segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Como se o tempo fosse acabar...


Ao mesmo tempo que fechou a porta, silenciou os pensamentos.
Trazia um copo de vinho e movia-se devagar, para não assustar as delicadas lembranças. Não de alguma coisa específica, mas de um jeito de sentir-se.
Acendeu a vela que estava guardada há tempo e a colocou ali, displicentemente, ao lado. Do vidro maior deixou cair os cristais coloridos da cor que ela mais gostava. E daquele vidrinho menor, retirou a tampa empoeirada e derramou gotas do óleo essencial perfumado...
- Ah! a luz! Apagou-a.
 Agora sim, a realidade deixada de lado por instantes devolvia o clima necessário para o momento. E a realidade bem que podia ser deixada de fora, porque o que importava agora, era o sentir... sentir o prazer de proporcionar ao corpo, que já não era mais belo nem jovem, o toque quente e macio e, aos sentidos, a delícia de pequenos e raros prazeres... Era importante também o não sentir... não sentir pressa, não sentir-se pressionada a falar ou funcionar num ritmo que não fosse aquele, que iria pacificar seu coração.
  O coração, quando jovem, esteve correndo por si, pelos outros, pela vida! Por circunstâncias e cobranças, para cumprir prazos, chegar em algum lugar... onde estaria seu amor a lhe esperar? Por um encontro, finalmente um verdadeiro encontro, talvez? Um encontro de entrega, de paz, de deixar-se ficar?
Ah! mas a vida é feita de fugazes encontros. Momentos raros, gotas preciosas e essenciais, ela sabia.
 E soubera apreciar os que tivera.
Inspirou devagar, como se quisesse provar, aos poucos, daquilo que era especialmente bom.
E era...embora estivesse sozinha. E ainda que tivesse se acostumado a ver sentido nas coisas só quando estavam sendo compartilhadas, aquilo era bom. Recostou-se, tomou um gole do vinho...
À meia luz tudo era ... era... como tinha de ser. E simplesmente relaxar... que luxo!
Afastou um pensamento conhecido:
- Ah! mas seria muito melhor se ele estivesse...
Não. Por esta vez não ia se deixar abalar por sua convicção de que estar ali, sozinha,  não era o bastante. Colocou o roupão de lado e pôs os pés na água. A temperatura estava excelente - quente - era assim que gostava do banho naquela estação do ano.
Aquilo era também uma despedida. Aquela hidro tinha estado sempre lá, por anos, e quase não houvera tempo ou disposição para curtir o que hoje decidira aproveitar, pela última vez, antes da mudança.
Tanta coisa a interferir, a nos levar para as raias das corridas como se fossemos cavalos selvagens...
Assustou-se. De repente o telefone tocou. Assustou-se porque sabia que tudo aquilo que mal tinha começado já ia chegar ao fim. Assim, sem mais nem menos, só porque ela tinha esta mania de atender a tudo como se... como se o tempo fosse acabar.
Sentiu frio ao levantar-se da água e então, se deu conta. O tempo estava mesmo se acabando! Já era hora de algumas escolhas.
- Não, sinto muito...desta vez não!
- Mas e se for um dos ... E então, riu de si mesma.
- Pára com isto sua louca! ... nada vai acontecer com quem quer que seja, que não possa esperar.Tenho um encontro, um destes instantes que perfumam a vida.
E lentamente deixou-se ficar naquela lânguida paz.... consigo mesma...

Foto retirada do google. Texto: Vera Alvarenga.

sábado, 10 de agosto de 2013

Amado

Algumas músicas, em determinados momentos, são como uma extensão dos sentimentos...
suas notas, as palavras, parecem dançar em nós e dali sair como um suspiro,
um desabafo, um soluço, uma canção nascida ali no peito...
e por vezes, é só o que resta...uma constatação
do que existe apenas como um desejo... um sonho...
uma quimera que mora no coração...
e para sempre ali se encerra...






Música: Amado..canta Vanessa da Mata
Texto: Vera Alvarenga. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Embaraços de uma pretensa escritora...

Escrevi mais um livro infanto juvenil, já há algum tempo. E ele é bom. Sim, podia virar filme... e dirigido por Spielberg ficaria maravilhoso!
Tem 80 páginas e se trata de uma aventura encantada, onde a garota...bem, não posso contar, ainda.
Há dias, meses, que o estou preparando a fim de enviar a algumas editoras. Então, fui seguindo passo a passo, primeiro revisando, depois registrando na Biblioteca Nacional, depois procurando por editoras que estejam recebendo originais...porque algumas não estão, outras podem demorar até 2 anos para dar uma resposta, e um amigo me disse que o setor editorial está em crise... mas enfim, escolhi uma, para a primeira tentativa. E ela pede exclusividade por algum tempo. É justo.
Contudo, hoje me deparei com um problema que me deixou "presa" entre uma palavra e outra. Por ignorância minha, lá fiquei eu a olhar surpresa para as duas palavras que fazem parte de uma exigência que devo cumprir, sem saber o que fazer - pedem-me uma "sinopse" e um "sumário". E eu que pensei que fossem dois modos diferentes de dizermos a mesma coisa, ou coisa bem semelhante!
Mas, certamente não é, ou não teriam me pedido isto, não é mesmo?
Então, lá fui eu, entre uma providência e outra do dia a dia de quem está finalizando uma reforma de apartamento, procurar no Google, Dicionário, Wikipédia, Fóruns, etc.. o que cada coisa significava.
Complicado isto. Wikipédia começa assim: " um sumário, por vezes chamado de sinopse"...Ui ! mas lá aprendo que são diferentes de um resumo. Já é um passo.
Uma coisa leva a outra e, entre uma saída e outra, vou lendo sobre o assunto em diferentes lugares, em diferentes momentos, até quase tratados sobre o assunto ( o que em parte me alivia porque descubro que não sou só eu que não sabe distinguir muito bem a diferença). E é claro, é preciso que eu saiba o que fazer "EXATAMENTE" porque se eu não cumprir com as "normas" para avaliação do original, o meu pobre livro, pobre porque deixado nesta situação, mas muito bom por sinal, nem ao menos irá para avaliação.
Bem, sonhar é possível, e é coisa para os sonhadores como nós, artistas ou escritores. Mas, dá uma sensação de impotência já que desde o início da tentativa não sabemos, na verdade, o que é exigido exatamente de nós, uma vez que há divergências no modo como nos indicam que deva se fazer cada coisa...    E há textos tão complexos que não compreendi. E também li que..." os grupos de revisão podem desenvolver políticas próprias sobre o processo de elaboração de sinopses". Isto em parte é bom, porque se eles podem, penso eu, que eu também possa...rs... Mas não, não é assim.
Mais um dia passou num piscar de olhos e fico pensando que, na próxima encarnação, vou nascer com sensibilidade artística novamente mas... vou começar a ler desde criança, talvez meu pai seja o dono de um sebo ou livraria... rs...além de incentivar minha sensibilidade como já o fez este que tive... terei uma excelente memória e quero ser uma grande escritora. Tão grande que meu editor não me peça uma sinopse! Tão boa que não eu, mas minhas palavras é que vão emocionar, e estarão perfeitamente arrumadas em contos e textos que encantarão uns, farão outros refletirem, divertirão ainda mais alguns e sempre lembrarão um pouco do belo e de amor aos que as lerem. Além disto, pelo menos 2 livros se transformarão em filmes que vão emocionar ( eu me emociono com alguns livros e filmes, principalmente como os encantados ou como o " A menina que roubava livros").
Bem, mas enquanto este tempo não chega, lá vou eu aprender o que fazer destas duas palavras.

Uma coisa é certa. Se meu livro não for aprovado para publicação em nenhuma editora, de todo modo, para servir de consolo, eu poderei pensar que talvez...só talvez... ele não tenha sido nem considerado e levado para avaliação só porque eu não soube, de verdade, o que eles queriam de mim, além da minha história...rs...

Texto e foto: Vera Alvarenga
Para pesquisa sugiro, entre outros... : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-86501998000200011
Achei um tanto confuso...: http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_professor_virtual_perguntas_00092.html

domingo, 21 de julho de 2013

Eu e meus cachos...

   
 
 "Espelho, espelho meu, existe alguém (na minha idade) mais..."
 - Sim, sim, claro! Todas as que tem cabelos lisos! ..kkk...
 
  Não estou querendo me vangloriar (não tenho motivo), nem dizer que não enxergo a realidade. Bem sei como meu cabelo está quando acordo(uau! corro para o banheiro), bem sei que não é de qualquer ângulo que fico bem em fotos, bem sei que se tivesse 8 kgs. a menos estaria melhor, que nesta idade não é todo dia que estamos bem..rs...bem sei... CHEGA!

Saimos 6ª f. à noite com filho e nora. Eles elogiaram meu cabelo ( também concordo..mesmo miojo...rs... está mais bonito assim mais curto e depois que vi 2 vídeos). Eu tinha assumido meus cabelos brancos e cachos, mas não cuidava deles..Se não era vaidosa antes, pra que vaidade com esta idade?? pensava eu.

Hoje estou me sentindo bonita, e pronto! Com meus cachinhos, que na verdade gostava mas não sabia como lidar com eles!! E agora sei.
Sou como qualquer outra mulher..quando a gente se arruma e se acredita bonita ( ou sente estar mais bonita naquele momento do que no anterior...rs...), a gente fica mesmo!
  Não sou uma velha deslumbrada! Sei de meus 62 anos e tudo o que vem com ele, mas quero falar de algo mais sério - muito sério - auto estima.
  Quando você tem auto estima muito baixa e nem percebe isto, não acredita nas suas boas qualidades e capacidades, e não as aproveita! Pior que isto! você tem uma expectativa baixa também em relação ao que pensa que merece da vida ou pode conquistar!

  SE VOCÊ É MÃE de uma garotinha com cabelos cacheados, que podem até ser rebeldes ou difíceis de vez em quando, VEJA O VÍDEO.Eu o coloquei aqui porque me encantei com o carinho que esta mãe fala do cabelo da filha!
  Se você tem cabelos lisos lembrem-se de que não somos todos iguais e que não existe beleza padronizada.
Ajude sua "princesa" ( ou filho) a ver em você o primeiro exemplo de amizade, cuidado e tolerância junto com a valorização e aceitação daquele que é diferente de você mesma. Minha mãe certamente não teve acesso aos vídeos e a educação, naquele tempo, era outra. Mas meu marido e minha mãe que me perdoem, na minha opinião, elogiar também as qualidades e o belo que cada um tem em si, constrói mais do que apenas criticar sempre que necessário!

  Certamente beleza física não é fundamental,  MAS... sentir-se belo e capaz, e aprender como sentir-se melhor, é!! Enfim, bem vindos os elogios que colocam em evidência algo que cada um de nós tem de bonito, seja no visual ou nos gestos ou capacidades! Bem vindos o cuidado e carinho com que tratamos aqueles que a gente diz que gosta!


Texto e fotos: Vera Alvarenga
Vídeo: Amanda Gil

Amanhã...tomar um café e lembrar dos amigos...

 
Minha avó já dizia..." Burro velho não pega trote!"
Pois então... eu estava aqui pensando...quase meia noite e vi agora pouco no Face que é dia do amigo. E tem gente que tem muitos amigos.
Destes que a gente encontra de vez em quando, para beber alguma coisa, conversar, rir um pouco, falar da vida, ir ao cinema junto e comentar sobre o filme, falar abobrinha, contar os planos...enfim...( ou será que é só literatura?...rs). Amigos não caem do céu, de repente. Vem do trabalho, da escola ou das proximidades...sim, são os que se aproximaram e assim ficaram. Amigo lembra abraço e, para isto precisamos estar próximos de vez em quando.

Bem, eu sou uma mulher comum e tive alguns poucos e bons amigos... tenho ou tive, nem sei... porque na verdade a vida de gente como eu foi passando e cheia de coisas pra fazer, um trabalho dentro de casa e o da cerâmica que ocupou quase o tempo todo, e os amigos foram ficando distantes,seja pela distância fisica, seja por falta de tempo ou pela ausência do hábito de conviver...
Pena isto. Acontece com muita gente, esta solidão que a gente aceita como parte da vida.
   Hoje, depois de 17 anos volto para São Paulo, mas não me aventuro a sair por aí de carro, sozinha, para rever os poucos amigos que sobraram. E sempre penso que eles estão ocupados, tem sua vida para cuidar, o que diríamos um ao outro? Sim, amizade é algo que se deve cultivar, para ser natural e não ser sentida como uma "interferência"... interferir no que mesmo? Nos hábitos solitários ou exclusivistas de cada um.
  Na verdade, o que estava pensando é que, apesar do meu jeito mais introspectivo, da total falta de hábitos sociais, bem que hoje gostaria de ter criado o hábito do encontro com um amigo ou amiga, daqueles por quem a gente sente carinho especial, afinidades, e com quem se sente muito à vontade. Ah! pelo menos uma vez por mes, ir a um cinema ou ir apenas tomar um café, jogar baralho, conversar, sorrir um pouco... sair do meu cantinho, que eu adoro, é claro, mas que ainda estaria aqui quando eu voltasse.
...Mas, burro velho não pega trote. E não tenho este hábito de sair por aí, só por sair...

Amanhã, contudo, vou sair... mesmo sozinha..aqui pertinho, num café. Vou sentar-me lá... E fazer o quê???
Talvez eu leve meu kindle que comprei recentemente. Fico lá por alguns minutos. Vou lembrar do meu amigo Antonio Carlos, com quem uma hora de papo passava tão depressa e sempre guardávamos algo a dizer, para a próxima vez. E vou me lembrar de cada uma das amigas ou amigos que eu bem gostaria de ter ali do meu lado para conversar um pouco! Um de cada vez, claro! ou no máximo 4, para que a conversa pudesse ser mais íntima, olhos nos olhos, todos realmente interessados um no outro e nas coisas que tivéssemos a contar. Vou saborear meu café delicioso, caminhar pela sombra das árvores da rua onde moro e feliz por estar viva e nesta maravilhosa condição que me proporciona optar por este prazer!
   Ainda bem que a internet e os emails nos aproximam dos amigos que a gente quer bem.
 


terça-feira, 16 de julho de 2013

A visão de um artista...

 
  Eu também sonhei que tive uma visão. Ela me olhou de frente, olhos nos olhos, e me deu a mão.
Então me tomou em seus braços e me senti pequena, confortável e segura. Depois transformou-se numa ave com asas quebradas. Em seguida chorou, e fui eu que a abracei. E ela se tornou pequena, confortável e segura. Cuidamos uma da outra até que ela cresceu, e cresceu, frente a meu olhar. E eu a vi transformar-se numa ave formosa que voou, lá para o horizonte onde um arco-íris meio apagado tentava brilhar. Quando ela pousou nele, suas cores ficaram fortes e reais.
  Ainda tenho a visão desta ave quando me sinto triste ou ameaçada no que sou. É apenas uma visão, mas posso vê-la quando preciso me sentir bela e viva como as cores do arco-íris. E lembro de abraçá-la quando temo que tenha se machucado. Lembro-me dela também nos momentos em que estou muito feliz.
  Voltei a rir de mim mesma por me encontrar assim, num episódio melodramático, em que tristeza e beleza coexistem, como antes na literatura romântica.
    Embora sinta uma tristeza imensa por saber que não passa de uma visão, e me pergunte por que eu tive aquele sonho, reconheço que o mundo ficou melhor depois disto.
   Não, com certeza para alguns, não é proibido sonhar...
Texto e foto: Vera Alvarenga
Inspiração... a vida e Manoel de Barros.

"Aprendi que o artista não vê apenas. Ele tem visões. A visão vem acompanhada de loucuras, de coisinhas à toa, de fantasias, de peraltagens. Eu vejo pouco. Uso mais ter visões. Nas visões vêm as imagens, todas as transfigurações. O poeta humaniza as coisas, o tempo, o vento. As coisas, como estão no mundo, de tanto vê-las nos dão tédio. Temos que arrumar novos comportamentos para as coisas. E a visão nos socorre desse mesmal."
 - Manoel de Barros




segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sentimentos...

 
 Ingenuidade é algo que me faz assustar-me, quando olho no espelho!
  É algo que não combina com o passar dos anos, mas sim, com o jeito de ser de cada um. Melhor seria talvez pensar que é apenas um modo de sentir que me arrebata e tem força, e preenche tudo por dentro e transborda, e ao mesmo tempo tem a simplicidade da crença...apenas é assim.
  Se a ingenuidade não é realidade do mundo, é  realidade do ser. É um modo de sentir. E porque a conheço, respeito aquele que é uma incógnita. Não vejo apenas o que está na sua cara! Como em minhas terras, ele pode ter aquelas flores que nasceram à beira do lago e quisemos que permanecessem ali. Por isto penso que só sei de mim. De meus momentos de alegria, de meus momentos de saudade, de meus desejos, minhas vontades. E estes, para mim mesma não traduzo em palavras, porque basta sentí-los. Já são fortes o suficiente. Tão forte, que às vezes penso que não vou aguentar, que seria melhor não sentir a vida assim com tanta sensibilidade. Mas aguento.
  De uma forma ou outra, a gente sempre acha um jeito de controlar isto tudo que está apenas ao alcance de nosso olhar, porque pertence a uma terra só nossa, é água em uma represa que desce em cachoeira até se transformar em uma corredeira mansa, lá onde outros a podem ver. Posso ver minha imagem refletida nela. Apenas imagino a sua. E, se a gente se afasta, ainda ouve o suave barulhinho que nos faz enfim, relaxar... aquele som é um sinal de que há vida naquele que não se transformou, ainda, em deserto.

  E, por isto, gosto das palavras, porque elas quando trocadas, sussurradas ou confessadas, são o único modo de se saber dos sentimentos de uma pessoa, quando não considerarmos os gestos.
  Quanto sentimento tem por trás de cada rosto, ou de cada gesto e cada olhar teu? Não sei, a menos que me digas.
  Por isto gosto das palavras. E as tuas? bebo-as, por vezes, para matar minha sede, imaginando que tem a mesma simplicidade dos sentimentos genuínos...como são os meus, que nasceram como aquela flor à beira do lago... e eu as deixo ficar...
Texto e foto: Vera Alvarenga

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