sábado, 25 de agosto de 2012

Eu conto...nós contamos!

Que alegria ter este livro nas mãos...folhear, tocar, ler o nosso conto ali entre outros.
Foi ano passado quando eu ainda morava em Votorantim e me inscrevi para este 2º Prêmio Jornal Cruzeiro do Sul de Literatura - Contos. Me lembro que foi com imensa alegria que recebi o telefonema de uma funcionária daquele jornal que queria conversar com um dos escritores selecionados - eu!  Eu mesma? Sim, era eu!
Nos mudamos para São Paulo este ano enquanto o livro estava sendo editado e ontem, era a noite de lançamento. Finalmente a noite esperada por todos nós.
   Por mais que sejamos tímidos ou introspectivos (como eu), ou humildes e modestos, nosso ego é grande parte do que somos sim, e ficamos felizes em sermos "um" entre 20 selecionados, dentre tantos inscritos de várias cidades participantes. O orgulho, a vaidade surgem como quando nos orgulhamos de um filho/a ou alguém que a gente ama e este/a obtém sucesso, seu trabalho sendo reconhecido por outros. Assim foi com cada um de nós ali (suponho)- todos felizes por sermos reconhecidos. E, no meu caso, vem também um sentimento de gratidão pela minha sorte porque graças à sensibilidade de quem, na comissão julgadora, deixou-se sensibilizar e emocionar pelo que escrevi, fui uma das escolhidas. É uma pequena, mas muito importante realização pessoal. Sou grata ao Jornal Cruzeiro do Sul, à Fundação Ubaldino do Amaral e aos organizadores do concurso por esta oportunidade, e muito também ao consultor editorial deste jornal, José Carlos Fineis que nos acompanhou em todo este processo, sempre com sua atenção e gentileza, além da decisão de fazer tudo acontecer.
 Meu marido foi levar-me de carro até Sorocaba, na sede da Fundação e do Jornal onde o evento estava agendado para início às 20 hs. Considerando 1 h. de estrada mais o tempo para chegarmos ao início da rodovia, ainda saímos com pelo menos 30 minutos de adiantamento( portanto com 2 hs.de antecedência). Chegaríamos uns minutos mais cedo, tudo bem! Mas São Paulo...Ah! Trânsito maluco este! nos pregou uma peça.
Ficamos 2 horas...sim, 2 horas na marginal de Pinheiros apenas para andarmos 14 km. até o início da Castelo Branco!! Isto porque, devido ao horário, pensamos que estaríamos no sentido em que o movimento deveria estar bem menor! Assim, chegamos lá com a cerimônia já acontecida! mas ainda em tempo de conhecer alguns dos colegas escritores selecionados que não tinham ido embora e para quem entreguei de presente o livro de poesias que eu e meu marido Cesar editamos. Deu tempo sim de fazer alguns agradecimentos, inclusive ao Fineis que está aí na foto, e de comer alguns deliciosos salgadinhos que ali estavam sendo servidos. Foi muito bom para o ego, para o coração, para a auto-estima e para servir de incentivo. O que a gente que gosta de escrever mais deseja é que nossos escritos sejam compartilhados, e com sorte, que possam emocionar, fazer refletir ou que alguém reconheça suas próprias emoções ou vivências naquilo que escrevemos. É um modo de sentirmos que não estamos sós na nossa humanidade, apesar de sabermos que cada um de nós é  "um ser único e peculiar", desejando ser reconhecido por alguém, no meio da multidão, pelo que somos.
Um brinde às nossas realizações que nos permitem o incentivo para desejarmos ser melhores no que nos propomos fazer. Tchin..Tchin ! Viva!  

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Corrupião....

 Com o tempo, apegara-se a ele. E tudo nele a agradava. Foi um gostar aos poucos. Cada um se aproximando devagar, com cuidado para não ferir ao outro, não assustar, não invadir o espaço.
 Ela tinha sentido medo. Talvez porque adivinhasse o que estava por vir.
  De vez em quando, podia senti-lo perto de si, mas ele não se deixava ver. Saía antes que ela tivesse tempo para ver a luz do sol entrar pela janela ou, quem sabe, nem estivera de fato ali, mas apenas dentro de seu coração. Por isto o sentia ainda tão próximo a si.
  Quem sabe o assustara naquele dia, ao abrir a janela tão impetuosamente, alegre com sua já habitual presença, desejando olhar nos seus olhos e compartilhar com ele o que tinha nos seus. Quem sabe, foi porque começara de novo a soltar a voz, incentivada por ele, pensando que ainda sabia cantar. Ou quem sabe aproximara-se demais, quisera tocar no que era intocável. E ele estaria bem? Algum menino cruel teria lhe tirado a vida com uma pedra lançada de um antiquado estilingue de mira certeira? Estaria preso em algum lugar distante?
  Se ele voltasse, ela não saberia mais como se aproximar. Teria de ter mais cautela, ser mais cuidadosa do que já era? Isto, então, lhe tiraria a alegria que tinha pensado ser possível. Ocorreu-lhe, pela primeira vez, que apesar de tanto em comum, o mundo deles talvez  fosse demasiadamente diferente. E que a união de dois mundos só valeria a pena se houvesse igualdade no desejo de fazer o outro tão feliz quanto a si mesmo - duas aves livres a aninhar-se juntas num imenso viveiro com portas abertas.  Era preciso ter a mesma natureza. Isto, a vida lhe ensinara. Então, apesar da saudade, agora, tudo estava em paz. Ela nada mais queria ser,do que era, e nada mais queria ter, do que já tinha. Nada mais desejava... a não ser, talvez, ouvir seu canto novamente, só para saber que ele vinha porque queria cantar para ela... e então, por sua natureza, talvez ela ficasse calada e encantada, ao sentir o coração iluminar-se outra vez...
Foto e texto: Vera Alvarenga.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Estruturas de apoio...

    Hoje tive de ficar desde às 8:30hs. até às 17hs. em um local ligeiramente distante de minha residência, para exame – medir em diferentes horários a pressão nos olhos. Bem, como tinha de acordar muito cedo pois teria de sair de casa às 7hs., preparei minhas coisas na noite anterior, deixando bolsa, roupa para o caso de esfriar, livro, texto para corrigir, enfim, tudo à mão, inclusive um “dinheiro para algum extra”, mania de gente que tem intuições e é prevenida, como eu. Levantar antes das 8:30, para mim, é muito cedo. Não marco nada para este horário, a menos que seja por motivo urgente ou saúde.
Meu marido combinou levar-me, pois não estou habituada a dirigir em São Paulo, longe dos bairros que conheço. Se por anos o apoiei para muitas coisas, ele hoje me retribui, me “choferando” para o essencial, como se diz, “uma mão lava a outra”. Fez-me companhia por um tempo até o almoço – levei palavras cruzadas para ele, demos uma volta no quarteirão daquele bairro bonito, alto e perigoso ( segundo uma das técnicas do exame – “Se a sra. for andar por aí a pé sozinha, pra fazer hora, melhor não levar bolsa!” – Fui, assim mesmo, porque estávamos juntos, eu e ele). Depois,foi pra casa  descansar e voltaria para buscar-me após às 17hs.
   Hoje, por mais de uma vez pensei:- “Ele me dá estrutura”. Foi ele também que me acordou, bem cedo. Uma vez, um amigo disse-me isto sobre sua esposa, que ela lhe dava estrutura. Achei bonito que ele reconhecesse. Acho que é comum, pessoas que se amam, que convivem em estreita relação, darem-se apoio, de modos diferentes.
   Todo um programa tinha sido feito- ele ia pegar os netos em casa deles no final da tarde, os três iam me buscar e ficaríamos com as crianças por algum tempo. Contudo, sentiu-se febril, corpo mole, início de gripe. Acabou tirando um cochilo necessário e os planos mudaram. Ao ligar para saber dele, meu filho contou-me que ia mandar buscar-me de taxi, já que o pai não estava muito bem. Fazia questão de pagar o motorista. – “Não precisa filho. Trouxe dinheiro comigo”, disse eu, com orgulho da minha fiel intuição! A vida tem destas coisas em dias corriqueiros, mudanças de planos, surpresas. Mas, existe taxi pra quê, não é mesmo? E intuição? Quando nossas costumeiras estruturas de apoio são retiradas, o que sobra é mesmo o que temos - nosso próprio esqueleto e o do taxista, é claro. Será que alguém ainda crê que vive independente de outros?  E a gente segue, tudo ok! a gente vê que pode se virar.
   Contudo, a minha maior surpresa foi, depois de anos sem tomar taxi e tendo que enfrentar o trânsito na marginal, no horário próximo das 18 hs., ver que o taxímetro corria muito mais do que o carro e já marcava R$ 61,00! E o pior, quase chegando ver que não havia dinheiro suficiente em minha bolsa! Que desagradável surpresa! eu esquecera o dinheiro “extra”provavelmente separadinho, mas em outro local. Enquanto aguardava meu marido finalmente decidir-se atender o interfone, já que ao celular não respondia, e descer para pagar o motorista, após intermináveis minutos de espera, o taxímetro já ia para quase R$ 70,00! (como é caro e demorado locomover-se em São Paulo, uma das cidades mais movimentadas do mundo, não é?).
    E como tudo é aprendizado, foi fácil perceber como nos descuidamos, todos e cada um de nós à sua maneira, quando estamos habituados a contar com estruturas de apoio( e sorte nossa quando as temos! e quando compreendemos que é melhor e natural que existam, e que por elas devemos ser gratos ). No mais, agora é certificar-me de nunca sair sem recontar o dinheiro para o taxi, nem que seja para escondê-lo na roupa íntima, à exemplo dos políticos desonestos... só que no meu caso, seria por pura precaução e segurança pessoal...
Foto Google images
Crônica; Vera Alvarenga

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Emoção e medo, no julgamento da Ação Penal 470

Acabo de assistir a uma parte da denúncia feita pelo Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, ao Superior Tribunal Federal, para o julgamento da Ação Penal 470 ( Mensalão).
   Uma denúncia que começou a ser feita desde março de 2006. Era preciso provas e investigação. Entre as acusações estão crimes de formação de Quadrilha,Corrupção, roubo e desvio de dinheiro... do nosso dinheiro, do dinheiro público que é arrecadado entre os cidadãos de bem que ainda querem viver sob a tutela da Justiça/Lei, e obedecendo a ela, dinheiro que deveria ser reinvestido para o bem do povo, do cidadão deste país! Crimes, devo lembrar, como qualquer outro quando uma quadrilha assalta um banco, ou um bandido, a nossa casa. Só que, muitos destes de que falo agora, tem "imunidade" parlamentar( o que minha ignorância não permite compreender!) Só que esta quadrilha, em tão pouco tempo, roubou mais de 1 bilhão de dólares! Só que há, infelizmente me parece, algo como uma quadrilha a proteger outra, como mafiosos, neste meio político, em que a impunidade começou a prosperar - porque então, não há mais limites, nem medo das consequências e para eles, apenas o céu é o limite!
   Hoje, este procurador Roberto Gurgel apresentou as provas, a denúncia e pediu a condenação de 36 dos envolvidos.

   Enquanto tantos de nós clamamos por uma igualdade impossível ( que familiares de políticos estudassem nas mesmas escolas que os nossos, que fossem tratados nos mesmos hospitais) e isto anda deixando o povo doente, porque desesperançado e triste, que pelo menos, nossa esperança possa recair, sem medo, na JUSTIÇA! Para que ELA possa devolver um pouco da dignidade ao povo enganado.
   Impossível não ficar emocionada, e com medo, neste momento tão importante e às vésperas de um julgamento que terá repercussão de tão grande alcance. Porque, o resultado deste julgamento, na minha opinião, alcançará cada um dos lares de nosso povo. O Superior Tribunal Federal deve ser respeitado por nós,por cada um dos cidadãos comuns e por todos os poderes, porque representa nosso interesse pela Justiça em seu mais alto nível! Em suas mãos está agora o poder de dar um passo decisivo para o início da moralização dos atos criminosos de políticos e governantes deste país, e de acabar com a impunidade dos que detém algum tipo de poder nas esferas políticas, o que vinha servindo de estímulo para todo tipo de crimes em qualquer outro nível, e por consequência, vinha tirando o sossego e a paz de todo cidadão de bem, cumpridor de leis que se sentia cada vez mais acuado diante de tanta barbaridade cometida contra as pessoas, as famílias brasileiras.
   É sabido que nós, o povo, somos roubados, agredidos e usurpados em nossos direitos à boa saúde, excelente educação e tantos outros direitos e recursos que nos chegariam se, tantos crimes e roubos não estivessem a ser cometidos impunemente, primeiros nas mais altas esferas e depois pelos bandidos menores, mas nem por isto menos perigosos. A chantagem, a impunidade e a corrupção precisam acabar, se queremos poder ter esperanças. E é esta uma importante ocasião para uma medida exemplar o que abrirá portas para um crescimento e desenvolvimento maior do nosso país, de todos nós. Pensemos quanto dinheiro é desviado dos hospitais, de escolas, do esporte, etc, para os bolsos, cuecas e contas no exterior, de poucos! Melhor começar de cima, lembrando que esta correção servirá de exemplo.
   É preciso que a Justiça não se deixe intimidar, não se desvie de seu nobre caminho e intento de viver para o que foi criada -  proteger o cidadão de bem que respeita a lei, em seu direito de viver em paz, segurança e igualdade. Este mesmo cidadão que dia a dia, já vem há tempo perdendo esperança, e se intimida diante de crimes e atos desrespeitosos praticados pelos que deveriam trabalhar para o bem deste cidadão. E, em consequência disto, a corrupção se alastrou em todos os órgãos, até na polícia, e em todos os níveis, de uma forma tão assustadora, que já não conseguimos dormir em paz, com tanta violência. Deus, estamos sozinhos? Precisamos da Justiça, com sua espada e sua honra!
   Abaixo da venda que cobre seus olhos para impedí-la de desviar seu julgamento do que é justo e correto, abaixo da venda que tem nos olhos para que seja sempre imparcial, que a Justiça tenha o dom da visão da águia, que pode ver muito à frente, para pesar em sua balança as consequências de seu julgamento neste caso! Hoje, ainda são os que tem o poder político, que roubam bens e direitos impunemente, amanhã serão, talvez qualquer quadrilha que tenha armas e saiba impor a violência.
   Que as mentes dos magistrados, e seus corações sejam iluminados, que seu discernimento mantenha-se claro, seu julgamento firme e justo, sua moral e espírito íntegros! Que não olvidem jamais que todos nós, toda a nação, cada uma das crianças desta nossa pátria, desejam ter a esperança de dias melhores, com deveres, direitos, segurança, saúde, alegria e paz!
   Deus os abençõe!
Foto: retirada do Google
Texto: Vera Alvarenga      
  

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Narciso...e seu amor.

 Atrás de si ela pode ouvir os comentários:
-  Ela se comporta como Narciso!
   Nem tudo era sempre como parece ser, pensou. E seguiu calmamente para um canto do lago. Ali, não veriam que estava ferida e mancava. Nadando podia relaxar, sentir-se leve novamente.
- Por que ela se afasta? Na certa julga-se melhor do que nós.
   Não era verdade. Ela não sabia como ser outra coisa - não era uma pata, marreco ou ganso - era um cisne, nem grande nem pequena, em nada diferente dos demais de sua espécie. Nada tinha de especial para se destacar e nem o pretendia, e na verdade precisava ficar um tanto solitária para se recuperar. Ao olhar mais uma vez para seu reflexo na água, disse para si mesma:
   Quando olho para mim, nem sempre é apenas para procurar o que sou, ou a melhor parte de mim - os meus sonhos - nem mesmo o melhor de meus sentimentos. E certamente não é para admirar minha imagem. Se não o encontro em lugar algum, se não o vejo mais em nenhum lugar deste lago, olhar para dentro de mim é a única forma de voltar a encontrá-lo, pois é em meu coração que ele está guardado.

Texto e foto : Vera Alvarenga



domingo, 22 de julho de 2012

Levando tombos...

   No inverno, e quando se mora em apartamento, é preciso sair um pouco para caminhar e melhor, quando se pode aquecer ao sol. É o que fazemos aos domingos. Claro que preferiria ir ao Parque Ibirapuera, caminhar entre as árvores, ao lado do lago... mas, é tão difícil estacionar por lá, então, uma grande volta no quarteirão já tá de bom tamanho.
  No caminho da volta, a rua é toda arborizada. Agradável de se andar nela, não na calçada, que a cada laje de concreto de um metro há duas canaletas de uns 15 cm., uma próxima da outra, que atrapalham bastante o caminhar. É necessário andar olhando para o chão para não se torcer o pé. Sabendo disto, costumo ser atenta.
  Geralmente venho pela rua e só entro na calçada quando a rua se estreita por conta dos carros estacionados. Hoje, me distraí. Vinha vindo tranquila, com minha câmera pendurada no ombro enquanto um lindo cão preto vinha do outro lado da rua e eu, por um segundo olhei para ele. Já tinha dado uma daquelas espiadas rápidas para reconhecer o terreno à frente, já tinha visto que havia uma placa de cimento um pouco levantada, mas não imaginava que logo após havia uma canaleta sem terra, buraco no qual a ponta do meu tênis enfiou-se, prendeu-se e me levou ao desequilíbrio, em seguida, ao chão.
  Tive consciência de que num milésimo de segundo estaria estatelada na calçada, mesmo assim, deu tempo de puxar a câmera fotográfica tentando protegê-la, depois, mãos para frente e plunft ! Já era. Lá estava eu com dor nos joelhos e mãos, esparramada na calçada.
  Recebi pronta ajuda de quem estava comigo- a mão estendida para me ajudar a levantar. Que bom!
  - Detesto andar nesta calçada com todos estes buracos! Desabafar me fez bem, naquela situação.
  - Mas aqui não tem nada, foi falta de atenção! Ouvir isto me fez mal.
  - Claro que tem, olha ali onde enfiei meu pé! Meu tênis com a ponta esfolada também comprovava. Pronto, lá estava eu sentada na calçada, tentando explicar. Queria que ele tivesse conseguido ficar calado, embora não tivesse sido o culpado do meu tombo. Por que há pessoas que nos chamam a atenção quando a gente ainda está estatelada no chão?
  - Ela está bem? A mulher na calçada em frente lhe perguntou. E, simpática, olhando pra mim : - Você se machucou? Ah! que frase maravilhosa de se ouvir numa situação daquelas.
  - Não, obrigada. Só o susto. E é desagradável cair na rua, não é? Sorrimos, uma para a outra.
  Claro, é desagradável cair em qualquer lugar, mas em público e numa calçada áspera, mais ainda.
  O homem com o cachorro, andando mais depressa, já ia longe a cuidar da própria vida.
  Interrompi os resmungos do meu companheiro de caminhada. Sim, eu sabia que tinha sido culpa de minha falta de atenção, embora nem estivesse tão distraída assim buscando o que fotografar, como ele dissera. Apenas não queria ficar olhando sempre para o chão!
 - Por que você não me perguntou se eu me machuquei?
 - Porque eu me assustei!
 Eu também tinha me assustado! Então, éramos dois. Contudo, fora joelhos e mão ralados, roupa, câmera e tudo o mais estavam bem. Maravilha, não torci o pé. Apesar do tombo, tive sorte.
 Lembrei de quando uma criança cai ao nosso lado e a gente logo vai atender, e para sermos solidárias, brigamos com a porcaria da calçada que a fez cair! Cumplicidade faz bem. Logo depois a gente ensina que é preciso mais cuidado. Bom ser criança... Mas, talvez, quando o susto é grande, por vezes a gente acabe por querer ensinar o outro a se proteger, naquele exato momento em que bastava o apoio... sei lá. Isto não é necessariamente falta de carinho. Acho que depende do momento, e depende de cada um.
  Interessante perceber o que fazemos quando nos assustamos e não temos tempo para pensar.
  E interessante lembrar que, mesmo sendo adultos, quando menos esperamos, podemos cair no chão, na calçada, da pose. Melhor na calçada do que por uma rasteira na vida. E sempre se aprende... se você quer fotografar, se distrair ou levantar a cabeça em sua caminhada, vá em seu ritmo, com cuidado, devagar... e se cair, o jeito é levantar, sacudir a poeira e seguir em frente. 
Texto: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google.
  

sábado, 7 de julho de 2012

Hábitos ...

  Um barulho qualquer o acordou. Não aquele tipo de barulho que por anos e anos ouvira logo cedo. Sua rotina havia mudado, e muito. E nesta manhã estava num hotel, numa cidade pequena, mais uma vez, apenas de passagem.
De qualquer modo, ao abrir os olhos, deslumbrou-se.
Havia uma pequenina fresta na janela. Alguém a esquecera de fechar, o que lhe passara desapercebido na noite anterior, quando chegara bastante cansado. Ele, há anos, estava acostumado com o ar condicionado dos hotéis e as pesadas cortinas que tudo escurecem. Ali, a cortina  era leve e, entreaberta, deixava passar a luz que já furtivamente entrava.
Como uma fenda num vestido de mulher, que deixava a beleza apenas insinuar-se com seus mistérios, o que passava pela fresta era apenas um feixe de luz, mas iluminava de dourado o espaço, deixando antever a promessa do outro lado. Música silenciosa, a luz fazia dançarem partículas infinitamente minúsculas de poeira, como se elas pudessem conter energia própria, como se fossem seres iluminados. Aquela imagem lhe trazia lembranças antigas, de um tempo por demais longínquo, no qual a simplicidade de certos hábitos   inundavam de alegria ingênua vida. Fechou os olhos. Foi bom lembrar. A sensação era boa. Abriu-os, e em seguida, levantou-se.
Foi à janela. Escancarou-a num só gesto, como quem quer desvendar segredos ou possuir toda a luz. Mais que penetrá-la, queria absorvê-la, tê-la dentro de si, preencher com ela o espaço vazio. Sentia-se estranhamente leve como aquelas partículas douradas recém vistas. Lembrou-se de uma amiga que uma vez lhe falou sobre esta leveza, que ela mesma sentia ao deparar-se com a luz, pela manhã, em sua janela. Sorriu. Lá fora, tudo estava aceso e parecia convidá-lo a sorrir.
Durante o rápido banho, lembrou-se daquela mulher que se apaixonara por ele. Na ocasião confessou-lhe que sentia-se leve a ponto de quase voar, quando ele a chamava pelas manhãs para conversarem. Ela o havia comparado a um raio de sol.
Ah, mulheres... São doces, quando apaixonadas! Delicadas e frágeis. Muitas vezes, tolamente ingênuas, excessivamente românticas. Dizem que depois de amar sentem-se flutuar. E gostam disto. Talvez por isto façam do amor algo que se mistura facilmente ao sexo, aos gestos, ao desejo de entrega. Ele, gostava de manter pés firmes no chão.
Algumas lembranças o acompanharam durante o banho. Não teve tanta pressa como era habitual. Deu-se conta que agora, era dono de seu tempo. Sorriu.  Ao sair, o leve perfume do sabonete estava entranhado na pele. Não gostava de perfume, isto era algo que apreciava sentir numa mulher e, claro, na proporção certa. Contudo, este não era excessivo, sairia logo, tudo bem. Colocou sua loção preferida, quase sem cheiro, que sempre levava em viagem, para suavizar a pele após fazer a barba cerrada. Homem tinha de ter cheiro, não perfume. Num instante, já descia com sua pasta para o café e em seguida sairia para o que tinha de ser feito. Sentia-se, no entanto, mais vivo e melhor que nos últimos dias. Isto inspirou-lhe uma idéia.
No corredor, ao cruzar com outro empresário, hóspede como ele, deu-se conta de uma sutil diferença no próprio andar. Que era aquilo? Estava leve demais! A isto não estava habituado e por certo, não lhe cairia bem... Pigarreou. Franziu a testa, pegou o celular para tratar de algum assunto importante. Qual seria? Não importa...encontraria um. Apressou então o passo, e pisou mais firme no chão, como de costume.

Texto: Vera Alvarenga
Foto retirada do Google imagens
  

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