Suas mãos foram em busca do exercício do sentir. Foi tateando e conhecendo novamente aquele que conhecia tão bem.
E ia envolvendo cada parte, descobrindo cada textura e reação. Caminhando pelo conhecido, sem medo de se aventurar, como quem sai a caminhar por terras que são suas, apenas para não perdê-las de vista, para saborear seus encantos e tomar posse, mais uma vez, do que é seu. Fechava os olhos, quando em vez, porque sabia cada som, cada canto, e dedilhava, tocava suavemente ou pressionava, conforme sua vontade. Se um dia ficasse cega, o reconheceria pelo tato. Se um dia esquecesse de tudo, seu corpo guardaria a memória do que é sentir. Agora não tinham fome e ela podia ir lentamente. Era uma brincadeira, sua hora de brincar e ela se deliciava, e sorria. Em troca, só exigia a entrega. Não pensava que devia exigir mais, embora, às vezes virasse o jogo ao contrário, e ficasse ali inerte fingindo dormir, próxima o suficiente para que ele desejasse acordá-la. Era um acordo deles, nunca posto em palavras, nem contestado, um acordo de paz num campo nem sempre fértil, nem sempre próspero, nem tão florido assim. Mas era o território dela. Olhava o campo coberto de verde e seus olhos sabiam que havia recantos a explorar. Sentiu o calor do sol na pele e a brisa no rosto. Montou a cavalo e saiu a galopar, e junto com o vento, inspirando os aromas do campo, já podia ver no fim do caminho, as flores silvestres que ia colher.
E naquele instante eles eram tudo, não careciam de nada mais.
Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google - não há referência ao fotógrafo.
Olá Vera, boa tarde. Novamente o fez, uma cadência detalhada pela sensibilidade que permite a quem a lê a fruição das emoções que transmite. Eu diria, se me permite retirar uma frase fora do contexto, que lê-la será exactamente exercitar o sentir. Gostei muito de visitá-la. Valeu bem a pena. Um abraço e bom fim de semana.
ResponderExcluirOlá José, boa tarde! Estou, aos poucos,conhecendo seus trabalhos e devo dizer que invejo quem sabe, como você, escrever e escolher as palavras de tal forma que coloca o vocabulário e emoção a serviço da boa literatura e ainda como incentivo a quem, como eu, escreve porque precisa ( quase por egoísmo, porque a alma não se satisfaz com a rotina que escolhi para viver)rs...
ExcluirEntão, muito obrigada. Um abraço também e que tenha momentos felizes em seu final de semana!
Vera Alvarenga.