Hoje tive de ficar
desde às 8:30hs. até às 17hs. em um local ligeiramente distante de minha
residência, para exame – medir em diferentes horários a pressão nos olhos. Bem,
como tinha de acordar muito cedo pois teria de sair de casa às 7hs., preparei
minhas coisas na noite anterior, deixando bolsa, roupa para o caso de esfriar,
livro, texto para corrigir, enfim, tudo à mão, inclusive um “dinheiro para
algum extra”, mania de gente que tem intuições e é prevenida, como eu. Levantar
antes das 8:30, para mim, é muito cedo. Não marco nada para este horário, a
menos que seja por motivo urgente ou saúde.
Meu marido combinou levar-me, pois não estou habituada a
dirigir em São Paulo, longe dos bairros que conheço. Se por anos o apoiei para
muitas coisas, ele hoje me retribui, me “choferando” para o essencial, como se
diz, “uma mão lava a outra”. Fez-me companhia por um tempo até o almoço – levei
palavras cruzadas para ele, demos uma volta no quarteirão daquele bairro
bonito, alto e perigoso ( segundo uma das técnicas do exame – “Se a sra. for
andar por aí a pé sozinha, pra fazer hora, melhor não levar bolsa!” – Fui,
assim mesmo, porque estávamos juntos, eu e ele). Depois,foi pra casa descansar e voltaria para buscar-me após às
17hs.
Hoje, por mais de
uma vez pensei:- “Ele me dá estrutura”. Foi ele também que me acordou, bem
cedo. Uma vez, um amigo disse-me isto sobre sua esposa, que ela lhe dava
estrutura. Achei bonito que ele reconhecesse. Acho que é comum, pessoas que se
amam, que convivem em estreita relação, darem-se apoio, de modos diferentes.
Todo um programa
tinha sido feito- ele ia pegar os netos em casa deles no final da tarde, os
três iam me buscar e ficaríamos com as crianças por algum tempo. Contudo,
sentiu-se febril, corpo mole, início de gripe. Acabou tirando um cochilo
necessário e os planos mudaram. Ao ligar para saber dele, meu filho contou-me
que ia mandar buscar-me de taxi, já que o pai não estava muito bem. Fazia
questão de pagar o motorista. – “Não precisa filho. Trouxe dinheiro comigo”, disse
eu, com orgulho da minha fiel intuição! A vida tem destas coisas em dias
corriqueiros, mudanças de planos, surpresas. Mas, existe taxi pra quê, não é
mesmo? E intuição? Quando nossas costumeiras estruturas de apoio são retiradas,
o que sobra é mesmo o que temos - nosso próprio esqueleto e o do taxista, é
claro. Será que alguém ainda crê que vive independente de outros? E a gente segue, tudo ok! a gente vê que pode
se virar.
Contudo, a minha
maior surpresa foi, depois de anos sem tomar taxi e tendo que enfrentar o
trânsito na marginal, no horário próximo das 18 hs., ver que o taxímetro corria
muito mais do que o carro e já marcava R$ 61,00! E o pior, quase chegando ver que
não havia dinheiro suficiente em minha bolsa! Que desagradável surpresa! eu esquecera
o dinheiro “extra”provavelmente separadinho, mas em outro local. Enquanto
aguardava meu marido finalmente decidir-se atender o interfone, já que ao
celular não respondia, e descer para pagar o motorista, após intermináveis
minutos de espera, o taxímetro já ia para quase R$ 70,00! (como é caro e
demorado locomover-se em São Paulo, uma das cidades mais movimentadas do mundo,
não é?).
E como tudo é aprendizado, foi fácil perceber
como nos descuidamos, todos e cada um de nós à sua maneira, quando estamos
habituados a contar com estruturas de apoio( e sorte nossa quando as temos! e quando compreendemos que é
melhor e natural que existam, e que por elas devemos ser gratos ). No mais,
agora é certificar-me de nunca sair sem recontar o dinheiro para o taxi, nem
que seja para escondê-lo na roupa íntima, à exemplo dos políticos
desonestos... só que no meu caso, seria por pura precaução e segurança
pessoal...
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Crônica; Vera Alvarenga