domingo, 9 de março de 2014

sexta-feira, 7 de março de 2014

O silêncio...





Há uma coisa que existe que, quando a gente pensa nela, já não é.Não que não existam outras assim mas me refiro a algo realmente raro.
- Penso, logo existo! Ah! Mas para esta coisa, o pensamento é como intruso que vem às escondidas tirar-lhe a vida. Rubem Braga escreveu que no silêncio vive a última palavra ou o último gesto. Fiquei encantada quando li isto.
   Há o silêncio no mundo que nos cerca e que às vezes emudece, e o silêncio que está entre nós nos envolvendo ou nos separando, mas também há aquele particular que se esconde no interior de cada um. Penso que no silêncio, que era ao qual me referia desde o início, naquele que eu posso chamar de "meu" porque a ninguém mais pertence e dele posso fazer o que quero, habitam também sentimentos mais antigos impressos como tatuagem, que vem inesperados como pássaros em revoada ou como água do mar quando enche o buraco que uma criança cavou na areia. Quando a gente olha para ele é como se visse, num dia de sol, o brilho daquele anel antes de cair no mar, ou como o desejo de sentir o abraço do homem amado durante um sonho numa noite fria. A visão dura apenas um segundo... se a gente estende os braços, já não está mais lá.
   Em alguns momentos ele vale ouro, em outros incomoda ou é melancólico.
   Nos meus momentos de silêncio, já viveram gestos de amor, pela lembrança daquele sentimento vivido tantas e tantas vezes. Em alguns outros, a saudade veio doida como jamais tinha sentido antes, talvez porque jamais tenha tido antes uma visão como aquela. Talvez porque no silêncio viva o último sonho, precisei deixar o barulho de mil palavras e dos ventos e também dos gestos passarem sobre mim, como se eu fosse deserto varrido por tempestade de areia. Tudo para cobrir em mim aqueles sinais, que como cicatriz ardia ao sol  mas se acalma quando protegida, ainda que sempre esteja lá.
  Nos momentos do silêncio do mundo, sentia saudades do que ficou de você, em mim. Já nem sei se é você que ainda está lá, se o que há de você é mais meu que seu, mas ainda sinto saudades.
   E houve alguns raros instantes do silêncio ao qual eu mesma me entreguei, pelo qual me deixei absorver em meio a natureza ou pela meditação, nos quais, surpreendentemente experimentei paz... e nela, eu nada mais precisava, a não ser me deixar ficar ali sentindo aquela presença. E assim como o silêncio, também esta paz a mente não conseguia compreender, e o tempo desta indescritível visão durou apenas um piscar de olhos, como quando a gente vê o brilho do sol refletido naquela pequenina onda no meio do imenso oceano...

foto e texto:Vera Alvarenga

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Minha idade...



Deparei-me, como tu, nesta condição - minha idade também não é agora!
Minha idade é a do espanto e medo diante de um mundo tão grande que estava além dos portões da segurança de minha casa e eu entrava nele sozinha, aos poucos, levando uma lancheira que era uma malinha de couro, quase 1/3 do meu tamanho. Lembro-me das perguntas sem resposta, dos silêncios em oposição à minha mente curiosa mas que se acalmava porém, pois ao futuro cabia encontrar as respostas, e naquele presente me cabia apenas sentir-me livre para imaginar. Esta curiosidade, carrego ainda comigo.
  Minha memória me leva pelas águas de um rio calmo ao tempo em que finalmente conheci o amor e este me levou ao oceano e a mares distantes, a enfrentar tempestades e calmarias conforme a maré, e percebi que jamais teria de imaginar coisas porque meu mundo e minha vida estavam ali, vibrantes, e minha determinação era a de viver a vida como ela se apresentasse. E amando, o medo do mundo foi embora.      Mas minha idade está também naqueles dias em que o medo voltou, ainda que não temesse por mim mas por eles, os filhos,que me ensinaram a ser mais corajosa, pois que o amor por eles forjava em mim o desejo de cuidar e proteger. E quando cresceram, recebi de cada um palavras que não esperava, mas me caíram como um abraço de veludo.
  Minha idade ficou naqueles dias em que, já quase velha, pude ser por muito pouco tempo a cuidadora de minha mãe e desejei a vivência de um amor à toda prova. E pude sentir, até mais que compreender, aquela que foi a mãe. A idade que tenho agora foi marcada também nas vezes que pensei que ia perder para sempre o amor da minha vida, e quando me perdi de mim mesma. Sim, minha idade me faz viajar pelos momentos em que tive medo, porque jamais existi sem ele, e a cada vez tinha de superá-lo.
  Há um momento de minha vida, oportunidade que me foi oferecida, que me chegou como um presente de Deus. E eu o aceitei e o abri docemente e grata - era um outro tipo de amor - foi quando pude sentir as mãozinhas de pequeninas crianças amadas, os netos,em meu rosto e, através de seu sorriso viajar no tempo, e mergulhar num sentimento de ternura que nunca tinha sido jamais esquecido. Minha idade traz este sorriso indelevelmente marcado na minha alma. Junto com ele a experiência de amar outra mulher, e depois outras, e através deste amor, resgatar o amor por mim.
   E quando eu já estava ficando velha de fato, como mostram as marcas de minha idade, e pensava que não era mais capaz de sentir o amor pela vida, esta me levou por caminhos onde me julguei perdida. E, porque o amor renasceu em meu coração da forma mais inesperada, e o medo e o desejo me queimaram igualmente por dentro, como se fossem vida ainda vivendo em mim, como brilho de sol que entra pela floresta e deixa ver um pedacinho de uma fonte de água límpida, apenas para lembrar-me que ainda estou viva...naquele momento, bem ali, está a minha idade. E até mesmo quando percebi que a fonte era uma ilusão que imaginei e o barulho da água não lavou minha alma, é lá que minha idade ficou.
  Não sou a mulher de agora, nem sou apenas minha idade em meu rosto.
  Minha idade está no assombramento perpétuo diante da vida, no medo que era receio mas não me congelou, e nos momentos mais fortes em que eu pude, nitidamente conhecer o amor... ou sonhar com ele.

Texto:Vera Alvarenga
música do youtube - Enya-"A day without rain" 

I'm Your Angel (Tradução) Celine Dion - Mayrinha

Teu Sonho Não Acabou - Taiguara - Melhor Qualidade

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