sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Comprometer-se...

 Em minha recente viagem para o sul, reencontrei um casal que descobriu no seu casamento, o segundo para ambos, que para o relacionamento dar certo, amar não é apenas sentimento, mas o comprometimento em desejar fazer o "outro" feliz. Em um próximo post vou contar uma historinha sobre eles.
   Sorte daqueles que descobrem que acomodar-se a um individualismo exagerado e "falsa" liberdade e independência sem limites do "cada um por si desde que todos por mim" não é a melhor solução para a vida a dois. Sorte dos que não pretendem ter sempre razão. Aliás, o individualismo radical não é solução nem para a vida em sociedade, pois comprovadamente traz ansiedade, sentimento de insegurança, depressão e pânico, de acordo com especialistas no assunto.
   Amar não é apenas o que se diz de um sentimento - é atitude - o amor pede ação, deseja conjugar o verbo. São dos pequenos gestos em benefício e engrandecimento do outro e do próprio relacionamento que o amor se sustenta ( e também o bom humor, e a disponibilidade para uma vida mais plena)! E não, de um sentimento que se esvazia na ausência da ação, presença de orgulho e recusa de se comprometer.
   Mesmo quem já amou, se não é correspondido, um dia acaba por se transformar em um sonhador. E se seus gestos encontram constantemente a barreira que impede a alegria da troca constante, acaba por pensar que a ele, só restou sonhar. E então, seu desejo o leva a sonhar... inconformado sonha, a cada novo dia, mesmo em presença de frustrações, porque sem esperança, entristece... e sonhar, por vezes o alimenta... mas quem apenas sonha, também não realiza mais o amor, pois seu desejo está no amor e em presença do desejo de amor, o que não é amor não satisfaz mais . Seu olhar se tornará triste e distante como que em busca da ave dourada que se banhava, antes, na água da fonte de seu próprio coração. Porque é por causa deste alegre encontro, que da fonte brota a água mais cristalina e do peito do pássaro dourado sai a mais bela canção em homenagem à vida. Nesta troca, ambos se comprazem. Sem ela, a fonte seca e a ave dourada sente-se ferida, emudece.
   Sorte ( será só isto?) dos casais que reencontram seu pássaro dourado junto à fonte!
   Os outros...viverão de lembranças ou sonhos. De certa forma, tem sorte também os que tem as lembranças e até os que pelo menos podem sonhar! Mas viver plenamente o amor é incomparavelmente uma escolha melhor, quando se pode ainda escolher. Porque este trabalho de amar nos preenche a vida, põe um brilho no olhar e um sorriso na alma.
   Assim como acontece para toda uma sociedade contemporânea, manter um individualismo egocêntrico tem um alto preço para cada um de nós, em nossa vida, de um jeito ou outro. Fatalmente, o ser humano que tentar reproduzir em sua vida íntima e familiar o individualismo radical com o qual aprendeu a sobreviver no mundo,  aumentará para si e para quem conviver consigo, o sentimento de vazio e solidão que já existe em cada um de nós. Se não se compromete com o amor em sua vida íntima desejando fazer também o outro feliz tendo oportunidade para fazê-lo, logo se desviará do caminho que o levava à fonte, não terá mais como encontrar repouso em seu ninho e forças para alçar vôos que lhe tragam mais do que uma ilusória sensação de realização. E, certamente, perderá a alegria que lhe brotava espontaneamente no riso. E, quando sorrir alegremente nos encontros ditos sociais, alguém sempre perceberá que o sorriso "é de alumínio" que, como uma máscara, ao virar a esquina, cairá por terra.
Foto e texto: Vera Alvarenga.

domingo, 11 de novembro de 2012

A eternidade do amor...

De vez em quando, ela vem e me toca. Sem aviso. Não tem hora exata para acontecer, quase sempre é quando deixo a emoção e o sentir existirem por si, sem questionamentos. E quando permito que existam sem impedi-los, eles se espalham, me causam arrepio.
   É então que pressinto que ela chega. E vem quieta e lentamente, e me toca. Meu arrepio é de medo e respeito por sua coragem.Sei que em sua fragilidade, é mais forte que eu e causa transtorno quando quer me mostrar que ainda faz parte de alguma maneira, e para sempre.
   Temo que ela me ame. Por isto talvez nunca tenha me deixado. Já o meu amor, maduro e sensato amor, é por sua memória pois não a posso ver, apenas sentir. Acho que a amo mais agora do que jamais a amei, justo quando ela já não pode ser! Nós, seres humanos, temos esta inconsciência das coisas que são, enquanto naturalmente estão sendo.
   A presença dela me traz uma doce sensação de leveza e liberdade! E num instante me transporta para o alto de uma paisagem... e tenho asas! Vejo flores e as árvores, a lagoa que se encontra com o mar. E então, lá do outro lado, eu o vejo também. Dali, posso alcançar tudo que quiser. Posso cavalgar nas nuvens e tocá-lo. E certamente, seria tocada por ele! Isto também me causa arrepio. Voar ao encontro dele é maravilhoso!
   Contudo, é bem isto que me apavora. Logo abaixo de minhas asas, quando a caminho do meu destino, a lagoa reflete minha humanidade e o que o tempo escreveu na realidade. E então, o encanto se desfaz. Para continuar seria preciso enlouquecer totalmente de modo a nunca mais olhar para um espelho? Não sei. Só sei que sempre há o aviso, mas parece que não o vejo a tempo.
   - Não olhe para seu reflexo! ele grita amordaçado pra mim. Não posso ouvir direito.
   Como evitar se tudo que nos cerca, a lagoa e o mar, refletem como espelhos? Como cortar as asas que ela grudou em mim?
   Se não a loucura, só outro olhar tão louco quanto o meu, refletido no mesmo espelho, teria me salvado. Só um olhar semelhante, do outro lado dos espelhos, nos salva a todos. Mas isto é magia! Não havemos de desejá-la? E há magia do mal ou do bem... como no espelho da madrasta da Branca de Neve ou no olhar do homem amado...
   Então me entristeço porque minha loucura está só. É loucura crer na eternidade de qualquer sentimento que pertença ao humano e viva solitário apenas em um coração. E este sentimento é o melhor de todos eles. Dele, muitos nem se lembrarão, outros não podem saber do que nunca existiu, alguns se conformam com a gradativa perda da luz como se fizesse parte do envelhecer nobremente... E ela? parece  simplesmente dispensar a nobreza de títulos, só quer cultivar o que já sentiu. Para sempre, de um modo ou outro, como se fosse o que mantém o significado das coisas! Ah! ela acredita! Sabe que algumas árvores vivem mais do que a própria pessoa que a plantou em seu quintal. Esta jovem mulher carrega tanto desejo e vigor quase inconformados, porque crê que conheceu o amor e que por longo tempo o viveu. Assim, jamais envelhece. Congelou-se no tempo?  Mantem-se fresca, ao contrário de mim. Por isto devo reconhecer que é quase impossível crer que ela possa ser assim, tão real como deseja mostrar-se a mim.
   É difícil conviver com ela, com sua absurda crença na eternidade do amor, transformado ou não. Ela, certamente, é feita apenas de desejo mesmo que seja com a mais nobre convicção.
   Por isto, quando ela vem me tocar, metade de mim se encanta e a outra metade sente arrepio.
   E não posso evitar que ela me mostre o quanto é mais bela que eu com meus humanos limites. Não posso fingir que não a conheço, tapar meus ouvidos aos argumentos que usa para lamentar a eternidade do desejo de amor que vive em nós e poderia ser escolha, mas não é. Ela apenas me enlouquece com seu egoísmo quixotesco em defesa do amor. Eu tenho de usar a sabedoria e a ternura que dizem que a maturidade traz, para compreendê-la. Tento. Raramente consigo.
   E nem ao menos posso fugir dela,  porque quando vem, ela me toca de dentro para fora e então percebo, que ainda está em mim...
Texto e foto : Vera Alvarenga

sábado, 3 de novembro de 2012

Levando flores para quem não está mais lá...

     Como tanta gente, tive sonhos, desejos, vontades. Vontade, dá e passa! Assim aprendi. Mas sonhos? não eram por coisas que eu não tivesse e quisesse vir a ter. Era mais um desejar melhorar ou resolver uma situação em que me encontrasse provisoriamente e não me agradasse. Junto com o desejo de transformar as coisas, também a noção precisa de que deveria ter uma vontade firme, visualizar a solução, arregaçar mangas e ir de encontro a ela. Primeiro com o pensamento, em seguida, com o verbo. Ah! mas sempre o pensamento vinha antes.
   Visualizar antes, era construir primeiro no mundo das idéias aquilo desejado - depois, era o sonho a ser realizado. E, se não o fosse, não deixava no coração marcas profundas, porque raramente desejava o que não podia ter. Desde adolescente, eu vivia no agora. Ainda que o presente significasse não estar verdadeiramente tanto no mundo físico mas no mundo das minhas idéias, sensações, emoções. Outra forma de estar presente era criar - uma canção, poesia,artesanato. E entrava nesta ação por inteiro, o que não deixava tempo para pensar no que eu não tinha, talvez porque este mundo de emoções, sensações e criação fosse suficientemente rico. Na verdade, não sei muito bem do que se tratava, apenas era assim.
   Não me lembro de frustrações, nem de grandes sonhos para o futuro. Acho até que não os tinha! Nem frustrações, nem grandes sonhos, nem grandes paixões. Não tive uma paixão não correspondida, a não ser aquela dos treze anos, tão doce, tão pura. Em algum lugar ainda guardamos uma parte de nós que é assim tão terna. Fui, isto sim, o grande sonho de alguém que depois se transformou na minha paixão, e ainda no meu amor concreto e forte, e único por toda uma vida. A partir daí, acho que fui construindo meu primeiro  sonho menos provável, embora não menos nobre - e este, era o de me moldar ao desejo de felicidade de outra pessoa, até que passou a ser o meu próprio sonho. E se era também o meu, dependia de possibilidades que eu criasse. Assim, os que sonham não se encontram no vazio, porque tem muito a fazer!
  Não ter sonhos impossíveis quando menina, não foi uma artimanha inteligente de minha parte para não sofrer, ou não decepcionar-me com o mundo. Era apenas o meu jeito de ser contente com aquilo que me cercava, ou de procurar com minha curiosidade natural, e ao meu redor, aquilo que achava que estava ali mesmo, só não o tinha ainda encontrado. Viver a minha vida como ela era, descobrindo nela os tesouoros escondidos, parecia ser meu desejo natural.
   Talvez minha mãe tivesse razão, afinal. Quando eu já era adulta, disse-me algumas vezes, que  me conformava com pouco. Antes, referindo-se a mim dizia que eu era cordata, serena, dócil. Mais tarde, a mesma paixão pela vida como ela era, passou a ser considerada como falta de ambição. Sem que outros se dessem conta e talvez nem eu mesma de minha pretensão, no entanto, eu tinha uma grande ambição - viver um grande amor, sem desperdiçá-lo, alimentando-o constantemente, sem acomodar-me ou cansar-me, jamais. Não se tratava de algo impossível mas quase! e dependia de comprometimento.
   De qualquer maneira, não me lembro de demorar-me a sonhar com o que estava longe de conseguir. Não! Nunca sonhei apanhar o que não podia alcançar. Não costumava demorar-me por muito tempo, a desejar o que não tinha. E o que tinha era a minha vida, do jeito que ela era. E do jeito que eu era, havia então, sempre muito o que fazer para preencher qualquer vazio que ousasse surgir.
   Me pergunto - como poderíamos, afinal, desejar o que não fosse a própria vida do jeito que ela é? Onde encontrar tempo além do que dedicamos a ela e ao garimpar pepitas naquele conhecido solo sagrado?
   Como se pode sentir falta de algo que estava em um sonho ou saudades de quem nunca fez parte real de nossa vida? Talvez, então, vez ou outra e de tão cansados de não sonhar nada tão grandioso, tenhamos logo sonhado o mais inalcansável, a derradeira esperança, o amor impossível?! Como poderíamos deixar uma saudade crescer dentro do peito e nos abater tão inesperadamente, cada vez que nos defrontamos com um espaço vazio, no tempo da maturidade? Por que este descontentamento divino nos faria lembrar daquele sonho que dissemos que nunca teríamos?
   Por que lembrar dele ?  Porque lembramos de nossas perdas e sonhos também o são! E dói,como em dia de Finados levar flores ao ser amado que já não está mais lá. Mas é nossa maneira de prestarmos homenagem a um amor tão simplesmente puro, e doce, e belo, e grande...
   É...nunca tive sonhos, desejos impossíveis... tinha sido sempre assim...
   E como a vida não nos deixa passar incólumes na presunção de que nos safamos para sempre de algo que deixa marcas ou vazio profundo... hoje eu sei, tive então, minha cota de impossibilidade e perdas que realmente me importaram, e bem numa idade onde não nos deixamos importar com qualquer bobagem. E continuo, nem sempre com a minha costumeira serenidade, a tentar explicar a mim mesma o inexplicável, a tentar compreender como me deixei pegar assim, tão desprevenida,em três momentos da minha vida e todos na maturidade, nos quais sonhei encontrar nos olhos de pessoas diferentes, o amor como o que eu, naquele momento, sentia e desejava...aquele que parecia inadiável para resgatar o significado do passado, pacificar o presente e acomodar um futuro... e aconteceu na maturidade, talvez porque seja neste tempo que colhemos os últimos frutos e de uma maneira mais consciente aprendemos a ver mais claramente nossas reais necessidades... Na maturidade, o que pensamos que tínhamos resolvido com nossa excessiva complacência por nós ou pelos outros, ou deixando pra lá, vem nos assombrar, até que, enfim acabamos por seguir pacificados ou finalmente rendidos ao tempo.
foto e texto: Vera Alvarenga.   

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tocar o céu com meus dedos...


  Lendo algo sobre Platão, penso que me ajudou a compreender um pouco os relacionamentos e porque insistimos, alguns de nós, em tocar o céu com os dedos...
  Com certeza não nos é permitido viver um grande amor, daqueles que nos satisfaçam plenamente, o tempo todo. Somos humanos, e neste mundo dos sentidos em que tudo se modifica,se transforma e tanto nos é exigido como se fôssemos máquinas, muito de nossas atitudes fluem ao sabor das circunstâncias e impermanências. Assim, o que nos agrada e nos lembra o amor ideal, o verdadeiro sentimento pelo qual todos ansiamos, ora está ao nosso alcance, ora já não está mais. Num relacionamento amoroso, espera-se que o casal esteja atento para cultivar as oportunidades de vivenciar estes pequenos deliciosos bocados do amor. Quando isto passa a não ocorrer mais, porque uma das pessoas se deixou engolir por uma crença qualquer que a impede disto,  instala-se a dúvida se tudo não teria passado de ilusão...
   Mas não! Quando encontramos uma pessoa pela qual nos apaixonamos e com ela convivemos, desenvolvemos um relacionamento de amor e, acredito, que de fato experimentamos muitos momentos de satisfação deste nosso desejo por este sentimento pleno. Algumas pessoas, uma vez tendo consciência de tudo que este sentimento lhes proporciona, agarram-se a esta idéia como se fosse a lembrança de algo de valor que resgataram para si e não o querem esquecer. Portanto, se lhes falta este íntimo encontro com o sentimento, sentem-se desconfortáveis, vazios, inúteis. Nos deixar preencher por ele, mesmo que por momentos, é o que nos é possível em nossa condição humana, é o  que nos basta para recarregar energia, relembrar a existência de algo bom e do bem, exercitar o melhor em nós devido a algo que talvez nossa alma já tivesse conhecimento e sentisse saudade.
   O sentimento de amar pode ser para sempre, porém o amor é vivido realmente em alguns momentos especiais. Tais momentos se dão quando as almas se encontram, apesar de estarem vivendo uma vida normal e humanamente possível. Vivenciar estes “encontros” mesmo rápidos, fugazes, com quem a gente escolheu amar, é como renovar-se e nos mantém centrados e em paz, por um tempo ainda, mesmo depois que acontece – e pode ser um olhar, um gesto, um toque. É como se nossa fé na vida e em tudo o mais também se renovasse, porque vislumbramos o significado maior das coisas. Em relacionamentos mais longos, há inúmeras oportunidades para que isto ocorra. Há inúmeras formas de se dar este encontro que propicia este pequeno milagre – é como tocar nossos dedos no céu por um instante e ver que aquilo que tínhamos em mente e no coração, não é uma idealização barata e infantil, mas um pequeno sinal de algo ainda mais belo, e durável, e maior do que nos é possível supor.
   Evidentemente, há relacionamentos que se desgastam, minam energias de um ou ambos, porque alguém ali desistiu. A desistência pode ser a desvalorização do sentimento ou ato de fé que lhe conferiria a leveza para flutuar num espaço imaterial onde a realidade do amor pode existir em toda sua extensão. Há desistência quando uma das pessoas envolvidas na relação pensa que aquilo é imaterial e simples demais para ser importante, e passa a duvidar ou menosprezar o que antes, verdadeiramente, lhe trazia conforto. Pelo descaso, estes pequenos momentos de quase pleno contato com o que satisfaz, se tornam raros. Apagam-se de sua memória pequenos atos sinceros que julga sem valor, ou pior, desdenha deles. Deixa-se envolver de tal modo pelo que é de fato ilusório e de menor valia, que se compraz com o viver na comodidade da sombra, como se na vida comum não pudesse haver lugar para o prazer e a alegria singela de tocar, com o dedo, o céu.
   Outras pessoas, por sua vez, se adaptam mas não se conformam, como se sua alma estivesse sempre ansiando por estes pequenos instantes de contato com a luz para se recarregarem de fé e vida.    
   Porque já tiveram contato com o que mais se assemelha e lhes recorda a idéia de amor verdadeiro, o qual sua alma já conheceu, sua consciência sabe que existe e seus sentidos já provaram pequenos bocados, estas são as "inconformadas". Algumas até, podem seguir dóceis pela vida ou desistir dela, ou desligarem-se em algum grau da realidade que as cerca, mas, porque não conseguem desistir ou "esquecer" totalmente aquela "idéia" carregam consigo, lá no fundo, o anseio amoroso. Para as primeiras, estas outras que se demoram em desistir, que continuam como que apaixonadas por uma idéia parecem inquietas ou difíceis de contentar porque enquanto tem força, estão em busca de algo que, conquanto seja simples, não está mais ali, embora guardem a esperança de o encontrar. E o que não está mais ali pode ser simplesmente o consentimento e comprometimento do outro - uma vez que os tivessem recebido, seria possível a ambos tocarem novamente o céu, mesmo que por valiosos e rápidos instantes. Com o tempo, em alguns casos, estas últimas sentem-se murchar. Ambas ou uma delas pode se aquietar e para sempre adormecer em si, a idéia luminosa que outrora lhe fazia brilhar o olhar.  
   Muitas vezes, a mais dominadora e rígida sobrevive com a certeza de que sabe de todas as coisas e de que, graças a seu modo realista e materialista de agir é que a verdade do mundo  se constrói. Enquanto a outra, por vezes, acaba por conformar-se com sua própria loucura causada por aquele anseio amoroso que não encontra mais eco num mundo dito real. Entretanto, quem conheceu o amor jamais o esquece! E quanto mais o sentiu maior a falta que seus sentidos terão de tudo que era um reflexo dele.  Mesmo que ambos se adaptem, porque flexíveis são os seres humanos, a alma, inconseqüente, porque é amante da vida e não tem idade, pode então desejar criar nova idéia que não a deixe esquecer como é reavivar aquele sentimento. E, por sua teimosia em conformar-se, arrisca-se a confundir-se, e tentar até, talvez um dia, tocar o que no escuro é o piscar de um vagalume, pensando tratar-se da luz que conheceu!
Texto: Vera Alvarenga
Vídeo da Música com Fábio Junior - Foi tão bom.

Cozinhando para dois...Batata no Forno...

 Mesmo quem prefere por diferentes razões, almoçar fora de casa, há algumas coisas que faço questão de ter sempre no freezer e de vez em quando na geladeira. É muito bom para quando dá aquela vontade de uma comidinha caseira, temperada como só a gente sabe fazer e acima de tudo, leve, com bom azeite... e "prática"!
  Assim, hoje, como já tinha algumas folhas lavadas e reservadas para uma salada, e algumas fatias de salame e mussarella do lanche de ontem ( podia ser presunto), resolvi fazer a minha "Batata no forno". Tudo muito rápido, prático e saborosíssimo. Anotem a receita e experimentem:
Em primeiro lugar, já sabem, é sempre mais gostoso cozinhar com um copo de vinho ao lado e música se possível...
1. Coloque 2 ovos p/cozinhar. Enquanto cozinham...
2. Coloque pouca água com pitada de sal para ferver em uma panela e descasque 3 batatas médias. Corte-as em fatias. Ao terminar, ponha na água já quase fervendo e cozinhe...
3. Quando os ovos estiverem cozidos, descasque e amasse-os com um garfo. Reserve.
4. Coloque azeite numa travessa que vá ao forno,  monte as batatas, azeitonas pretas e verdes picadas,
orégano ( não pode faltar!), 4 fatias de salame rasgadas ( se for presunto pode colocar bem mais - o salame é forte! peito de frango defumado também fica bom), os ovos amassados, salpique pouquinho sal, espalhe 2 colheres do caldo escuro que está no vidro de azeitonas pretas( dá um sabor supimpa!), cubra com 4 ou mais fatias grandes de mussarella rasgadas e junte um fio generoso de azeite de oliva.
   Leve ao forno e, enquanto está lá...
   -  na mesma panela que você cozinhou a batata, frite 4 dentes de alho em um mínimo de ÓLEO, e depois junte azeite e os legumes pré cozidos ( couve-flor, brócoles, cenouras) que estavam em seu freezer e que você tinha colocado num escorredor e jogou água fervendo por cima ( escaldou). Salpique sal e pronto!
  Amigo/a, quando você terminar de fazer os legumes e arrumar as folhas de alfaces de diferentes tipos e rúcula numa travessa, pode temperar a salada com sal, azeite, limão ( acrescentar vinagre balsâmico é opcional). E leve rapidamente à mesa, porque a BATATA NO FORNO já está pronta e os legumes alho e azeite também. Nem precisa arroz! É uma refeição leve, completa, saborosíssima e rapidíssima!

   Tem um problema!! Como eu fiz com 3 batatas médias...rs... sobrou ( como sempre) e...como você não veio almoçar conosco... eu vou ter que fazer o "sacrifício" de comer no lanche à noite e so..zi..nha... porque meu marido é muito disciplinado e só toma o lanche dele à tarde, nada de comida. Assim, hoje que eu ia tomar só aquele copo de leite batido com uma fruta, para não engordar... hehehe... Mas, puxa vida, não é todo dia e, ninguém pode dizer que apesar da batata, esta refeição está pesada, com tanta salada e legumes!
   Experimente e depois me conte!
  Agora compreendem por que não faço comida todos os dias? Eu engordaria muito, pois cozinhar e comer é algo que faço por amor ou por prazer...hehehe...
  Ah! A SOBRA?? ... para quem não vai sair da dieta à noite, no dia seguinte, amasse a batata grosseiramente com o garfo e faça uma belíssima FRITADA, com 2 ovos batidos e cheiro verde! Acrescente saladas e está aí mais uma refeição leve e rápida!

Foto e texto: Vera Alvarenga.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O tempo traz, o tempo leva tudo!

   Era uma vez uma senhora quase bem velha, que já fora uma mulher e também uma jovem e antes disto, uma dócil menina. Menina já não era há muito tempo, mas desta ainda trazia em si o olhar curioso, a esperança de que as portas do mundo lhe fossem abertas um dia, e ela pudesse, sem medo, habitar nele. Da jovem, tinha certeza, vinha o inconformismo diante dos que, em grupo e por serem iguais, julgavam tudo o que não estava estabelecido e todo aquele que não caminhasse com igual passo carregando consigo iguais medidas para medir o mundo, como algo ou alguém que devesse ser rejeitado ou desconsiderado. Desde bem cedo aprenderam, a menina e a jovem, que era perigoso perguntar ou ousar ser diferente. Caminhavam, no entanto, sem atropelos a jovem e a menina, com a convicção dos que aceitam prontamente o que estivesse estabelecido, desde que se lhes fossem dados argumentos convincentes. Mas ambas guardavam sua docilidade e com olhos de esperança e deslumbramento olhavam o mundo ingenuamente. E se tornaram mulher.
   Sua docilidade transformou-se em mansidão, e submetia-se ao seu próprio desejo de agradar a quem amasse, mas jamais deixou de ser apaixonada e de viver por convicção - convicção de que haveria um significado maior para tanta coisa sem sentido. E a mulher apesar de mansa, e meiga ou suave, e acima de tudo crédula, persistente em seu desejo de crer que o mundo podia ser uma extensão de seu quintal, também podia ser forte, e corajosa e resistente. A mulher tinha fé e cada vez mais tornou-se decidida a ser leal à sua própria crença de que os significados estavam lá, mesmo que não pudessem ser a ela claramente revelados.
   Ela resistia como guardiã, aos reveses do tempo. Um dia, veio um vento forte e mais insistente que seus próprios argumentos, e finalmente quebrou as janelas, arrancou as cortinas e abriu as portas de sua casa. Parecia-lhe que nenhum canto mais podia ficar na penumbra. O vento era constante e a luz que entrava era dura, quase cegando-lhe a visão, a poeira voltava a sujar os cantos que, por sua também persistente mansidão ela ainda arrumava caprichosamente e com gosto. Sua casa ainda era o seu lugar de aconchego e ela nunca desistia de conservá-la de modo a afastar os bichos ou sujeira que vinham pelos portões abertos do mundo. E foram assim envelhecendo, numa missão que ela pensava fosse de maior amor, embora já não cantassem mais de alegre inocência, aquelas que em si ainda eram a jovem e a menina de outrora. Ela tornou-se tristonha e cansada, sem ânimo para seus antigos ou novos projetos. Nos espelhos de sua casa, já não se reconhecia. O cansaço que tomou conta de si e não era físico, embora depois sim, deixou-a confusa. Todas elas, a menina, a jovem, a mulher e a que envelhecia estavam exaustas, exauridas de sua antiga força que antes as sustentavam a todas, numa estrutura coesa e íntegra. Ela já não era mais um todo. Estava aos pedaços. Talvez porque sua capacidade de amar tivesse sido comprovada, mas o argumento, o significado que antes a mantinham em pé, tivessem se diluído. E ela se diluía com eles. Confusa. Não havia explicação racional para o que ocorria.
  Mais uma vez o tempo trouxe o vento. E este veio do norte e, como brisa lhe refrescou a pele. Desta vez, lhe trazia o cheiro da grama e de pétalas de flores junto com as últimas folhas do outono e do inverno que findavam. A luz do sol era dourada e agradável. Tudo parecia renascer em sua alma e no seu quintal. E ela ouvia o canto de pássaros.
  A velha lembrou-se que um amigo, certa vez, dissera que o tempo leva tudo. Inconformada e sabendo que haviam coisas, como o amor que aconchegara no peito por quase toda uma vida e à toda prova, que o vento não levava, não quis aceitar.... Tal argumento era para os que não tinham, talvez, a sua persistência e a sua fé. Foi o que ela pensou naquele momento em que, ao mesmo tempo que tinha total conhecimento do amor maduro comprovado e já indelevelmente marcado em seu coração, tinha também e ao mesmo tempo o desejo de realização de si mesma e de um sonho que agora, era o seu. E esta realização,desta vez, não viria principalmente através do amor que era capaz de dentro de si mesma para um outro e para sustentá-la, mas viria também, como um presente e surpresa já não esperada, de fora, de um outro para si. Era como se a Primavera que se atrasara, tivesse chegado enfim, com aquele vento brando à sua janela. A Primavera estendia-lhe os braços ofertando-lhe o mais belo ramalhete de coloridas e perfumadas flores. Devia ser um milagre! E seriam bem vindos, este e a Primavera, mesmo fora do tempo.
   Ah, o tempo! Mas o tempo leva tudo! E a senhora, a desta história, enfim envelheceu levando consigo o amor dentro do peito, aquele que foi o argumento que a sustentou por tanto tempo e, ao lado deste, agora, o sonho, aquele que tinha parecido trazer em si finalmente, toda a possibilidade, todo o significado....
 foto e texto: Vera Alvarenga
          

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fazendo um Borboletário...

 Às vezes penso que tenho um parafuso a menos.
Talvez este pouco de loucura, constante deslumbramento, é o que me salva da sensação de tédio da qual muito ouço falar, e/ou da minha própria sensibilidade que me traz por vezes, outra sensação - a de inadequação minha, ou de inconformismo perante algumas coisas.
   Mas enfim, como se não tivesse nada mais importante a fazer, lá estava eu, desde domingo, envolvida com "o fazer"  um BORBOLETÁRIO para os netinhos. O último que fiz foi para meus filhos, há muito e muito tempo.
Mas quem mandou aquela lagarta atravessar bem no meu caminho?
Assim, ao sair para a caminhada domingo, já catei uma caixa deixada na calçada por um bebedor de vinho( uma de minhas bebidas prediletas), já comprei um vasinho de mini palmeirinha ( alimento predileto das lagartas) e comecei a instalar (furar) ar condicionado na casa das Borboletas. Depois, foi só encontrar tinta que não tivesse endurecida por falta de uso, recortar as janelas, esperar 2ª feira para comprar a "transparência" que tamparia aberturas. Recortar algumas figuras de borboletas, foi fácil.
Difícil mesmo foi encontrar as taturanas, e saí à caça. Até o zelador do prédio se entusiasmou e encontrou uma ( afinal é Primavera!). O marido outra. Ao todo, 2 casulos prontos e 3 lagartas. Daria pro gasto.
Na hora de levar à casa dos netos, para surpresa minha, uma das lagartas havia desaparecido! Só restara a cabeça. Acabara de transformar-se em casulo, liso, brilhante, lindo. Foi muito rápido! Quando olhei, uma das pontas ainda se movia. Simples e incrível a natureza. Confesso que me divirto e sinto um prazer singelo mas consistente, com estas minhas pequenas loucuras. Elas me lembram que o milagre da vida é muito mais significante do que muitas vezes, parece que é. E lá fui eu. Começo da noite. Uma preguiça só, mas não podia deixar de levar pra eles. Meia hora depois, cheguei. Expliquei a tal "Experiência Científica de Observação" na qual eles teriam a oportunidade de ver as lagartas rastejantes transformarem-se em seres alados maravilhosos e também aprender a ter paciência pois, não se pode ajudar borboletas a saírem do casulo, sob pena de matá-las. É preciso respeitar o tempo de cada ser.
E então, voltei para casa. Pronto, estava terminado. Se o gato não empurrar a caixa para o chão, talvez eles possam ver um dos milagres da Natureza ocorrer em frente a seus olhos.
E, apesar de toda a ciência, internet, comunicação rápida e tecnologia, as borboletas ainda nascem dos casulos, da mesma forma que há muitos anos atrás.... o que nos lembra que a vida naturalmente bela e significativa tem um ritmo próprio, não este que a loucura massificante nos quer impor.

Texto e fotos: Vera Alvarenga.

  

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