segunda-feira, 27 de maio de 2013

Brindar à vida, é sempre bom...

 - Nossa, que tarde, porque não me acordou?..rs..
 Mas vamos assim mesmo, decidi. Sim, é isto que quero de presente de aniversário...me leva até lá?
   E fomos. Pela segunda e última vez, porque acho que não pretendo voltar mais ao Horto. Já deu, e "é longe pra dedéu" ! Quase uma hora, de carro. Mesmo com um bom motorista..se não fosse meu marido levar-me, não iria nunca! Sou o tipo de "mulherzinha" dependente para estas coisas...
  Passamos no Supermercado e comprei um lanche para o Pic-nic. Há quanto tempo eu não fazia um! Sem toalha xadrez, que não me aventuro a sentar-me no chão, com meus 62 anos se aproximando...
  O lugar é lindo. Tirei as fotos que queria.
Assim comemorei no domingo, de uma maneira simples e econômica, o aniversário que se aproxima.
O marido gostou de ter ido ( aliás, confesso com orgulho que nunca o levei a fazer algo que se arrependesse, no final das contas...rs...).
Conversamos com mais dois casais que também achavam que, podermos ver aquela paisagem era uma benção de Deus. Eu, com certeza, tenho motivos de sobra para pensar assim. Meu marido conversou mais, eu fiquei mais com minhas fotos e minha calma meditativa... que bom ter saúde para estar ali ( só não sei se amanhã vou andar sem manquitolar um bocadinho.. de tanto que andei!).
Umas coxinhas com catupiri, risoles de palmito e um refri. Delícia de almoço, depois de caminhar devagar sob as árvores, por uma hora, tirando fotos e admirando a natureza. Teve até pipoca doce, daquela vermelha, que comprei na saída do parque, e eu adoro, me lembra a infância!
  Amanhã mais um dia. E, no final da tarde, com certeza vou levá-lo para tomarmos um cafézinho logo aqui ao lado, numa das cafeterias - Fran´s Cafe´ ou Kopenhagen. Minha nora me levou lá um dia e eu tomei um café com chocolate delicioso...
Finalmente consegui postar estas fotos, depois de sofrer um bocado aqui no meu windows 8, onde não sei lidar com as fotos do modo fácil de antes. Acho que vou mandar colocar o windows XP no meu computador novo, porque percebi que, quando a gente fica mais velho, é melhor simplificar as coisas, não cansar muito a cabeça e não perder muito tempo fazendo o que antes fazíamos na metade do tempo, mesmo que de uma forma mais antiquada.
Amanhã será outro dia, e eu pretendo vivê-lo da melhor forma, se me for possível. E na 3ª, à noite, comemorar com familia e netinhos o meu niver, numa pizzaria, e tomar uma cervejinha geladíssima. Que bom quando podemos comemorar e brindar a vida! Que bom quando podemos incluir na comemoração as pessoas que a gente ama...se eu pudesse incluiria também alguns poucos e bons amigos que me são muito caros e estão no meu coração.
Texto e fotos: Vera Alvarenga.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Apenas um aniversário...


Nos próximos dias estarei fazendo 62 anos. Não é pouco!
Ontem, vindo da casa da norinha e ainda influenciada por seu bom humor, conversei sobre a comemoração de meu aniversário, que é em seguida ao aniversário de casamento. 41 anos de casados!
- Podíamos fazer alguma coisa juntos... você pensa e então, me faz o convite ?
- Ah, não tenho jeito pra isto não.
A conversa evoluiu nas tentativas, mas não nas respostas.
- Pensa em me convidar para alguma coisa..
- Não tenho idéia...
- Qualquer coisa.. podem ser 3 idéias e eu escolho uma..tá bem?
- Você sabe que não sei fazer estas coisas.
- Ah tá, você só sabe receber estas coisas. Escute, pelo menos diga que vai tentar. É só pensar no que gosto ( nem eu mesma sei muito bem do que gosto de fazer por mim, mas é uma lista pequena, não seria dificil !).
   Acho que nós todas, mulheres, somos parecidas( como disse a Maria em seu post). Bem desejaríamos uma surpresa, ou algo espontâneo, ou na verdade, na verdade mesmo, queríamos ver no olhar dele o reflexo sincero do desejo e prazer de nos proporcionar algo que nos trouxesse alegria. E o mais importante ( no meu caso) ver que eles curtem estes momentos conosco! ( sejam como forem estes momentos!)
- Não precisa ser viagem, claro! Nenhuma noitada no Motel nem uma noite dançante,como antigamente. Esse tempo passou. Tudo bem, nem o churrasco pro pessoal. Agora não dá, eu sei, tudo bem. Nem o cinema, que você não gosta. Nada complicado. Coisa simples... Um lugar onde pudéssemos ir juntos, caminhar em paz, quem sabe até um convite pra você me levar ao Horto Florestal, então? Você sabe como gostei de ir lá tirar fotos, e é longe, eu não iria sozinha( não me aventuro a dirigir ao longe em São Paulo).
Mas o tom de voz já não era o mesmo. E o tempo passava mais rápido que no início da conversa.
- Prefiro que você vá numa loja, escolha uma bijou e eu pago.
Nestas alturas eu já estava brava. Tom de voz mais alto, indignada.
- Mas, puxa! podia ser um simples convite para irmos aqui ao lado, a pé, tomar um café numa destas casas deliciosas que tem aqui e nunca fomos! E você sabe como gosto de um café com creme! Será que antes de morrer a gente pode curtir tomar um cafezinho com creme e canela aqui ao lado? Será que a gente não pode ser feliz com tudo de bom que tem bem pertinho de nós? Caramba! Sempre fui tão calma e cordata a vida toda. Será que você não podia resgatar aí um pouco daquela sua energia e disposição de quando era mais novo e não parava em casa, não deixava de comemorar nem um só aniversário seu ou do sócio?
  Nossa, vou fazer 62 anos! E não sou a velha que pensei que me tornaria - mansa, resignada e espiritualizada. Às vezes fico p... da vida. ( Só às vezes). Tantas rugas, tanto tempo passou e eu ainda não me acostumo com o "não sentir entusiasmo em apanhar os frutos ao alcance no próprio quintal!"  Não me conformo com o desperdício de recursos. Me assusta ter de sonhar, quando seria possível realizar!!
  Perguntaria a qualquer um - O que adianta ficar recordando de quando era menino e junto com outros fazia coisas gostosas que ficaram na lembrança, se hoje, você não faz mais nada do que ainda lhe é possível? Não é legal colocar a felicidade longe de você, num tempo em que não a pode mais alcançar. Deste modo, priva a si e a quem está ao seu lado e o ama, de compartilhar momentos reais de uma felicidade que precisa ser construída e cultivada.
  Por que só sentir prazer com o que precisou conquistar sob pressão, em grandes desafios? O que lhe é dado não é bom? Por que não se pode valorizar o que se tem e curtir a vida a cada fase de vida, com as possibilidades ao alcance? Outras pessoas há que precisam se conformar em apenas sonhar com a felicidade, por que não tem os recursos, ou os companheiros se foram.... E ainda estamos aqui.
  E eu me dei conta de que, se considerar que felicidade é sinônimo de grandes coisas como saúde e tranquilidade, estou muito feliz, no momento, e então me acalmei - marido em casa, ambos com relativa saúde, aposentados, cada um em seu escritório com liberdade para escrever o que desejar, tarefas de casa divididas, alguns últimos desafios da vida sendo vencidos pouco a pouco, uma noite no final de cada dia para recobrar forças e esquecer das diferenças e discussões, às vezes pra sonhar, enfim, uma vida finalmente tranquila. Mas...(eu devo ser, de fato, a pessoa que contesta, como diz meu marido, as coisas que são feitas apenas porque estão pré-estabelecidas)...
- Mas... o que fazemos das pequenas coisas e gestos que poderiam adoçar a vida e nos fazer curtir o que poderia haver de bom nela, apesar de tudo o mais que temos de enfrentar? Por que não perceber a responsabilidade de cultivar a alegria das coisas simples e colher frutos de ternura? Viver o presente da melhor forma é sempre nossa maior conquista!
  Talvez os homens, principalmente os antigos, não gostem muito deste nosso modo de pensar. E então fico imaginando se eles compreenderiam melhor se pudessem lembrar-se da diferença entre se fazer sexo simplesmente por fazer, ou de se fazer sexo de forma apaixonada, como quem curte a vida e o prazer que pode proporcionar ao outro e a si mesma, e de quando ambos decidem fazer daquele simples ato, um brinde à vida e ao amor...
Texto e foto: Vera Alvarenga  

terça-feira, 21 de maio de 2013

Um urso na floresta...

Ela era tão tola, que doía.
Toda manhã ela ia ao seu jardim em busca daquele olhar...
E nada mais era além de apenas um olhar. Nada mais significava de concreto ou real. Contudo, ela ou as circunstâncias uma vez tinham feito deste olhar um momento especial de alegria, que em certa ocasião e, quando as ondas do mar a deixaram enjoada, lhe serviram de bóia, e a levavam por instantes a uma ilha bem próxima ao paraíso. E na ilha havia frutos que lhe devolviam a energia.
   Assim ela tinha experimentado esta vivência e aquele olhar. Tudo com uma luminosidade virtual de promessa, de magia, de coisa pré-determinada pelos deuses. Mesmo quando os deuses saíram voando em suas carruagens ou asas douradas, ela teve tempo de tomar para si aquele significado.
   Ou será que foi a magia do significado que tomou a ela? Mais provável isto, com certeza. Porque ela não precisava fazer nada, além de ver lá na caixa do correio o remetente, vindo de uma cidade não tão distante quanto a distância absurdamente intransponível que a separava daquele olhar, agora.
   E na caixa de correio, não eram mais palavras que ela encontrava. Apenas uma luzinha pequenina, verde, que piscava mostrando que ele estivera lá para vê-la. Somente isto. E neste quase nada de luz, ela simplesmente resplandecia, num sorriso interior que a fazia ter um dia ainda melhor do que normalmente seria. Tudo porque era tola. Tudo porque o significado que nem ela mesma compreendia, a arrebatara uma vez, quando foi deixada à deriva. Tudo porque uma vez foi salva da tempestade, num dia que ficava mais distante conforme o tempo teimava em passar com sua constância e a persistência do sempre...
Nada mais era real ou seria para ela, sem aquele pequeno sinal. Será que fora, algum dia?
Não se importava em responder tal pergunta, pois pensar nisto a deixava triste, justo a ela que sempre tivera o dom de transformar tudo, mesmo o que parecia morto em algo que podia renascer e viver de algum outro modo. E ela já estava ficando muito velha para tentar explicar ou entender todos os significados.
- Cada um com seus vícios, apoios, sonhos ou truques, pensava ela. Afinal, eles nos ajudam a transpor longas distâncias em mares bravios, ou planícies ressequidas, até que tudo não passe de um momento que o vento levou. Ela amava o vento e a brisa, mas não o vento que levava tudo embora.
  Então, lhe restava o que guardara em seu coração - um sentimento de lealdade a um gesto que não mais existia, mas do qual, a lembrança alimentava, como outras doçuras de sua vida, a parte terna e doce de si mesma. E ela não queria secar como as folhas que caem no outono, mas como a árvore cuja seiva, de tão doce, poderia ainda alimentar aquele urso da floresta. Aquele que todos conhecemos e mora nas entranhas de nossa própria terra, e fica raivoso quando faminto, ou quando algo ameaça seus filhotes ou aquilo em que acredita. Pois foi para isto que fora criada. Para aprender a descobrir em si, alimentar  e resgatar a doçura daquele urso fêmea que, de outro modo, seria capaz de destruir o que havia de belo na floresta e em sua própria natureza...
Texto e foto: Vera Alvarenga
  

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Um dia especial marcado no calendário...


Ela estava distraída olhando para um calendário...
- Quem é você? ( uma flor interrompeu seus pensamentos).
Desinteressadamente respondeu: - Sou uma barata.
- Não me parece. Você esta a dirigir o olhar deste calendário para o céu e vice-versa, das outras vezes que a vi, seus olhos pousavam interessados em detalhes que uma barata não notaria. Baratas tem a visão achatada, não é? Não olham para o céu, pelo que sei. Por que assinalou aí o dia de hoje?
- É um dia especial para alguém especial que conheci, certa vez. E olho para o céu porque fico imaginando enviar-lhe um pensamento azul de luz morna e macia, e meu desejo de que esteja bem. Peço aos anjos que o acompanhem sempre.
- Ah! Baratas não pensam assim! Certamente então o que vejo aí no chão são algumas de suas pétalas e não as asas de uma barata.
- Bobagem. Uma vez, fiquei fina e marrom. Porque me decepcionei muito com quem amei por tanto tempo e ainda amo profundamente mesmo que de forma diferente, tudo porque ele considerou que sou uma barata. E assim o fazendo, deixou-me tão carente que meu coração rodopiou. E para meu espanto, tive uma doce vertigem que me derrubou e me levantou aos céus, ou vice-versa. Depois, caí outra vez. Por isto, senti muita raiva dele em contraponto ao antigo amor. E eu não costumava sentir raiva por ninguém. Foi demais pra mim conviver com estes dois sentimentos que eu considerava inconciliáveis.
- Ai ai... quanta incoerência. Flores não pensam assim. Você não é totalmente uma de nós. Contudo, barata também não é. Não que eu tenha algum preconceito contra as pobres bichinhas. Sabia que elas são indispensáveis para fazerem a decomposição do que morreu?
- Nheca... decomposição? Não podemos falar de transformação? Processo indispensável a todo renascimento...como uma Fênix...
- É. Você fala de um jeito que estou começando a supor que, apesar de sua mimetização, não passa de uma... de um...
- Flor! Veja bem, não podemos falar tão friamente da morte, seja lá do que estiver morrendo. A morte me dói. Ser uma barata agora até me conviria uma vez que tenho enfrentado tanta "transformação", gente que parte, sentimentos que se transformam, outros que renascem diferentemente...
- Credo, você fala demais. E põe emoção em tudo. Como desconfiei... é apenas um ser humano! E ainda por cima, mulher!
Texto e foto: Vera Alvarenga

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Alguns sonhos são assim...

Alguns sonhos a gente sonha sozinho.
Como o abraço que braços estendidos não conseguiram alcançar, como o grito no deserto que não teve eco, como linhas paralelas que nunca puderam se encontrar.
Às vezes são sonhos tão bons que a gente deixa ali, ou são eles que ficam colados no peito, como o reflexo no lago... uma imagem mais bonita de nós mesmos que um dia quisemos resgatar.
   Porque então, teria sido possível um recomeço de uma vida onde liberdade seria poder amar e ser o que se quer ser, sem motivo para desconfiar. Como poder dançar sobre o fogo sem se queimar, quando aquele que nos ateia fogo é o que também renasce de cinzas.
 
No início dói como ferida que demora cicatrizar. Com um certo heroísmo despretensioso, não nos deixamos anestesiar.

Depois de um tempo a gente deixa vir à tona, como lembrança nostálgica de uma bonita visão numa manhã azul de verão...

Foto e texto: Vera Alvarenga

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Rotinas, "espontâneamente" cultivadas, são fundamentais...


Viver dá trabalho. E viver sem rotinas dá mais, para qualquer um, aposentados ou não, todos precisamos das rotinas que nos facilitam as coisas. Mas estou pensando naquelas que vem de uma atitude que um dia foi novidade e espontânea, e depois virou rotina que só existe porque faz a vida ficar mais gostosa. Pequenas rotinas...
- Não é importante, diriam alguns. Se não leva a nada, pra quê?
- Ah! é sim! se é! são bem destas coisas que a gente sente saudades ou lembra com um sorriso, como se fosse uma trégua ou intervalo pra relaxar no meio a tudo o mais.
   Como a rotina que eu e meu amigo Antonio Carlos tínhamos uma vez por semana, ao voltarmos do atelier de escultura do Calabrone. Eu dava carona a ele até minha casa e ele continuava dali, sozinho o resto do caminho, não sem antes, durante o trajeto, conversarmos sobre nossas coisas. Falar de um projeto, comentar o tema em aula e mais raramente sobre algo mais importante da vida de cada um. Coisa rara a gente poder falar com alguém sobre o que quiser. E a gente tinha isto.
   Quando parei o curso, esta rotina foi abandonada. Normal, vida corrida pra cada um de nós e, quase já não falávamos mais. Que pena. Que mania a minha de não gostar de telefonar, de ser meio bicho-do-mato. E naquele tempo não tinha emails. Agora, o que não temos mais é o contato a não ser em pensamento. Ele, lá no céu, fazendo esculturas para São Pedro e eu aqui, não fazendo mais escultura nenhuma e há muito, sem meu atelier. A gente bem que podia ter mantido contato, só pra dizer um "Oi", "Bom dia!" o que anda fazendo, como foi a semana? Ah, tudo bem por aqui e não estou fazendo nadinha, já seria de bom tamanho. Ou, eu estou confuso, ou doente, vem me ver... Como eu gostaria de ter sabido.
   Tem coisas que fazem bem e não custam muito, e como eu costumo dizer às vezes, "põem um sorriso na nossa cara" e a gente bem que devia continuar a fazê-las. Não estou me referindo a uma porção de emails e frases vazias, no meio de uma correria só para se manter antenado ou ligado com milhões de pessoas ao mesmo tempo. E gosto muito de poder ter amigos virtuais, pois que entre eles, alguns se tornam especiais, mas isto é outra coisa. Estou falando daqueles por quem a gente tem um especial carinho, que a gente sente que são parte da nossa vida, e são a boa parte. Com eles sempre vale a pena a gente cultivar uma troca gentil de gestos que adocem a boca.
   Algumas rotinas bem que deviam poder continuar... Algumas valeriam a pena a gente criar...Ah, não faz mal que a gente tenha de criá-las, trabalhar nelas, se comprometer...é por isto que são boas.
   - E aí, vamos assistir a um filme por semana, bebendo vinho? Que tal um joguinho de cartas? Um bom dia pela manhã, uma vez ou outra, contando as novidades? Ou como aquela à qual, em casa, nos habituamos. Antes de sentarmos para o café da manhã, tem um abraço que gosto de dar... por tantos motivos e nem que fosse por apenas estarmos começando vivos um novo dia.
E um dia começou a ficar meio rápido... e é aí que a gente tem de ficar atento. Não vale fazer só por fazer, é como beijar olhando o futebol na TV!...rs....
   - E aí, dormiu bem? Uma simples mas interessada pergunta. E a mão, que nas costas tem de descer um pouquinho, interessada no abraço. Sim, assim mesmo que é bom, é assim que eu gosto. E entre sorrisos ele lhe dá um tapinha...de leve, e foi espontâneo. Viu só, como é bom "cobrar" pequenas atenções? Como à noite, antes de dormir, aqueles primeiros minutos no início do sono, deitada no ombro do homem que é nosso companheiro. Se não fosse isto, do que teríamos saudades quando um viaja e o outro fica? das brigas, grosserias, discussões? Claro que não. E do amigo que sumiu ou morreu, nos lembraríamos do que?
   Algumas rotinas, como o cafèzinho com minha mãe em casa dela, deixam uma saudade boa... sempre valem a pena, porque são especiais. É a melhor coisa que fica do que vivemos com alguém. São as boas lembranças, que dão mais sentido e nos confirmam que estávamos comprometidos com os que queríamos bem. Não é?

Foto e texto: Vera Alvarenga 

sábado, 20 de abril de 2013

Diálogo com o Diabo...sem acordo.

   
   Lendo uma crônica bem humorada de Luis Fernando Veríssimo a gente não pode deixar de entrar na história e imaginar-se ali, como naquele diálogo tentando um acordo com o Diabo.
   Já estou até vendo as duas secretárias dele cochichando entre dentes e riso debochado, ao mesmo tempo que levam o espelho embora:
- Falsa! Não quis ser jovem e bonita outra vez?! Pois sim!
   Mas a coisa não é esta. Ser ou não ser, não seria a questão aqui, pelo menos não comigo. Comigo seria na base do sentir. O que queria mesmo é que, estando com meu companheiro, eu me sentisse especial e bonita...que ele me achasse linda sorrindo, tendo eu rugas, ou não... Afinal, sou avó, não me ficaria bem a mesma cara dos quarenta.
- Ah, então você quer algo especial! Posso providenciar, imagino que o capeta me diria.
   Certamente que teria de ser especial. E tem mais, eu ia querer algo pra ele também.
- Isto já não costumo fazer. Dois por um preço só? Cada um pede para si e eu atendo, é o que faço. Não trabalho com procuração.
   Você sabe como sou... algo só pra mim? De que me adiantaria?
- Só por curiosidade, o que me pediria caso eu resolvesse abrir uma exceção?
   Simples. Que ele, estando comigo, pudesse também sentir-se jovem e bonito. Isto é a parte mais fácil, nunca tive dificuldades nisto. Contudo, chega uma época da vida que parece que as coisas desmoronam, e a gente fica amargo consigo e com o outro, porque se cobra demais. Aí entra você. Seria para que encontrássemos nosso jeito de rir juntos, com uma disposição para o bom humor à prova  de vaidades e qualquer dissimulação. Já não tenho mais tempo a perder com rabugentices, críticas excessivas. Sabe aquela coisa da gente simplesmente se divertir, de fato, um com o outro, antes que você nos viesse buscar?
- A..ha...Bem, diversão mesmo, você sabe... aí tem de ter, huummm... como direi para uma senhora na sua idade, sem ser grosseiro? digamos, pelo menos um pouco de sensualidade. Não é pouco o que me pede, ainda mais para dois, depois dos sessenta. A senhora poderia ser mais específica?
   Claro que não! Sem detalhes. Disto, com bom humor cuidaríamos nós, a nosso modo, afinal, teríamos prazer de estarmos juntos lembra? Então, o resto seria por nossa conta.
- E risco?
   Claro! Você crê muito pouco na criatividade e flexibilidade humana, não é mesmo? Mas não o culpo. Então seria isto, para nós dois... estarmos juntos sentindo prazer em viver, sem frescura, com delícias e ternura.
- Interessante a conversa, mas como disse no início, não costumo assinar contrato com um, para satisfazer a dois. E além do mais, o que me pede é como que um milagre. Não é bem da minha alçada. E quem me garante que ele iria se comprometer de fato, querer a mesma coisa que a senhora? Não tá se achando muito poderosa pedindo algo por ele? Quando eu viesse buscá-lo seria capaz dele recuar, e ainda me dizer que foi enganado!
   Pois é, se não dá pra colocar ambos na mesma canoa, nada de acordo meu caro. Não é por ora que me comprometo a por meus pezinhos na "barca do inferno".

Foto retirada do Google.
Texto: Vera Alvarenga, inspirada por "O que eu pediria ao Diabo" - Luis Fernando Veríssimo.

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