- Filha, volta comigo! Sinto
tanto sua falta.
- Eu sei, mãe.
- Você era a alegria da minha
casa.
- Eu? Só você notava.
- Todos provaram do que
plantou, com sua doce alegria.
- Você não percebia que me
faltava ar? Vezes fiquei sufocada, sem poder respirar.
- Mas, lhe mostrei coisas bonitas,
a deixei livre quando possível. Não bastou? Hoje, a sigo em pensamento. Vejo
que está solta no ar, tão longe. Alguém a esperava no aeroporto? Está tranqüilo
aqui, em paz, seguro. O que você tem aí, o que foi buscar?
- Tudo esteve quase sempre
tranqüilo, só faltava espaço. Eu queria alguém que gostasse de mim não só de
você, tivesse cuidado comigo, alguém um bocadinho mais igual para dividir
algumas coisas. Cresci, não sou mais menina. Você pode me compreender?
- Sim, querida. Eu também
cresci. Sei que a gente discutia, por conta desta sua..alergia, insatisfação,
mas hoje que a vida me parece tão curta, eu a compreendo muito mais. Fui
prepotente, achei que era a mais forte. Desculpe se não lhe dei espaço, você
devia ter sorrido,brincado mais.Você ainda é parte de mim, a melhor, e sinto falta de
sermos nós.Volta!
- Não sei voltar. Se fingir que
volto, você fica feliz de verdade?
- Bobagem! Era com você que
tudo se fazia bonito. Sua ingenuidade...temo por você.
- Vou confessar, mãe, agora
não sou mais ingênua, também tenho medo. Vou lhe dizer, nada volta a ser como
antes, nada. A não ser nos quadros que pinta. E não é bobagem!
- Juntas, a gente era feliz.
Um dia ainda vou buscá-la. Você é minha inspiração, meu entusiasmo. Sabe as
plantas, tudo seco, nem ligo mais.Você, pelo menos está feliz?
- Mãe, não faz isto!
Chantagem era coisa da vó e do pai, lembra? É inverno, por isto tá tudo seco
por aí. Não provoca, que de repente volto e vou lhe buscar! E você, tá feliz?
- Você, sonhando outra vez. Imagine,
o que iam pensar de nós? Envelheci. Se demorar, não me reconhecerá mais. Iam
dizer - o que aquela velha pensa que ainda tem?
- E desde quando você ligava
pra o que os outros, além dele, pensassem. O que você pode ter, uma vida
inteira? Qual o tamanho da nossa vida? E
você inteira nela - não seria bom alguém ver você inteiramente?
- Ah, isto sim. E, quem vê
você? Acredite, agora está tudo bem, tenho quem me cuide.
- Que bom! Deu tempo? Você ainda
não me disse se está feliz.
- A vida não é só sonho. Quando
a gente envelhece, ganha sabedoria...Nem tudo que se deseja...Felicidade está
nos pequenos momentos e em
lembrar...Você e seus sonhos!
- É disto que ainda sou feita,
é minha natureza. E você, encontra felicidade ao lembrar?
- O momento presente é o que
importa, menina! Cria juízo pequena jóia de minha alma, parte que é minha, e
volta para mim. Não sei o que você viu, que a levou daqui.
- Eu pressenti, depois,
acredito que vi. Então desejei. E agora...
- E agora, como é o que
encontrou?
- Ainda não sei. Tenho medo
de não haver nada, talvez eu esteja só, para sempre. Já pensei voltar, mas
quando olhei para trás, não vi minhas pegadas. Vai ver que voei! Eu, que tenho
medo de alturas, não é engraçado? Eu, que só me sentia segura na nossa
intimidade. Também sinto falta da sua paz, do seu aconchego.. Você ainda tem
paz?
- Não sei viver sem sua
confiança ingênua, ninguém percebe como me esforço, mas não sou a mesma, falta
algo. É tão louco isto! Meu coração está com você. Por que deixei a vida nos
separar? E você, é a mesma? A gente se encontra em pensamento outra vez?
- Não, não sou a mesma, falta
você. E, nos pertencemos mãe, portanto, vamos nos encontrar em algum lugar,
prometo. E aí, se ambas formos felizes...
- E aí, será para sempre?
Foto: pode ter direitos autorais - Google images
Texto: Vera Alvarenga