Lendo
algo sobre Platão, penso que me ajudou a compreender um pouco os
relacionamentos e porque insistimos, alguns de nós, em tocar o céu com os
dedos...
Com certeza não nos é permitido viver um
grande amor, daqueles que nos satisfaçam plenamente, o tempo todo. Somos
humanos, e neste mundo dos sentidos em que tudo se modifica,se transforma e tanto
nos é exigido como se fôssemos máquinas, muito de nossas atitudes fluem ao
sabor das circunstâncias e impermanências. Assim, o que nos agrada e nos lembra
o amor ideal, o verdadeiro sentimento pelo qual todos ansiamos, ora está ao
nosso alcance, ora já não está mais. Num relacionamento amoroso, espera-se que
o casal esteja atento para cultivar as oportunidades de vivenciar estes
pequenos deliciosos bocados do amor. Quando isto passa a não ocorrer mais,
porque uma das pessoas se deixou engolir por uma crença qualquer que a impede
disto, instala-se a dúvida se tudo não teria
passado de ilusão...
Mas não! Quando encontramos uma pessoa pela
qual nos apaixonamos e com ela convivemos, desenvolvemos um relacionamento de
amor e, acredito, que de fato experimentamos muitos momentos de satisfação deste
nosso desejo por este sentimento pleno. Algumas pessoas, uma vez tendo consciência
de tudo que este sentimento lhes proporciona, agarram-se a esta idéia como se
fosse a lembrança de algo de valor que resgataram para si e não o querem esquecer.
Portanto, se lhes falta este íntimo encontro com o sentimento, sentem-se
desconfortáveis, vazios, inúteis. Nos deixar preencher por ele, mesmo que por
momentos, é o que nos é possível em nossa condição humana, é o que nos basta para recarregar energia,
relembrar a existência de algo bom e do bem, exercitar o melhor em nós devido a
algo que talvez nossa alma já tivesse conhecimento e sentisse saudade.
O sentimento de amar pode ser para sempre,
porém o amor é vivido realmente em alguns momentos especiais. Tais momentos se
dão quando as almas se encontram, apesar de estarem vivendo uma vida normal e humanamente
possível. Vivenciar estes “encontros” mesmo rápidos, fugazes, com quem a gente
escolheu amar, é como renovar-se e nos mantém centrados e em paz, por um tempo
ainda, mesmo depois que acontece – e pode ser um olhar, um gesto, um toque. É
como se nossa fé na vida e em tudo o mais também se renovasse, porque
vislumbramos o significado maior das coisas. Em relacionamentos mais longos, há
inúmeras oportunidades para que isto ocorra. Há inúmeras formas de se dar este
encontro que propicia este pequeno milagre – é como tocar nossos dedos no céu
por um instante e ver que aquilo que tínhamos em mente e no coração, não é uma
idealização barata e infantil, mas um pequeno sinal de algo ainda mais belo, e
durável, e maior do que nos é possível supor.
Evidentemente, há relacionamentos que se
desgastam, minam energias de um ou ambos, porque alguém ali desistiu. A
desistência pode ser a desvalorização do sentimento ou ato de fé que lhe
conferiria a leveza para flutuar num espaço imaterial onde a realidade do amor
pode existir em toda sua extensão. Há desistência quando uma das pessoas
envolvidas na relação pensa que aquilo é imaterial e simples demais para ser
importante, e passa a duvidar ou menosprezar o que antes, verdadeiramente, lhe
trazia conforto. Pelo descaso, estes pequenos momentos de quase pleno contato
com o que satisfaz, se tornam raros. Apagam-se de sua memória pequenos atos
sinceros que julga sem valor, ou pior, desdenha deles. Deixa-se envolver de tal
modo pelo que é de fato ilusório e de menor valia, que se compraz com o viver
na comodidade da sombra, como se na vida comum não pudesse haver lugar para o
prazer e a alegria singela de tocar, com o dedo, o céu.
Outras
pessoas, por sua vez, se adaptam mas não se conformam, como se sua alma estivesse
sempre ansiando por estes pequenos instantes de contato com a luz para se
recarregarem de fé e vida.
Porque já tiveram contato com o que mais se assemelha e lhes recorda a idéia de amor verdadeiro, o qual sua alma já conheceu, sua consciência sabe que existe e seus sentidos já provaram pequenos bocados, estas são as "inconformadas". Algumas até, podem seguir dóceis pela vida ou desistir dela, ou desligarem-se em algum grau da realidade que as cerca, mas, porque não conseguem desistir ou "esquecer" totalmente aquela "idéia" carregam consigo, lá no fundo, o anseio amoroso. Para as primeiras, estas outras que se demoram em desistir, que continuam como que apaixonadas por uma idéia parecem inquietas ou difíceis de contentar porque enquanto tem força, estão em busca de algo que, conquanto seja simples, não está mais ali, embora guardem a esperança de o encontrar. E o que não está mais ali pode ser simplesmente o consentimento e comprometimento do outro - uma vez que os tivessem recebido, seria possível a ambos tocarem novamente o céu, mesmo que por valiosos e rápidos instantes. Com o tempo, em alguns casos, estas últimas sentem-se murchar. Ambas ou uma delas pode se aquietar e para sempre adormecer em si, a idéia luminosa que outrora lhe fazia brilhar o olhar.
Porque já tiveram contato com o que mais se assemelha e lhes recorda a idéia de amor verdadeiro, o qual sua alma já conheceu, sua consciência sabe que existe e seus sentidos já provaram pequenos bocados, estas são as "inconformadas". Algumas até, podem seguir dóceis pela vida ou desistir dela, ou desligarem-se em algum grau da realidade que as cerca, mas, porque não conseguem desistir ou "esquecer" totalmente aquela "idéia" carregam consigo, lá no fundo, o anseio amoroso. Para as primeiras, estas outras que se demoram em desistir, que continuam como que apaixonadas por uma idéia parecem inquietas ou difíceis de contentar porque enquanto tem força, estão em busca de algo que, conquanto seja simples, não está mais ali, embora guardem a esperança de o encontrar. E o que não está mais ali pode ser simplesmente o consentimento e comprometimento do outro - uma vez que os tivessem recebido, seria possível a ambos tocarem novamente o céu, mesmo que por valiosos e rápidos instantes. Com o tempo, em alguns casos, estas últimas sentem-se murchar. Ambas ou uma delas pode se aquietar e para sempre adormecer em si, a idéia luminosa que outrora lhe fazia brilhar o olhar.
Muitas vezes, a mais dominadora e rígida
sobrevive com a certeza de que sabe de todas as coisas e de que, graças a seu
modo realista e materialista de agir é que a verdade do mundo se constrói. Enquanto a outra, por vezes,
acaba por conformar-se com sua própria loucura causada por aquele anseio amoroso
que não encontra mais eco num mundo dito real. Entretanto, quem conheceu o amor
jamais o esquece! E quanto mais o sentiu maior a falta que seus sentidos terão de tudo que era um reflexo dele. Mesmo que ambos se adaptem, porque flexíveis são os seres
humanos, a alma, inconseqüente, porque é amante da vida e não tem idade, pode
então desejar criar nova idéia que não a deixe esquecer como é reavivar aquele
sentimento. E, por sua teimosia em conformar-se, arrisca-se a confundir-se, e tentar
até, talvez um dia, tocar o que no escuro é o piscar de um vagalume, pensando
tratar-se da luz que conheceu!
Texto: Vera Alvarenga
Vídeo da Música com Fábio Junior - Foi tão bom.