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quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Se você tem facilidade para engordar, não vá gerenciar um restaurante!"


     Um dia ela sentiu seu coração disparar. Logo depois uma tontura a fez segurar-se no balcão. Ràpidamente sentou-se na cadeira da mesa mais próxima, para não cair. Olhou no relógio -15 horas. Finalmente hora de fechar. O último cliente saiu. Desta vez, nenhum dos que fizeram amizade e gostavam de ficar ali até mais tarde, conversando, contando "causos" e piadinhas, havia permanecido. Ia poder ir para casa mais cedo, assim que as meninas acabassem de arrumar o salão e a cozinha.
   - A senhora não vai comer alguma coisa?
Foi aí que ela resolveu parar de tomar aquela fórmula maluca que a impedia de sentir fome, mas lhe dava a sensação de vazio, do estar meio morta para tudo o mais e, ùltimamente, fazia seu coração disparar em ritmo diferente, como fosse um cavalo manco a galopar.
   A última coisa que queria ter na vida era um restaurante! Claro, porque sabia que seria difícil manter a forma, apreciando a boa comida, e todos os prazeres da mesa. Seria como contratar alguém numa reunião dos alcóolicos anônimos e lhe dar um importante cargo de barman. Como poderia gerenciar a qualidade da comida servida, sem prová-la? Como poderia vender algo no que realmente não acreditasse? Como faria um pequeno e simples restaurante por quilo atrair clientes em meio a tantos outros, se não se destacasse pela qualidade das sobremesas e sabor especial da "comidinha caseira", além de toda a decoração, claro, que não poderia jamais ser igual a dos "bandejões" existentes?!
    Era difícil resistir às tentações e não criar o maravilhoso hábito de beliscar salgadinhos para enganar a fome, comer só quando finalmente o estômago já estava nas costas e faminto, e acima de tudo, evitar provar aqueles doces e trufas deliciosos. Em pouco tempo ficaria viciada! Foi assim que entregou-se àquelas drogas que lhe tiravam o apetite e deixavam seu metabolismo abalado, ainda mais por causa do stress que não era pouco. Seu organismo era sensível . Mas hoje decidira parar.
    Lembrou-se da escultura que fizera certa vez... uma mulher gordinha, em tres movimentos, começando quando está ainda introspectiva, depois quando respira fundo e se enche de coragem para assumir o que é, e finalmente quando sente prazer em ser mulher e olha para o mundo, confiante de si. Ela tinha em si mesma, muito das mulheres que esculpia. E assim, confiante, resolveu seguir em frente, sem o apoio do remédio que a ajudava a evitar aquilo, que seu corpo pedia.
     Claro que, naquela época, ela nem sonhava que havia um distúrbio hormonal de sua tiróide, que a impediria de emagrecer, quando o estrago fosse feito. Aliás, nem sonhava em levar em conta,a existência desta glândula de seu organismo!  Não sonhava também, que após 5 anos desta decisão e de muito stress, numa profissão que não sentia nenhum prazer, a não ser o de comer todas as gostosuras(mesmo que de modo contido), haveria 12 kgs.a mais, irremediavelmente apontados pela impiedosa balança. Naquele tempo ela não sabia que precisava de apoio, se queria permanecer trabalhando naquele local, mas que o tratamento deveria ser outro. Nem os médicos talvez soubessem.
     Hoje, certamente, ela saberia que, nem todo o amor do mundo por seu marido, compensaria ajudá-lo numa tarefa que não combinava com ela, como doce não combina com diabéticos, e bebidas não combinam com alcoólatras! Naquele dia, decidida e confiante, resolveu que enfrentaria os problemas de frente, como sempre, sem "muletas" (?) e sentiu um enorme prazer, como o da mulher de sua escultura - aquela que havia colocado o nome de " as 3 graças".
texto: Vera Alvarenga
foto: Vera Alvarenga

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