Deixou os outros entretidos numa conversa destinada a se estender e da qual não queria participar. Voltou sozinha ao local por onde haviam passado há instantes.
Ia tirar as últimas fotos.Com esta desculpa, afastou-se de mais uma provável discussão.
Discutir democraticamente, faz parte do pensar. Contudo, há ocasiões em que isto é um sacrilégio, quando situações,como este passeio, são criadas exatamente para que se possa sentir momentos de paz. Por que as pessoas precisavam resolver suas diferenças de opinião, justamente quando tudo estava bem, e em meio a uma paisagem linda como aquela? Por que não relaxar? Talvez seja porque a vida não pode esperar e, cada um tem suas prioridades. Por isto ela respeitou, mas se afastou.
À sua frente, o mar estava azul, lindo, brilhando à luz do sol de um final de tarde.
Tirou fotos. Tinha medo de altura. Aproximou-se do barranco, mas guardou uma distância segura. Ùltimamente, desejava sentir-se em segurança. Segurança era o que aquele local devia representar no passado, afinal era um "Forte". Ela, porém, não queria a segurança das armas. Hoje, ela queria voar.
Atrás de si, sabia que estavam suas coisas já conhecidas, alguém mais forte do que ela, pessoas que amava,o mundo ao qual ela pertencera até então.
Olhou para o horizonte distante. Sentiu o vento no rosto. Ah, se tivesse asas!
Voaria, e alguns dos seus iam finalmente admirá-la por ousar conquistar novos horizontes? Antes lhe bastavam aqueles que seu olhar alcançava! O que haveria para lá daquelas montanhas, para lá de onde seu olhar podia alcançar? Sentia-se em paz como quem já cumprira sua missão.Todos que amava tinham sua própria vida, encaminhados, cada um por sua própria conta,cumprindo seus destinos. Ela bem que poderia voar dali, com sua máquina fotográfica, antes que o cansaço a vencesse.
Ora, quem não gostaria ? Voar, e voar. Alguns prefeririam voos solos, outros, conquistar alturas, outros ainda sentiriam o prazer em vencer os desafios dos ventos,das distâncias. Ela não. Ela queria apenas se encontrar, em si, mas também, no outro.Aves não fazem voos sem planejamento, sem intenção, sem direção. Ela também não.
Quem estaria lá, do outro lado daquelas montanhas no horizonte distante? Sim, era distante, distante por demais. E ela ainda seria a mesma, buscando o mesmo. E, com certeza, não era a liberdade para atravessar sozinha aquela imensidão azul! Não eram as conquistas de liberdade para altos vôos solitários que lhe dariam prazer ou significado. Suas asas não teriam forças! Não, certamente, não. Sem o vento para ajudar, sem pontos de apoio em meio ao caminho, sem outras asas a bater a seu lado, ou um olhar à frente a lhe inspirar? Isto seria aventura para aves solitárias, águias talvez, que quisessem voar apenas a grandes alturas. Ela gostava de voar e depois sentir o imenso prazer de planar, como as gaivotas, para experimentar a imensidão e sentir o vento,mas o ninho tinha de ser confortável, seguro e próximo. Não temia a solidão dos momentos de intimidade consigo, mas como as andorinhas, queria saber-se acompanhada por outra ave semelhante a ela, que experimentasse o prazer de uma especial companhia durante os vôos .
Se tivesse asas, talvez hoje ela se arriscasse... e cometesse um crime contra sua natureza de andorinha.
Ah, por isto Deus não lhe dera as asas de uma águia!
fotos e texto : Vera Alvarenga
Ia tirar as últimas fotos.Com esta desculpa, afastou-se de mais uma provável discussão.
Discutir democraticamente, faz parte do pensar. Contudo, há ocasiões em que isto é um sacrilégio, quando situações,como este passeio, são criadas exatamente para que se possa sentir momentos de paz. Por que as pessoas precisavam resolver suas diferenças de opinião, justamente quando tudo estava bem, e em meio a uma paisagem linda como aquela? Por que não relaxar? Talvez seja porque a vida não pode esperar e, cada um tem suas prioridades. Por isto ela respeitou, mas se afastou.
À sua frente, o mar estava azul, lindo, brilhando à luz do sol de um final de tarde.
Tirou fotos. Tinha medo de altura. Aproximou-se do barranco, mas guardou uma distância segura. Ùltimamente, desejava sentir-se em segurança. Segurança era o que aquele local devia representar no passado, afinal era um "Forte". Ela, porém, não queria a segurança das armas. Hoje, ela queria voar.
Atrás de si, sabia que estavam suas coisas já conhecidas, alguém mais forte do que ela, pessoas que amava,o mundo ao qual ela pertencera até então.
Olhou para o horizonte distante. Sentiu o vento no rosto. Ah, se tivesse asas!
Voaria, e alguns dos seus iam finalmente admirá-la por ousar conquistar novos horizontes? Antes lhe bastavam aqueles que seu olhar alcançava! O que haveria para lá daquelas montanhas, para lá de onde seu olhar podia alcançar? Sentia-se em paz como quem já cumprira sua missão.Todos que amava tinham sua própria vida, encaminhados, cada um por sua própria conta,cumprindo seus destinos. Ela bem que poderia voar dali, com sua máquina fotográfica, antes que o cansaço a vencesse.
Ora, quem não gostaria ? Voar, e voar. Alguns prefeririam voos solos, outros, conquistar alturas, outros ainda sentiriam o prazer em vencer os desafios dos ventos,das distâncias. Ela não. Ela queria apenas se encontrar, em si, mas também, no outro.Aves não fazem voos sem planejamento, sem intenção, sem direção. Ela também não.
Quem estaria lá, do outro lado daquelas montanhas no horizonte distante? Sim, era distante, distante por demais. E ela ainda seria a mesma, buscando o mesmo. E, com certeza, não era a liberdade para atravessar sozinha aquela imensidão azul! Não eram as conquistas de liberdade para altos vôos solitários que lhe dariam prazer ou significado. Suas asas não teriam forças! Não, certamente, não. Sem o vento para ajudar, sem pontos de apoio em meio ao caminho, sem outras asas a bater a seu lado, ou um olhar à frente a lhe inspirar? Isto seria aventura para aves solitárias, águias talvez, que quisessem voar apenas a grandes alturas. Ela gostava de voar e depois sentir o imenso prazer de planar, como as gaivotas, para experimentar a imensidão e sentir o vento,mas o ninho tinha de ser confortável, seguro e próximo. Não temia a solidão dos momentos de intimidade consigo, mas como as andorinhas, queria saber-se acompanhada por outra ave semelhante a ela, que experimentasse o prazer de uma especial companhia durante os vôos .
Se tivesse asas, talvez hoje ela se arriscasse... e cometesse um crime contra sua natureza de andorinha.
Ah, por isto Deus não lhe dera as asas de uma águia!
fotos e texto : Vera Alvarenga