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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Gatos e lagartas não tem asas!

 

Acho que sou uma lagarta rastejante. Daquelas que vai no seu próprio ritmo, calmo e constante, para onde tem de ir. Gosto de pensar que já então, tenho cores em mim e não, pêlos. Algumas tem pêlos que queimam a pele dos que vem lhes tocar.
   - Eu não! Nunca queimei ninguém, espero. Já queimei tua pele, por acaso já te machuquei?
   Bem que até gostaria de ter transmitido um pouco mais de meu calor, mas não para queimar. Quem sabe no máximo queimarmos juntos num fogo que não machuca. Já fiz isto tantas vezes. Foi bom, muito bom.
 
- Êpa! já estou divagando por outros caminhos... ôh vida esta que vive eternamente enquanto dura! Fogo que quase todas as criaturas tem, na ilusão de com ele perpetuar a própria existência, mesmo que seja nos demais, mesmo que seja nas doces e deliciosas lembranças.
 
   Mas então, como ia dizendo, sou uma lagarta. Se tivesse pêlos, seria uma gata, é claro. E como tal, qualquer uma das duas quero dizer, gosto de me aconchegar em meu casulo, esconderijo, toca, ou colo macio. Sou capaz de rastejar ou caminhar silenciosamente, até encontrar meu destino. E então, subir numa árvore bem alta e de lá de cima ver o mundo. E fico quietinha no meu canto. Adoro isto. E vem a brisa. E depois o vento, que me dá uma idéia.
   - Ah! As idéias são uma tentação, ou seriam uma motivação?
   Se é que neste instante comecei a ter medo das alturas, e o medo fica insuportável, eu me protejo, porque estou balançando e quase caio! E é bem nesta hora, quando minha vida está por um fio, que me transformo. É verdade, de vez em quando, me transformo. Não precisa de bombeiros ( já viram aqueles, que nos filmes água com açúcar, vão tirar os gatinhos ousados lá dos galhos mais altos?). Também não me deixo espatifar lá em baixo e me esparramar feito gosma verde ( já viram uma lagarta ou casulo nesta situação? é de dar pena e nojo.Ninguém gosta de ver uma lagarta espatifada).
   A culpa é do vento? Ele é que me dá asas?
   O que estou dizendo? Se eu for uma lagarta, tudo bem, ganho minhas coloridas asas, tá tudo explicado e coerente. Gosto de coerência no sentir e demonstrar. Mas....................
   - E SE EU FOR UMA GATA???
   Então, como poderia voar? Ter asas, nem pensar!
   - No entanto...hahaha... poderia saltar, macio, com elegância... e teria sete vidas!
   Legal! porque, numa delas, quem sabe eu poderia pular no teu colo, e pra sempre te conquistar - tu que és o personagem dos poetas, o Amor que nunca se acaba, aquele com quem eu ia envelhecer e, juntos, de cabelos brancos iríamos seguir sorrindo e nos divertindo apesar de tudo e qualquer coisa mais mundana, deixando um rastro de luz a lembrar aos que olhassem pra nós, que um sonho realizado é mais emocionante quando o construímos a dois, quando é compartilhado.  

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fazendo um Borboletário...

 Às vezes penso que tenho um parafuso a menos.
Talvez este pouco de loucura, constante deslumbramento, é o que me salva da sensação de tédio da qual muito ouço falar, e/ou da minha própria sensibilidade que me traz por vezes, outra sensação - a de inadequação minha, ou de inconformismo perante algumas coisas.
   Mas enfim, como se não tivesse nada mais importante a fazer, lá estava eu, desde domingo, envolvida com "o fazer"  um BORBOLETÁRIO para os netinhos. O último que fiz foi para meus filhos, há muito e muito tempo.
Mas quem mandou aquela lagarta atravessar bem no meu caminho?
Assim, ao sair para a caminhada domingo, já catei uma caixa deixada na calçada por um bebedor de vinho( uma de minhas bebidas prediletas), já comprei um vasinho de mini palmeirinha ( alimento predileto das lagartas) e comecei a instalar (furar) ar condicionado na casa das Borboletas. Depois, foi só encontrar tinta que não tivesse endurecida por falta de uso, recortar as janelas, esperar 2ª feira para comprar a "transparência" que tamparia aberturas. Recortar algumas figuras de borboletas, foi fácil.
Difícil mesmo foi encontrar as taturanas, e saí à caça. Até o zelador do prédio se entusiasmou e encontrou uma ( afinal é Primavera!). O marido outra. Ao todo, 2 casulos prontos e 3 lagartas. Daria pro gasto.
Na hora de levar à casa dos netos, para surpresa minha, uma das lagartas havia desaparecido! Só restara a cabeça. Acabara de transformar-se em casulo, liso, brilhante, lindo. Foi muito rápido! Quando olhei, uma das pontas ainda se movia. Simples e incrível a natureza. Confesso que me divirto e sinto um prazer singelo mas consistente, com estas minhas pequenas loucuras. Elas me lembram que o milagre da vida é muito mais significante do que muitas vezes, parece que é. E lá fui eu. Começo da noite. Uma preguiça só, mas não podia deixar de levar pra eles. Meia hora depois, cheguei. Expliquei a tal "Experiência Científica de Observação" na qual eles teriam a oportunidade de ver as lagartas rastejantes transformarem-se em seres alados maravilhosos e também aprender a ter paciência pois, não se pode ajudar borboletas a saírem do casulo, sob pena de matá-las. É preciso respeitar o tempo de cada ser.
E então, voltei para casa. Pronto, estava terminado. Se o gato não empurrar a caixa para o chão, talvez eles possam ver um dos milagres da Natureza ocorrer em frente a seus olhos.
E, apesar de toda a ciência, internet, comunicação rápida e tecnologia, as borboletas ainda nascem dos casulos, da mesma forma que há muitos anos atrás.... o que nos lembra que a vida naturalmente bela e significativa tem um ritmo próprio, não este que a loucura massificante nos quer impor.

Texto e fotos: Vera Alvarenga.

  

domingo, 17 de julho de 2011

Para me redimir...borboletas.

     Eu queria matá-las. Eram duas que ainda ousaram me aparecer ali no jardim, bem em baixo da minha palmeira pelada! Duas noites antes, uma porção delas, no escondido do escuro e enquanto dormíamos, comeram quase todas as folhas da nossa palmeira. No dia seguinte, o susto! Uma folha caiu e estava cheia delas.
   E as matamos a pisadas. Eu e os meninos. E eu, que gostava de ser e parecer boa, não fiz nada para impedir a matança... até ajudei, porque elas quase mataram nossa palmeira!



   No dia seguinte, estas duas apareceram.
   Será que não tinham fim? Era um ataque, destes como o dos gafanhotos, que quando acontece, não deixam nada por onde passam?

   Mas, desta vez não tive coragem.
   Eram só duas. Não pareciam, como as anteriores, uma ameaça. Isto porque, o número delas é muito importante para definirmos se estamos diante de uma invasão ameaçadora, ou apenas uma visita .
   Por mais que eu tente respeitar a vida, tudo para mim, tem um limite,confesso. Animais para fora de casa e os que não me ameaçam, viverão eternamente, se depender de mim.
 
   Ora, é como receber alguém para um lanche que você nem convidou. Uma ou duas pessoas, você ainda dá um jeito , mas dezenas! E, daquele tipo que vem sem avisar
e comem tudo o que você tem? No caso, eram quase todas as folhas da palmeirinha do jardim!




   Então, ao olhar para as duas, decidi poupá-las. E não só isto, alimentá-las também. Fiz uma caixa com uma tela, chamei os 3 meninos, colocamos alimento...exatamente os pedaços de folhas da pobre palmeirinha. Alí estava então um Lagartil, ou Borboletário!

   Como se não bastasse, a idéia me animou e levei os meninos a uma caça à lagarta, no Parque Morumbi.
   Eles brincaram bastante e eu, consegui uma outra linda lagarta e um casulo.

   Foi uma aventura e também um modo de me redimir do  meu pecado (?). Foi bom para os meninos aprenderem como os casulos se formam e que devemos ter paciência com a natureza, pois quando a borboleta estava saindo do casulo, o meu menor queria ajudar...aprendeu que não era possível. A borboleta era linda e inofensiva. Eu também aprendi...que algumas bondades da gente, das borboletas e das lagartas, dependem muito das circunstâncias.

Fotos e texto: Vera Alvarenga

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