" Benditos sejam os amigos... espelhos que refletem o que somos!"

Quem já tenha se sentido apaixonada pela vida, desejará ser aceita pelo que é... incondicionalmente.
     Quem já viveu momentos assim, sabe que eles tem brilho próprio, que cada gesto, embora parecendo frágil, é forte e verdadeiro o suficiente. A cumplicidade é maior, até porque se sabe, que tais momentos são efêmeros, únicos, como borboletas de asas douradas! Jóias que guardamos apenas na lembrança, porque não podemos possuí-los, por um tempo que não seja o intrínseco a eles - são breves estes momentos !

    Tenho saudades de um amigo ... um que se foi, tão cedo! e que me amava de um modo especial...Seu nome era Antonio Carlos.

   Quando a gente se sente cansado ou com medo de falhar diante dos desafios,quando se torna ainda mais necessário resgatar a fé em nós mesmos, este momento de cumplicidade amiga é vital ! É quando precisamos que algo ainda nos faça crer que somos bons, que vamos conseguir exatamente por sermos do jeito que somos.Não estou falando do amigo que aponta os erros. Apontar os erros é sempre o mais fácil. Falo do momento em que ele simplesmente nos ajuda a ver o que somos, mas principalmente não esquece de mostrar e valorizar o que é bom em nós.

     Na tentativa de não deixar esmorecer o entusiasmo no nosso jogo da vida, mesmo assim, as vezes a gente falha ou perde o brilho... e as asas ficam encolhidas e se apertam dentro do peito... Então, a gente sente a necessidade de ir ao encontro deste momento, lembrar para resgatar o que pertence a nós. Nestas ocasiões, deveríamos poder reabrir a “caixinha” onde guardamos tais tesouros, que nada mais são, do que simples momentos fugidios que nos fazem melhores, como pessoas.

   O mundo é feito de opostos (ou complementares) e com eles vivemos a maior parte do nosso tempo.     Mas há os que são também semelhantes.
    E há também dois tipos de amor que parecem estar em oposição : um, é o amor que sentimos pelo outro, pelo qual renunciamos tantas vezes ao nosso eu egoístico; o outro, é o amor por nós mesmos, pela afirmação do que somos, através do que nos agrada ou de nossos "amigos espelhos” ( que são semelhantes a nós em alguns aspectos). Ao mostrarmos a eles, parte do que somos em nosso íntimo, se nos aceitam incondicionalmente, o que podia parecer egoísmo, como amar a si mesmo, já não o é. Porque, se somos aceitos e admirados, nos reafirmamos como as pessoas singulares que somos e teremos mais de nós, a oferecer a outros. Assim, o que admira, e portanto dá, nada perde e acaba recebendo mais em troca. E o que é admirado e recebe, se torna fértil e espalha suas bênçãos multiplicadas. Tudo graças a alguns momentos de amizade, cumplicidade e aceitação do que o outro é!

     Não são comuns estes momentos e nem para qualquer um que se intitula amigo, mas quando ocorrem são um presente e  recarregam nossas “baterias”, nossa energia vital. Um gesto simples e verdadeiro de amizade incondicional, oferecido por nós ou recebido, nos torna melhores como pessoas ! Não é coisa que possamos "cobrar", exigir, ou esperar que seja constante, embora a pessoa que o oferece a nós, geralmente tem certa coerência previsível. Contudo, o gesto em si, como a borboleta de asas douradas, é livre, fugaz, um milagre que a gente recebe, ou não ! É assim que é ! É compreensível portanto,  que sintamos saudades daquelas pessoas que tiveram tal gesto, foram amigas, se faziam “espelhos” para nos mostrar o que temos de bom. Quanto mais estivermos carentes destes momentos de cumplicidade, mais saudades sentiremos daqueles que um dia, nos ofereceram tal presente. Portanto, não há culpa nesta saudade – é questão de sobrevivência – e só a sentimos quando nos falta....

    Mas a saudade dói e a gente acaba negando a emoção e o desejo de ter mais momentos como este e vai se amortecendo.

      Tenho medo quando me sinto assim tão vulnerável, a ponto da saudade doer tanto... mas agüento firme e a encaro... porque tenho ainda mais medo, do dia em que conseguir de fato, amortecer a saudade daqueles que despertaram em mim, a fé e o entusiasmo pela vida!

Para um querido amigo, que se foi tão cedo, e deixou saudades!
texto: Vera Alvarenga
imagem: google- pode ter direitos autorais