Entre os que iam e vinham
ocupados com suas próprias distrações, ela estava lá, uma pessoa livre e comum
no meio de outras. Adorava isto.
Estava ali, já há alguns momentos olhando os
reflexos no lago. E sentia-se bem. Sabia que a felicidade era feita de momentos...
Aquela mulher, como tantas, fizera sua
escolha. Entre carreira e todas as possibilidades, escolhera amar. Cuidar dos
seus e transformar o ambiente ao redor em algo mais bonito e tranqüilo, usando
os recursos de que dispunha, era o que decidira fazer com sua vida e
criatividade.
Aquela mulher, às vezes, esquecia-se de si e
do tempo.
Aqueles momentos em que se dissolvia e
penetrava no que estivesse fazendo ou amando, e neles sentia-se parte de algo
maior, davam-lhe indescritível sensação de tranqüila felicidade. Mais do que
nunca agora, tinha certeza que a perfeição individual não era alcançável,
embora fosse de certa forma compreensível o nobre desejo de chegarmos próximo a
ela, quando fosse dado a isto o devido valor. Nem mais, nem menos.
Perdoara-se definitivamente por todas
aquelas vezes que, exausta, pensara em desistir ou que simplesmente não fosse
agüentar, porque era fato que as fontes secam. Apesar disto, um gesto de amor
ou uma boa noite de sono costumavam devolver-lhe a energia.
A vida tinha lhe mostrado o quanto ela era
limitada e como havia sido pretensiosa por ter- se acreditado capaz de fazer
tudo dar certo, como se pudesse possuir a felicidade.
Apesar de sentir-se penalizada por isto, era
o que tinha de ter feito. Hoje ela conhecia o significado da fugaz felicidade.
Quando falava de paz, nem sempre a ouviam, porque seu jeito simplório e
tranqüilo de argumentar era por demais lento, até ultrapassado, para a vida que
segue livre, cabelos ao vento, nas patas de musculosos e elegantes cavalos de
corrida.
Aquela mulher não tinha se dado conta, mas
aprendera como parar o tempo.
E, quando parava de correr,
ela aprendia a ser feliz.
Foto e texto: Vera Alvarenga