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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sonhei que o mundo ia acabar e me coloquei em segurança...

  Esta madrugada tive um sonho...
Estávamos numa emergência! De alguma forma se sabia que o mundo, como conhecemos pelo menos, ia acabar!grandes mudanças iam ocorrer ou sei lá o que! Então, algumas pessoas, como eu, se viam de repente dentro de uma nave, um disco voador do tamanho de um enorme salão. Tinha piso mas desde a altura da cintura e toda a parte de cima era feita com uma película finíssima mas resistente, transparente como vidro, que nos permitiria ver tudo mas nos protegeria ao mesmo tempo que deixaria entrar o oxigênio purificado. Beleza de solução, apropriada para sonhos! para os meus sonhos, que nunca são totalmente catastróficos à primeira vista. Se parte do mundo ia acabar, ali estaríamos a salvo!
 Então eu soube que dentro dele ficaríamos até tudo estar seguro novamente e podermos voltar para nossas vidas. Só que, por uma fatalidade daquilo que, de sonho passa num instante a pesadelo, alguém apertou algum botão errado e sobre minha cabeça começou a fechar-se tudo. Eram 2 portas arredondadas como cabe a um disco voador, de pesado material, da cor verde e que fechou tudo impedindo a nossa visão. O fato de ser da cor verde trazia conforto, porém não resolvia tudo. E por instinto soubemos que, quando acabasse o nosso tempo de puro oxigênio ali dentro guardado, o nosso mundo iria acabar para nós, não importando mais o que ocorresse lá fora....Incrível, estávamos trancados naquilo que deveria ser nossa salvação! ìamos morrer sufocados!( bem realista meu sonho afinal de contas, porque o mundo acaba, de uma forma ou outra, para cada um de nós quando não pudermos mais respirar!)
 Meu sonho terminou no momento exato em que sentia tristeza e uma grande perplexidade diante de duas coisas que, para mim, significavam a maior perda real: - meu Deus! não poderei "ver" mais nada do mundo ao meu redor? e nunca mais fazer amor? nunca mais amar?
   Acho que se não acordasse naquele momento teria chegado à mesma conclusão que reforça o que norteou minha vida.... O que te dá a sensação de segurança e liberdade...é poder sentir o vento ao olhar pra longe e"ver" o que há adiante, seja nos horizontes ou ao redor e, acima de tudo, poder amar! Ou ainda...é poder amar e ainda olhar o mundo ao redor!
  Só nos sentimos realmente condenados a uma prisão que nos limita quando, não podendo olhar para longe nem sonhar o amanhã, também não tivermos junto a nós, o nosso objeto de amor, aquele que nos faz capazes de amar e de enfrentar tudo hoje!
  Contudo, sonhos sempre tem mais de uma interpretação...
Foto e texto: Vera Alvarenga

segunda-feira, 25 de março de 2013

Inconsistências.

- Tua visita me faz bem. Me sinto querida...

 - E porque pensas que ...
 - Vi tua luz acesa outro dia...
 - Você sabe que temos aqui nesta minha cidade por volta de seiscentos e quarenta e três mil habitantes? Se multiplicar isto por pelo menos três pessoas em cada residência poderíamos ter mais de um milhão de possibilidades. Poderia ser qualquer luz acesa em qualquer uma destas janelas. Acredite!
 - Mas era a sua, eu sei ( ou penso que sei), e fiquei feliz. Sempre fico. Nada de mais. Coisa simples assim como um sorriso que gruda ali no rosto por alguns momentos. Só isto, porque só isto é. E não te faz bem pelo menos saber que tua presença, apenas isto, faz bem a alguém?!!
 - Nunca é apenas isto.
 - Uma vez alguém ponderou se não seria melhor deixar os tristes entregues à sua tristeza, e os tolos às suas tolices. Sem envolvimentos, sem compromissos, nada pessoal mesmo para aqueles que convivem o dia a dia. Tantos vivem assim...
 - Já estás divagando. Não tem sentido. É ilusão que não se deve alimentar.
 - Sôbre ilusão, é claro, depois que, como num passe de mágica, alguém tira da cartola o coelho, então conta-se aos que se encantaram que tudo não passou de ilusão. E tudo é ilusão, já diziam desde sempre os pensadores, filósofos, religiosos, de muitas e diferentes formas. Será que existiu, de fato, o mágico ou éramos nós que precisávamos encantar nossas almas e, por isto, acreditamos e o aplaudimos? Quem nos fez levantar a cabeça e sorrir, então? Aquele que, com sua magia nos devolveu a fé por alguns momentos, ou nossa necessidade de sobrevivência? Ah, e o sentido? Talvez não seja apenas o sentido ou a falta dele, mas o que as coisas e pessoas representam para uns e outros. E do mais, você conhece o sentido? Sabe o significado da tua vida, do que sentes, das tuas perdas, daquilo que vês bem à frente do teu nariz? E os intelectuais que tantas palavras dizem e brincam com elas tantas vezes, e sabem da falta de nexo em tudo deste mundo pretensiosamente realista, conhecem o sentido ou ainda estão à procura dele?
 - Chega, assim não venho mais! Não estou dizendo que vim, apenas considerando que pensas que sou eu. A menos que compreendas a realidade das coisas eu... Sabe, poderia provar-te que estás enganada.
 - Já provou. Está bem. A razão aparentemente venceu e não quero ficar sem esta pequenina e frágil luz que me visita, mas não existe. E não me proves nada, nem com teu silêncio que já não me provou coisa alguma, nem com tuas palavras que mostravam a possibilidade de teus delicados sentimentos que a razão fez questão de classificar e agora, querem me ensinar como interpretar o que vi, li, ouvi. Ainda não sabes que para mim, o sentido está em sentir o mundo como o vejo em cada momento, não em saber dele as verdades inconsistentes e mutantes? Ah, sim! meu olhar é capaz de flexibilizar-se com o movimento da vida, mas grava na memória o sentimento do que quero preservar, quase intacto, deste mundo. Como uma foto, como um clic! Prefiro-o assim. Aliás, mais sorrisos eu quisera ver no meu rosto, e no teu, e no de tantos que envelhecem como nós sem conhecer o sentido de tantas coisas, mas preferindo vivê-las, mesmo assim...
  - Ah, mais uma última coisa... abraço-te, a ti que não mais existe, com tudo que já não sou.
Texto e foto: Vera Alvarenga




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