa a ser um lugar do qual nos ausentamos para aquele encontro com
alguém, por quem vale a pena fazer planos para se viver.
- Ah! O amor!...
e olhando para aquele objeto antiquado na estante, virou-o. Ficou a olhar a areia
escorrer por ele, enquanto suas recordações a levaram para dias distantes... lá,
muito atrás no tempo, este objeto servira para contar a passagem dos minutos
enquanto a areia escorria por entre o vidro.
Ah! O amor!...
o amor daquele tempo em que a maturidade começava a tecer a trama que leva fatalmente a perceber o valor das coisas, e do que não são
coisas simplesmente. E mesmo assim, ela ainda se sentia tão jovem, cheia do
mais puro idealismo, da mais doce paixão.
- Não
escorrestes por minhas mãos, sem que eu percebesse que és feito também do mais
fino e puro ouro... que és uma dádiva do nosso próprio coração não só ao outro, mas a nós mesmos...Foto e texto: Vera Alvarenga