Andei lendo umas crônicas
divertidas, ontem. Uma especialmente me fez lembrar o que ocorreu no
restaurante outro dia. Quem é que não conhece um cara assim? Destes que tem bom
humor, mas às vezes parece querer desafiar a mulher com seu jeito de brincar com
quem mal conhece, em lugares públicos. Um cara destes que está sempre sorrindo,
bom homem, mas que você não pode nunca abaixar a voz e pedir-lhe discrição ou
fazer-lhe um sinal sutil, esperando que ele aguarde só um pouquinho para
fazerem comentários longe das vistas de outros... Destes que não compreendem a
delícia do que podem ser estes jogos sociais, na cumplicidade protegida pela
intimidade.
Eles estavam no restaurante por
quilo, onde almoçam todos os dias. Estavam na fila do caixa para pagar e ele
diz para a esposa:
- Pergunta aí pra ele se é a
filha dele, esta garota! Se referindo ao garçon que estava na mesa do canto, almoçando
em companhia de uma moça. Ao que a mulher respondeu em voz baixa:
- Eu perguntar? Que é isso? E
falando mais baixo ainda. Benhê..., eles podem ser namorados.
- De jeito nenhum. Não, ela é
muito nova pra ele, tem 12 ou 13 anos! Pergunta!
Ela estranhou a insistência e
ficou quieta. Era melhor. Mas ao sair, resolvida a relaxar e usar o assunto
para uma conversa bem humorada para passar o tempo, comentou que a mocinha
parecia ser a que já trabalhara no caixa por algum tempo. Ele duvidou. Sorriram
os dois. Ficaram ambos com vontade de
tirar isto a limpo e ela, com aquele jeito dela, discreto e meio tímido, pediu-lhe
que, pelo amor de Deus, não perguntasse ao rapaz se
era “filha” dele. Isto não era coisa pra se perguntar.
No dia seguinte, o garçon se
aproximou de sua mesa. Ela, sentindo que o marido já começava a sorrir,
perguntou ao rapaz:
- Aquela mocinha que estava almoçando
com você ontem, não era a mesma que já trabalhou aqui? Parece que me lembro
dela...
- Era sim! Agora está trabalhando
na loja ao lado.
Pronto, ela suspirou aliviada e
sorriu ao rapaz com quem já haviam conversado algumas vezes. Este tinha a idade
do filho deles e era muito educado. Ela se sentia bem por ter poupado ao rapaz
e a ela mesma, o constrangimento diante do possível “fora” do marido. Sorriu disfarçadamente porque sabia que não devia
provocar-lhe. E levantou para servir-se, sabendo que cometera
um erro. Aquele sorriso, mesmo discreto, significava que ela tinha acertado! Era
provocação quase certa para quem não gostava de perder, nem que fosse num
pequeno joguinho. O marido sorriu pra
ela daquele jeito que ela não gostava muito, com aquele brilho maroto no olhar
e em alto e bom som, disse apenas uma frase:
- Pensei que ela era sua filha.
Parece ter 12 anos! Ao que o garçon, sem graça, respondeu:
- Não! Ela tem 17! Olhando em
direção à tal moça que acabara de chegar e lhe dirigia um sorriso.
Até hoje ela não sabia de fato se
ele fazia isto para provocá-la, sabendo como ela ficava sem graça com certas
brincadeiras dele com estranhos, se era pra se vingar dela por ela ter lhe dito
o que não deveria dizer ou se era porque o marido tinha mesmo este jeito... era
mesmo inocentemente assim....
Se ela soubesse que ele ia mesmo
comentar, tinha dito pra ele, também em
alto e bom som, e sorrindo vitoriosa:
- Viu? Eu acertei!
Mas, quem mandou ela ser tão discreta
quanto o garçon?...rs.... Apenas o cara tão bem humorado se divertiu!
Foto: retirada do Google.
Texto:Vera.